Influência do cultivo de tainhas (mugil platanus) e camarões (litopenaeus vannamei) sobre o desenvolvimento de comunidades perifiticas em substrato artificial, no extremo sul do Brasil (Rio Grande, RS)

Neves, Luis Fernando de Matos

Abstract:

Entende-se por perifiton a complexa comunidade de bactérias, fungos, algas, animais e detritos orgânicos e inorgânicos que vivem sobre substratos submersos. O perifiton pode dar expressiva contribuição na dieta de organismos aquáticos cultivados, além de proporcionar a melhoria das condições ambientais. O objetivo deste trabalho foi estudar o desenvolvimento do perifiton em nove viveiros de aqüicultura. Os experimentos foram realizados junto a uma enseada protegida da Lagoa dos Patos, denominada, Saco do Justino, localizada no município do Rio Grande, RS. Foram instaladas telas de polietileno de 1,0 mm de malha (10 cm2), fixadas em hastes de bambu, a 20 cm de profundidade, em nove viveiros de aproximadamente 200 m² cada. Três viveiros foram povoados com 0,66 tainhas Mugil platanus por m², três com 10,0 camarões Litopenaeus vannamei por m² e três com policultivo das duas espécies, respeitando-se a mesma densidade do monocultivo. A parte litoral da enseada do estuário, de onde se coleta a água que abastece os viveiros, foi utilizada como controle. Em todas as unidades experimentais foram mantidas 20 telas em contato com os organismos em cultivo e 20 telas foram protegidos com cercos de 1,0 m² de tela de polietileno de 1,0 mm de malha, armados com bambus. O experimento foi realizado no verão entre os meses de dezembro de 2007 e fevereiro de 2008, totalizando 76 dias. Diariamente foi medido pH (média de 8,1), salinidade (média 5,54), temperatura (média 24,56ºC), oxigênio dissolvido (média de 6,1 mg/L) e saturado (média de 81,0%), além da transparência do disco de Secchi (média de 63,4 cm). Quinzenalmente foram coletadas amostras de água para determinação dos teores de nitrogênio total (máximo de 2,36μg/L no cultivo de camarão e mínimo na lagoa com 0,147μg/L) e fósforo total na coluna d’água (máximo de 0,5μg/L no policultivo e mínimo de 0,09μg/L no cultivo de camarão). Nos primeiros 15 dias as telas de polietileno foram retiradas em intervalos de 72 h e no restante do experimento em intervalos de 120 h, para a análise quali-quantitativa da comunidade perifitica, bem como do teor de clorofila-a. Para esta última análise, foi selecionada uma amostragem (54 dias) em que o valor de clorofila-a foi significativamente maior (p< 0,05) sem predação do que sob predação para o cultivo de camarão. Não houve diferença significativa (p>0,05) para os cultivos de tainha e policultivo, e na lagoa houve diferença significativa (p<0,05), porém sendo a clorofila-a maior sob predação do que sem predação. As análises qualiquantitativas mostraram que o perifíton está composto pelos seguintes grupos: Cianobactérias (filamentosas e cocóides), Diatomáceas em cadeia, Diatomáceas penadas (pequenas, médias e grandes), Diatomáceas Cêntricas, Dinoflagelados, Ciliados, Nematódeos, Scenedesmus, Enteromorpha e demais clorofíceas. Embora as análises quali-quantitativas tenham indicado que não houve influência significativa dos organismos cultivados sobre a comunidade perifitica, houve evidências do aumento da abundância relativa de alguns grupos em resposta a disponibilidade de nicho ocasionada pelo consumo de outros. Também se verificou que nos substratos expostos à predação havia menor densidade de algas filamentosas (principalmente Enteromorpha spp), ao contrário das telas protegidas, indicando consumo seletivo sobre o perifiton, por parte dos organismos cultivados (camarões e tainhas). As análises de nitrogênio e fósforo total evidenciaram que não houve diferenças significativas entre os tratamentos e a Lagoa, porém houve uma diminuição em suas concentrações no decorrer do experimento.

Description:

Dissertação (mestrado)-Universidade Federal do Rio Grande, Programa de Pós-Graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Instituto de Ciências Biológicas, 2009.

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