Prevalência e fatores associados ao anticorpo contra o vírus da hepatite “C” em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 atendidos no Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. – Rio Grande, RS

Sparvoli, Jucéli Márcia Hendges

Abstract:

 
A hepatite C e o diabetes mellitus tipo 2 apresentam substancial morbidade, complicações devastadoras e mortalidade significativa. A prevalência do diabetes mellitus tipo 2 está aumentando exponencialmente, adquirindo características epidêmicas. A prevalência global da hepatite C crônica é estimada em 3%. No Brasil, a prevalência da infecção varia de 0,9 a 2,8%. O vírus da hepatite C pode ser transmitido parenteralmente e, raramente, por relação sexual. O anti-VHC é o marcador utilizado para seu rastreamento. Esta infecção causa primariamente doença hepática. A epidemia da hepatite C ampliou sua dimensão quando foram constatadas diversas manifestações extra-hepáticas. Recentemente, a possibilidade da associação da hepatite C com o diabetes mellitus tipo 2 tem despertado muito interesse. Contudo, a existência desta associação ainda desperta polêmica. Disso surgiu a necessidade de estudos experimentais, epidemiológicos e clínicos. Realizamos um estudo prospectivo observacional em 454 pacientes com diabetes mellitus tipo 2, atendidos no Centro Integrado de Diabetes do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., em Rio Grande, RS. Nesta amostra avaliamos a prevalência do anti-VHC, assim como numa subamostra que preenchia os principais critérios para doação de sangue, denominada “diabéticos-doadores”. Foram submetidos a questionário-padrão sobre dados demográficos, epidemiológicos e clínicos com relação à hepatite C e diabetes mellitus tipo 2. Comparamos dados epidemiológicos, clínicos e da terapêutica entre pacientes diabéticos tipo 2 anti-VHC positivo e negativo. Características da amostra global: média de idade 57,37 anos; sexo masculino 35,24% e brancos 88,33%. Os dados demográficos não foram significativamente diferentes entre os diabéticos anti-VHC positivo e negativo. A prevalência global de anti-VHC em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 foi de 7,27%. Nos “diabéticos-doadores” a prevalência foi de 6,31%. Foram transfundidos 23,34% dos pacientes; 0,44% foram usuários de drogas endovenosas e 1,76% relataram hepatite após os 10 anos de idade. A história de transfusão e de hepatite após os 10 anos foi significativamente associada com maior prevalência do anti-VHC nos diabéticos. Nos transfundidos, a prevalência do anti-VHC foi elevada: 16,04%. Naqueles com história de hepatite, a prevalência foi de 6,06%, ao passo que nos que não apresentaram esse dado foi de somente 1,42%. Em relação ao número de hospitalizações e cirurgias, não houve associação com a prevalência do anti-VHC mesmo com o aumento progressivo desses procedimentos. Em relação à terapia empregada, estratificou-se em: 1) somente dieta; 2) antidiabéticos orais; 3) somente insulina e 4) antidiabéticos orais e insulina. Nos diabéticos mais graves, naqueles que usavam somente insulina, encontrou-se uma prevalência elevada do anti-VHC: 17,30%. Se o paciente relatava simultaneamente transfusão e usava insulina, verificou-se a elevada positividade de 25%. Assim, nosso estudo verificou uma elevada prevalência do anti-VHC em pacientes diabéticos. Em particular, em pacientes transfundidos e usuários de insulina como tratamento exclusivo, a prevalência alcançou valores extremamente significativos. A coexistência de duas doenças com graves perspectivas, que numa eventual associação podem se potencializar mutuamente, exigirá uma progressiva atenção e um trabalho multidisciplinar para enfrentar esse grande problema de saúde pública.
 
Hepatitis C virus infection and type 2 diabetes mellitus are important public health issues. They are leading causes of morbidity and mortality. Worldwide, type 2 diabetes mellitus is increasing substantially. Hepatitis C affects up to 3% of the world population. Hepatitis C affects 0,9% to 2,8% at the Brazilian population. Hepatitis C virus is transmitted primarily through percutaneous routes and, rarely, by sexual contact. Serological tests for anti-HCV are made for routine screening. Besides hepatic disease, recent evidence links C virus with a number of diverse diseases, including type 2 diabetes mellitus. However, a genuine link between these two conditions is polemic. To assess the relationship between type 2 diabetes mellitus and hepatitis C virus we studied 454 type 2 diabetic patients attending the outpatient diabetic unit in the “Centro Integrado de Diabetes” from “Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr.”, in Rio Grande, RS, Brazil. We divided the diabetic patients in two groups according to their HCV antibody status; and we also analyzed patients for the following variables: age, sex, race, treatment of diabetes (e. g. diet; oral agents; only insulin; oral agents and insulin), previous blood transfusions, intravenous drug addiction, hospital admissions, major surgery procedures and hepatitis history after the age of 10. We did not observe any difference for age, sex and race between diabetics according to their HCV antibody status. Previous blood transfusion (23,34%), intravenous drug addiction (0,44%) and hepatitis history after the age of 10 (1,76%) were found in these patients. Anti-HCV was detected in 33 diabetic patients (7,27%). When we excluded patients with previous blood transfusion in the previous year, hepatitis history after the age of 10 and intravenous drug addiction, anti-HCV was detected in 27 diabetic patients (6,31%). Previous blood transfusion and hepatitis history after the age of 10 were related to high anti-HCV (16,04% and 6,06%). We did not observe any difference on hospital admissions and major surgery procedures. We observed differences between anti-HCV positive and anti-HCV negative in terms of mode of treatment: diabetics using only insulin have the highest prevalence: 17,30%. Amongst the diabetics who use insulin and simultaneously had previous blood transfusions, the anti-HCV positive prevalence was 25%. Thus, we observed a high prevalence of anti-HCV positive in our type 2 diabetic population. Due to the high prevalence and the worldwide distribution of HCV infection and type 2 diabetes mellitus, this association may have an important impact on the public health and preparing a complete team of health care workers must be of paramount importance.
 
