Abstract:
Provavelmente, as leituras mais comuns da Revista de
Antropofagia são aquelas que afirmam que a mesma empurrou a
revolução modernista brasileira até aos limites da vanguarda estética ou
foi uma utopia ideológica no cruzamento entre uma teoria do Brasil e
da sua inserção no sistema-mundo. Além disso, a Revista de Antropofagia
raramente tem sido seriamente percebida como um fenómeno político
e classista. Assim sendo, não surpreende que a influência (in)consciente
que o marco histórico da Revolução Bolchevique exerceu sobre o a
Revista de Antropofagia e o grupo dos “antrópofagos” tenha sido pouco
aprofundada pela scholarship.
Este artigo pretende fazer uma close reading das duas dentições da
Revista de Antropofagia à luz desta temática. Sustenta que esta revista
e os “antropófagos” mantiveram uma relação (in)consciente de
ignorância, medo e atração face à Revolução Bolchevique, mas que
Oswald de Andrade, Pagú, Geraldo Ferraz e Oswaldo Costa, ao
criarem o jornal O Homem do Povo ou ao se alistarem no PCB, vieram a
adquirir a “consciência possível” diante de tão complicado fenómeno
histórico. Talvez esta “consciência possível” e O Homem do Povo possam
ser entendidas como uma espécie de “terceira dentição” da Revista de
Antropofagia.
Probably, the most common readings of the Revista de
Antropofagia are those that states it has pushed the Brazilian modernist
revolution to vanguard limits or that it has been a sort of ideological utopia at the crossroads of a theory of Brazil and its place in the
world-system. In addition, the Revista de Antropofagia has been seldom
realized as a political and class-based phenomenon. That being so, it
seems quite understandable that the Revista de Antropofagia has not
been interpreted as a spectral and dialectical move against and towards
the Marxism and the Bolshevik Revolution.
This article intends to perform a close reading of the Revista de
Antropofagia in the framework of the attitude of the “antrópofagos”
regarding the historical landmark of Bolshevik Revolution. The article
sustains that there has been an “(un)conscious” ignorance, fear and
attraction that came to an end with the “possible conscience” of some
“antrópofagos”, such as Oswald de Andrade, Pagú, Geraldo Ferraz
or Oswaldo Costa, in the periodical O Homem do Povo and in their
enlistment in the Brazilian Communist Party. Probably, it was a sort of
“third dentition” of the Revista de Antropofagia.