Efeito de hormônios esteróides gonadais sobre o estresse oxidativo, o comportamento e parâmetros sanguíneos em fêmeas jovens, adultas e idosas da espécie Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769) (Mammalia: Rodentia)

Abstract

O envelhecimento pode ser considerado como uma síndrome de mudanças progressivas, muitas vezes deletérias e irreversíveis, que ocorrem ao longo do desenvolvimento ontogenético do organismo e culmina na fase denominada velhice, que precede a morte. Durante esse processo ocorrem mudanças significativas no sistema nervoso central, onde se pode detectar uma redução no número de neurônios, alterações na resposta e nos mecanismos de regulação de muitos sistemas hormonais e principalmente a redução no número de conexões sinápticas. Muitos trabalhos vêm reforçando a teoria do envelhecimento por acúmulo de dano oxidativo nas células. Espécies reativas de oxigênio (ERO) são espécies químicas, normalmente formadas no metabolismo oxidativo e capazes de danificar diferentes tipos de biomoléculas. Para minimizar o dano potencial, a célula utiliza defesas antioxidantes enzimáticas e não enzimáticas. Um exemplo dessas últimas é os estrógenos, substâncias capazes de detoxificar as ERO, protegendo a célula de possíveis danos, além de atuarem de diversas formas no sistema nervoso central. Uma vez que a redução na produção de estrógenos é característica do processo de envelhecimento das fêmeas da maioria dos mamíferos, o objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos da falta desse hormônio, da reposição simples (estrógeno) e da reposição combinada (estrógeno + progestágeno) sobre o comportamento e a memória, parâmetros sanguíneos e de estresse oxidativo em fêmeas jovens, adultas e idosas. Os resultados obtidos sob essas condições experimentais sugerem que: 1) a reposição combinada prejudica a memória para tarefas aversivas em fêmeas jovens e idosas e também prejudica o desempenho dos animais jovens na avaliação da memória espacial; 2) a reposição simples reduz o desempenho dos animais idosos na avaliação da memória espacial; 3) a reposição hormonal reduz a atividade locomotora de fêmeas adultas e idosas quando comparadas às jovens, mas também diminui o dano oxidativo no córtex das fêmeas jovens; 4) para as fêmeas adultas, a ausência dos hormônios gonadais aumenta o dano oxidativo no hipocampo; 5) a reposição combinada aumenta a concentração de ERO no córtex de ratas jovens enquanto que a reposição combinada tem a mesma ação no hipocampo; 6) a ausência de hormônios gonadais reduz a capacidade antioxidante no córtex de ratas jovens e no hipocampo de fêmeas adultas, enquanto que a reposição combinada tem o mesmo efeito no córtex dos animais idosos; 7) A reposição combinada aumenta os níveis séricos de glicose, colesterol total, triglicerídeos e lipídios de baixa densidade (LDL), além de reduzir os níveis de lipídios de alta densidade (HDL) circulantes. Esses resultados sugerem que os hormônios gonadais têm uma ampla ação, atuando no sistema nervoso sobre o comportamento, a memória e os níveis de estresse oxidativo no cérebro e afetando também diversos parâmetros sanguíneos de fundamental importância na manutenção do funcionamento normal do organismo. Essa ação, no entanto, varia de acordo com a região cerebral estudada e, principalmente com a faixa etária na qual o animal se encontra, ou seja as respostas aos esteróides gonadais variam significativamente ao longo do desenvolvimento ontogenético.