La hepatitis C (VHC) y la diabetes mellitus tipo 2 (DMII) son grandes problemas de salud pública. Presentan una morbilidad substancial, complicaciones devastadoras y mortalidad significativa. La prevalencia de la DMII está aumentado exponencialmente, adquiriendo características epidémicas. La prevalencia global de VHC crónica está estimada en 3%. En el Brasil, la prevalencia de infección varía entre 0,9 y 2,8%. El virus de la hepatitis C puede ser transmitido por vía parenteral y raramente, por contacto sexual. El anti-VHC es un marcador utilizado para su rastreamiento. Esta infección causa primariamente enfermedad hepática, La epidemia de VHC amplió su dimensión cuando se constataron diversas manifestaciones extrahepáticas. Recientemente, la posibilidad de asociación entre el VHC con la DMII ha despertado mucho interés. Con todo, la existencia o no de esta asociación es aún polémica. De esto surgió la necesidad de realizar estudios experimentales, epidemiológicos y clínicos. Realizamos un estudio prospectivo observacional con 454 pacientes con DMII, atendidos en el Centro Integrado de Diabetes del Hospital Universitario Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., en Rio Grande, RS, Brasil. En esta muestra evaluamos la prevalencia del anti-VHC, así como una submuestra que cumplía los principales criterios para donar sangre, denominada “diabéticos donadores”. Fueron sometidos a un cuestionario padrón con datos demográficos, epidemiológicos, clínicos con relación a la VHC y la DMII. Comparamos datos demográficos, epidemiológicos, clínicos y terapéuticos entre pacientes diabéticos tipo 2 anti VHC positivos y negativos. Características de la muestra global: edad media 57,37 años; sexo masculino 35,24% y blancos 88,33%. Los datos demográficos no fueron significativamente diferentes entre los diabéticos anti-VHC positivo y negativo. La prevalencia global de anti-VHC en pacientes con DMII fue de 7,27%. En los “diabéticos donadores” la prevalencia fue 6,31%. Fueron transfundidos 23,34% de los pacientes; 0,44% eran usuarios de drogas inyectables y 1,76% relataron hepatitis después de los 10 años de edad, La historia transfusional y de hapatitis después de los 10 años se asoció significativamente con una mayor prevalencia de anti-VHC. En los transfundidos, la prevalencia de anti-VHC foi alta:16,04%. En aquellos con historia de hepatitis la prevalencia fue de 6,06%, mientras que en los que no presentaban esta característica fue de apenas 1,42%. Con relación al número de hospitalizaciones y cirugías, no hubo asociación con la prevalencia del anti-VHC, mismo con el aumento progresivo de estos procedimientos. En relación con la terapéutica instituida, se estratificó en: 1) solo dieta; 2) antidiabéticos orales; 3) solo insulina y 4) antidiabéticos orales e insulina. En los diabéticos más graves, aquellos que usaban solo insulina, se encontró una prevalencia elevada de antiVHC: 17,30%. Si el paciente relataba simultáneamente transfusión sanguínea y usaba insulina, la prevalencia se elevaba a 25%. Nuestro estudio verificó una alta prevalencia del anti-VHC en pacientes diabéticos. En particular, en pacientes transfundidos y usuarios de insulina como tratamiento exclusivo, la prevalencia alcanzó valores extremadamente altos. La coexistencia de dos enfermedades con graves perspectivas, que en una eventual asociación pueden mutuamente potencializarse, exigirá una progresiva atención y un trabajo multidisciplinar para enfrentar este gran problema de salud pública.
 

Description:

Dissertação(mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem, 2004.

Show full item record

 

Files in this item

This item appears in the following Collection(s)

:

  • EENF – Mestrado em Enfermagem (Dissertações)