Ecologia alimentar do colhereiro (Platalea ajaja) e da garça-branca-grande (Ardea alba) em ambiente límnico e estuarino no sul do Brasil

Britto, Vanessa Oliveira

Abstract:

 
O presente trabalho investigou a dieta de Platalea ajaja (colhereiro) e Ardea alba (garça-brancagrande), em 2011/2012, em um ambiente límnico (banhado do Aguirre) e outro estuarino na Lagoa dos Patos (ilha dos Marinheiros), Rio Grande, RS, no sul do Brasil. Foram analisados regurgitados espontâneos, conteúdos gastrointestinais, pellets, lavagem estomacal e isótopos estáveis. Os itens alimentares mais importantes na caracterização direta da dieta de P. ajaja no estuário foram os insetos (PSIRI% = 47,2), seguido de crustáceos (PSIRI% = 30,4) e peixes (PSIRI% = 12,6). No ambiente límnico P. ajaja teve uma dieta com predomínio de insetos (PSIRI% = 59,9), seguido de peixes (PSIRI% = 19,8). No estuário a dieta de A. alba foi predominantemente piscívora (PSIRI% = 53,3), seguido em importância pelos crustáceos (PSIRI% = 30,8). Entretanto, no ambiente límnico A. alba teve os insetos como item alimentar principal (PSIRI% = 58,9), seguido de peixes (PSIRI% = 27,9). Sangue de filhotes com mais de três semanas de vida e presas/alimentos potenciais tiveram os isótopos estáveis de carbono (δ 13C) e nitrogênio (δ 15N) analisados. No ambiente límnico A. alba apresentou valores médios de δ 15N semelhantes a P. ajaja límnico, diferenciando-se de A. alba e P. ajaja estuarinos. Os valores médios de δ 13C nas duas espécies e locais foram semelhantes, porém menor em sangue de A. alba estuarina. O modelo linear generalizado (GLM) explicou 44% na variação dos dados de δ 15N, diferindo entre os locais e influenciado pelo tamanho do filhote. O GLM com os valores de δ 13C explicou 22% da variação nos valores, indicando que A. alba alimenta os filhotes com outros itens alimentares dependendo do local, enquanto os filhotes de P. ajaja possuem uma alimentação límnica nos dois ambientes. Os modelos bayesianos de misturas de isótopos (SIAR) indicaram presas límnicas para P. ajaja nos dois ambientes, corroborando os resultados do GLM e dos métodos de estudo de dieta tradicionais. Portanto, A. alba utiliza as áreas próximas ao local de reprodução para se alimentar, não apresentando preferência por área de forrageamento estuarino ou límnico. Em ambiente límnico as duas espécies podem utilizar recursos alimentares semelhantes, enquanto no ambiente estuarino a sobreposição na dieta diminui, por alimentaremse em diferentes locais e distintos itens alimentares. Através de diversas metodologias verificouse que P. ajaja alimenta-se de presas límnicas, apesar de reproduzir-se em ambos os ambientes, enquanto A. alba alimenta-se de presas límnicas e estuarinas dependendo do local onde ocorre sua reprodução.
 
This study investigated the diet of Roseate spoonbills (Platalea ajaja) and Great egrets (Ardea alba) in 2011/2012, in two colonies, one in a freshwater (Aguirre marsh) and another in the Lagoa dos Patos estuary (Marinheiros island), both in Rio Grande municipality, Rio Grande do Sul state, southern Brazil. Spontaneous regurgitations, gut contents, of dead chicks, pellets, stomach flushing and stable isotopes of chicks were analysed. The most important prey items for estuarine spoonbills were insects (PSIRI% = 47.2), crustaceans (PSIRI% = 30.4) and fish (PSIRI% = 12.6). In the freshwater colony, spoonbills had diet composed mostly by insects (PSIRI% = 59.9) and fish (PSIRI% = 19.8). In the estuary, egrets had a predominantly piscivorous diet (PSIRI% = 53.3), followed in importance by crustaceans (PSIRI% = 30.8). However, in the freshwater colony egrets had insects as the main food items (PSIRI% = 58.9), followed by fish (PSIRI% = 27.9). Blood of chicks over three weeks and tissues of potential food items had stable isotopes of carbon (δ 13C) and nitrogen (δ 15N) analised. In the freshwater environment, egrets had mean δ 15N values similar to freshwater spoonbills, but different from egrets and spoonbills from the estuarine site. Mean values of δ 13C in both places and sites were similar, but higher in estuarine egrets. A generalized linear model (GLM) explained 44% in the variation in δ 15N values, differing between sampling sites and influenced by chick size. The GLM on δ 13C values explained only 22% in data variation, suggesting that egrets feed their chicks with different prey items, depending on the place where the colony is placed. On the other hand, spoonbills had limnetic feeding only, no matter the place where they are breeding. Bayesian stable isotope mixing models (SIAR) indicate that limnetic prey were important for spoonbill chicks in both colonies, in line with GLM analysis and dietary data using traditional methods. Therefore, egrets forage in areas near breeding places, without preferences for freshwater or estuarine habitats. In the freshwater colony egrets and spoonbills could rely on similar feeding resources, while in estuarine environments competition seems to be relaxed by feeding on different places and prey items. By using different methodologies it was possible infer that spoonbills feed on freshwater food items, no matter where they breed, while egrets use both limnetic and estuarine food items, depending where the colony is placed.
 

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