Abstract:
Sofrimento moral pode ser entendido como dor ou angústia que pode afetar a mente, o corpo ou as relações interpessoais no ambiente de trabalho, em resposta a situações nas quais a pessoa reconhece sua responsabilidade moral diante dos conflitos, faz um julgamento moral sobre a conduta correta, porém sente-se impotente para executá-la por constrangimentos, forças opositivas, reconhecendo como inadequada sua participação moral. Partindo do contexto atual da enfermagem brasileira, mediante utilização do referencial teórico-filosófico foucaultiano, foi defendida a seguinte tese: os trabalhadores de enfermagem vivenciam situações que lhes provocam sofrimento moral e adotam estratégias de resistência para o seu enfrentamento. Foram objetivos deste estudo: elaborar e validar um instrumento que permita analisar a frequência e intensidade de sofrimento moral em trabalhadores de enfermagem, contemplando elementos do seu cotidiano profissional; conhecer as estratégias de resistência adotadas pelos trabalhadores de enfermagem, diante de situações de enfrentamento do sofrimento moral, numa perspectiva ética. O estudo foi desenvolvido em duas etapas, uma quantitativa e outra qualitativa. Na etapa quantitativa, a amostra constituiu-se de 247 profissionais das equipes de enfermagem de dois hospitais do sul do Brasil, um público e um filantrópico, aplicando-se a adaptação de um instrumento para verificar as situações que conduzem ao sofrimento moral. A análise obedeceu a três etapas: 1) análises descritivas; 2) análises de variância; 3) análises de regressão. Os resultados demonstram que o instrumento aplicado é válido e fidedigno, apresentando os requisitos necessários quanto a validade fatorial e consistência interna para ser utilizada em profissionais de enfermagem. Foram validados cinco constructos relacionados ao sofrimento moral, assim denominados: falta de competência na equipe de trabalho; desrespeito à autonomia do paciente; condições de trabalho insuficientes;negação do papel da enfermagem como advogada do paciente na terminalidade; negação do papel da enfermagem como advogada do paciente. Identificou-se que a percepção de situações que conduzem ao sofrimento moral é intensificada em enfermeiros; em trabalhadores de enfermagem que atuam em instituições com maior abertura ao diálogo, que realizam reuniões de equipe, atuantes em unidades de atendimento SUS, com menores jornadas de trabalho e maior número de trabalhadores por pacientes. Na etapa qualitativa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com quinze profissionais de enfermagem de uma unidade de clínica médica do hospital público, escolhidos intencionalmente. Mediante Análise Textual Discursiva, foram construídas duas categorias: 1) negação de si e do outro – em que se percebe que os trabalhadores de enfermagem podem executar ações que se pautam predominantemente por imobilismo e conformismo, evitando enfrentamentos de quem representa o poder nas situações vivenciadas que lhes provocam sofrimento moral; 2) possibilidade de cuidado de si e do outro – em que os trabalhadores de enfermagem diante de situações que lhes provocam sofrimento moral exercem poder e resistência, seja com ações individuais, seja 10 coletivas. A enfermagem necessita ultrapassar as dimensões de imobilismo que, por vezes, se encontra, buscando formas concretas de modificação dos ambientes de trabalho resultantes do exercício de relações de poder e resistência, numa perspectiva ética e de relações construídas no coletivo.
Moral distress may be understood as pain or despair affecting mind, body or interpersonal relationships in the workplace, as a response to situations where in the face of conflicts one acknowledges his moral responsibility, makes a moral judgment on the correct approach but feels unable to carry it out, due to embarrassments and oppositional forces, so recognizing his moral participation as inadequate. From the Brazilian nursing current context and using Foucault’s theoretic and philosophical reference frame, the following thesis has been defended: nursing personnel experience situations leading the moral distress and to deal with this they adopt resistance strategies. This study aimed: to develop and validate an instrument to analyze the frequency and intensity of moral distress in nursing, considering factors of their professional routine; to understand on an ethical perspective, the resistance strategies adopted by the nursing staff, while facing situations of moral distress. The study was conducted in the quantitative and the qualitative stage. In the quantitative one, the sample consisted of 247 professionals from the nursing staff of two hospitals in southern Brazil, a public and a philanthropist, introducing an adapted instrument to ascertain situations leading to moral distress. The analysis followed three steps: 1) descriptive analysis, 2) analyzes of variance, 3) regression analysis. Results show that the instrument used is valid and reliable, thus meeting the factorial validity and internal consistency requirements, to be used on nursing professionals. Five constructs related to moral distress were validated: lack of competence in the work team; disregard for patient autonomy, inadequate working conditions, denial of the nursing role as patient’s lawyer in end-of-life situations; denial of the nursing role as the patient’s lawyer. It was found that the perception of situations leading to moral distress is enhanced in nursing specialists; nursing staff working in institutions with greater openness to dialogue, which carry out team meetings, working at SUS (unified healthcare system) attendance units, with lower working hours and greater number of workers per patient. In the qualitative stage, semi-structured interviews were conducted with fifteen intentionally chosen nursing professionals, from an internal medicine unit of a public hospital. Through Textual Discourse Analysis, two categories were established: 1) denial of self and other – where we realized that, in situations leading to moral distress, nursing staff may carry out actions characterized mainly by inertia and conformism, avoiding confrontation with those in power; 2) ability to care for oneself and for others - in which, nursing staff in situations leading to moral distress, exercise power and strength, either through individual or collective actions. Nursing needs to overcome such levels of immobility, seeking practical methods to change work environments resulting from power and resistance exert, on an ethical and collective based relationships perspective.
