Efeito de diferentes rações comerciais sobre a maturação gonadal de Palaemonetes argentinus Nobili, 1901 (Decapoda, Caridea, Palaemonidae)
Abstract:
Os crustáceos estão entre os animais aquáticos de maior importância comercial no mundo. Porém, dado ao seu pequeno tamanho, Palaemonetes argentinus não tem valor para fins de consumo. Todavia, e talvez ainda mais importante, desempenha significativo papel ecológico sustentando uma variada ictiofauna e avifauna. A espécie serve também como modelo para estudos de diversos aspectos da biologia dos camarões Palaemonideos. A informação disponível sobre os requerimentos nutricionais de camarões, assim como à influência da alimentação sobre a maturação gonadal, é escassa. A nutrição representa até 60% dos custos totais de produção de um cultivo. Tanto para nutrição humana, quanto para a animal, é importante estabelecer os requerimentos mínimos e tolerância máxima de um determinado elemento, a fim de assegurar um crescimento otimizado e manutenção da saúde. No presente trabalho estudou-se a influência de diversos nutrientes sobre a maturação gonadal de fêmeas de P. argentinus, a fim de estabelecer alguns dos requerimentos nutricionais, pouco conhecidos para camarões Palaemonideos. Para tanto, foram coletados exemplares deste espécime na porção do Canal de São Gonçalo em que se encontra a Balsa Santa Isabel, Lagoa dos Patos, latitude 31º50’ sul e longitude 52º25’oeste. A amostragem foi realizada com a utilização de rede de arrasto de fundo com malha de 5 mm entre nós, arrastada manualmente. Uma vez coletados, os exemplares de P. argentinus foram transportados imediatamente ao Laboratório de Zoofisiologia do Departamento de Ciências Fisiológicas da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, em baldes com água do local de coleta. No laboratório os espécimes foram aclimatados por 15 dias em tanques de 100 l., aeração contínua e filtro biológico, sob salinidade de 10 ‰, temperatura de 20 ± 2 º C, fotoperíodo de 12 h claro : 12 h escuro, alimentados ad libitum com ração peletizada, até a montagem dos grupos experimentais, quando então os animais foram separados em 3 grupos, cada um contendo 17 fêmeas imaturas e/ou em pré-vitelogênese, e 3 machos, mantidos em aquários de 3 l, sob as mesmas condições descritas anteriormente. Cada grupo recebeu um tipo diferente de ração (aqui denominadas A, B e C), todas peletizada, fornecidas a cada 2 (dois) dias, ad libitum, durante 2 meses. A Ração A (Kijaro Grow), desenvolvida para peixes ornamentais pela empresa A e P Aquarium System SDN, BHD, Malásia, contém os mais baixos valores protéicos, lipídicos e minerais entre as três rações, além de ter conteúdo mineral e vitamínico não divulgado pela empresa. A Ração B (Potimar 35) foi desenvolvida para camarões marinhos do gênero Penaeus, pela Guabi, Brasil; possui valores protéicos, lipídicos e minerais intermediários, porém apresenta a maior proporção Ca:P, além de conter as vitaminas A, E, C e D3, embora em quantidades inferiores a ração C, (Breed Shrimp) também desenvolvida para camarões marinhos do gênero Penaeus pela Inve, Bélgica, que possui valores protéicos, lipídicos, minerais e vitamínicos mais elevados que as demais. Ao longo do experimento, o desenvolvimento ovariano de cada fêmea foi acompanhado através de observações periódicas feitas com o auxílio de microscópio estereoscópio. A ocorrência de avanços foi registrada para posterior analise estatística. Embora o experimento tenha sido feito em duplicata, uma vez que as réplicas não mostraram diferenças significativas entre si os dados foram reunidos em um grupo único conforme a ração administrada. Os camarões submetidos à ração A demonstraram avanço mais lento na maturação gonadal, sendo observadas fêmeas em inicio de maturação (EM III) só a partir da 4º semana de experimento, e fêmeas maturas (EM IV) apenas na 5º observação. Não foi observada nenhuma postura de ovos (P) neste grupo e um grande número de fêmeas permaneceu em EM II (imaturas). As fêmeas alimentadas com a ração B foram as que mais cedo avançaram no processo de maturação, ocorrendo fêmeas em estágio III já na primeira semana de experimento e na 2º observação já surgem fêmeas maturas (EM IV). A partir da 5º observação verifica-se fêmeas fazendo postura de ovos, número este que cresce gradualmente nas observações seguintes, sendo este o grupo em que se registrou a maior ocorrência de fêmeas ovígeras. O grupo que recebeu ração C apresentou resultados intermediários comparado aos outros grupos. As fêmeas atingiram EM III a partir da 3º semana, chegando ao termino da maturação em 1 mês de experimento. Foi observada postura de ovos a partir 5º observação (similar ao grupo B), embora o número de fêmeas em postura não tenha aumentado significativamente até o término do experimento. Apesar disso, a grande maioria das fêmeas avançaram a maturação durante o experimento, sendo que na última observação, o número daquelas que atingiram os estágios III e IV representa o dobro em relação ao número de imaturas. A análise estatística demonstrou que só ocorrem diferenças significativas entre os grupos a partir da 5º observação (40 dias), havendo diferença, embora menos acentuada entre os grupos A e C; B e C, e diferenças fortemente significativas ocorrem somente durante as observações finais entre os grupos A e B. Estes resultados confirmam que o grupo B apresentou a melhor resposta em termos de maturação, o grupo A apresentou a pior resposta, enquanto o grupo C teve resultados intermediários. A quantidade de proteína parece não ter influencia direta nos resultados obtidos, uma vez que a ração com maior proporção protéica (C) não foi aquela que demonstrou maior eficiência. O presente estudo corrobora com os trabalhos nos quais se observou que o requerimento lipídico das fêmeas é aumentado durante a maturação. Acredita-se que a razão Ca:P seja uma das principais justificativas para a melhor resposta demonstrada pelas fêmeas alimentadas com a ração B.Não há registros sobre possíveis efeitos negativos da hipervitaminose sobre a reprodução de camarões, porém este trabalho demonstrou que quantidades vitamínicas muito elevadas parecem não aumentar a resposta reprodutiva de P. argentinus. Há um aumento de evidências sobre o papel das vitaminas C e E como potentes anti-oxidantes, protegendo a integridade dos tecidos de animais aquáticos contra danos causados por radicais livres. Todavia, no presente trabalho, o grupo alimentado com a ração que continha maior concentração de vitamina E (ração C) não obteve os melhores resultados, mas sim o grupo B, cuja ração continha 150 UI de vitamina E/kg, valor este que satisfaz o requerimento estabelecido pela bibliografia como ótimo para a atividade da SOD, crescimento ótimo e alta concentração de vitamina E nos tecidos.
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