Sufrimiento moral puede ser entendido como el dolor o la angustia que puede afectar la mente, el cuerpo o las relaciones interpersonales en el ambiente de trabajo, en respuesta a situaciones en las cuales la persona reconoce su responsabilidad moral frente a los conflictos, haz un juicio moral sobre la conducta correcta, pero se siente impotente para ejecutarlo por constreñimientos, fuerzas de oposición, reconociendo como inadecuada su participación moral. Basado en el contexto actual de enfermería brasileña, a través de la utilización del referencial teórico-filosófico foucaultiano, fue defendida la siguiente tesis: los trabajadores de enfermería viven situaciones que le provocan sufrimiento moral y adoptan estrategias de resistencia para su enfrentamiento. Fue objetivo de este estudio: desarrollar y validar un instrumento para analizar la frecuencia y la intensidad del sufrimiento en trabajadores de enfermería, que comprende los elementos de su cotidiano profesional; conocer las estrategias de resistencia adoptadas por los trabajadores de enfermería, frente a situaciones de enfrentamiento del sufrimiento moral, en una perspectiva ética. El estudio fue desarrollado en dos etapas, una cuantitativa y otra cualitativa. En la fase cuantitativa, la muestra se constituyo de 247 profesionales de equipos de enfermería en dos hospitales del sur de Brasil, un hospital público y otro filantrópico, se aplicó la adaptación de un instrumento para comprobar las situaciones que llevan al sufrimiento moral. El análisis siguió tres etapas:1) análisis descriptivos; 2) análisis de la varianza; 3) análisis de regresión. Los resultados revelan que el instrumento utilizado es válido y fiable, presentando los requisitos necesarios cuanto la validad factorial y consistencia interna para ser utilizada en profesionales de enfermería. Se validaron cinco construcciones relacionadas al sufrimiento moral, así denominadas: falta de competencia en el equipo de trabajo; desprecio por la autonomía del paciente; condiciones de trabajo inadecuadas; negación del papel del enfermero como abogado del paciente. Se ha identificado que la percepción de situaciones que conducen al sufrimiento moral se intensifica en enfermeros; en trabajadores de enfermería que trabajan en instituciones con mayor apertura al dialogo, que realizan reuniones de equipo, actuantes en unidades de cuidado SUS, con menos horas de trabajo y un mayor número de trabajadores por pacientes. En la etapa cualitativa, fueron realizadas encuestas semi-estructuradas con quince profesionales de enfermería de una unidad de clínica médica del hospital público, elegido intencionalmente. A través de análisis textual discursiva, se construyeron dos categorías: 1) negación del yo y del otro – en que se percibe que los trabajadores de enfermería pueden ejecutar acciones que rigen principalmente por la inercia y el conformismo, evitando choques de quien representa el poder en las situaciones vividas que le causan sufrimiento moral, 2) posibilidad de cuidar de sí y del otro – en que los trabajadores de enfermería frente a situaciones que les causan sufrimiento moral ejercen poder y resistencia, sea con acciones individuales, sea colectivas. La enfermería necesita transponer las dimensiones de la inmovilidad que, por veces, se encuentra buscando 13 formas concretas de modificación en el ambiente de trabajo resultantes del ejercicio de las relaciones de poder y resistencia, desde una perspectiva ética y de relaciones construidas en el colectivo.