Abstract:
A crescente utilização de agrotóxicos na agricultura nacional, aliada ao seu uso incorreto, causa a contaminação de corpos dágua, gerando assim impactos em diversas espécies não alvos. O herbicida atrazina é muito utilizado no Brasil para o controle de ervas daninhas em culturas de milho e cana de açúcar. Apesar da natureza seletiva deste herbicida, diversos estudos reportam efeitos danosos do atrazina na capacidade reprodutiva de diversas espécies de animais. A espécie Poecilia vivipara é um peixe encontrado em todo Brasil e que apresenta grande resistência a ambientes poluídos. Este trabalho avaliou os efeitos do atrazina em aspectos reprodutivos de machos e fêmeas de Poecilia vivipara expostos ao herbicida em diferentes estágios de vida. Para a realização do experimento foram utilizados filhotes da espécie Poecilia vivipara em diferentes estágios de vida (nascimento, 2 e 3 meses), expostos via água a diferentes concentrações de atrazina (2, 10 e 100 µg/L) e aos controles (com e sem metanol) por um mês. Análises histológicas nas gônadas de fêmeas foram realizadas, com o objetivo de verificar os estágios de desenvolvimento folicular e o diâmetro folicular. Nos machos, foram analisados histologicamente os diferentes estágios de espermatogênese. Também foi verificada a capacidade espermática através da análise da integridade de DNA, funcionalidade mitocondrial, integridade de membrana, viabilidade e número total de espermatozóides. Os resultados mostraram que a exposição à maior concentração de atrazina (100 µg/L), aumentou a porcentagem de fêmeas em relação ao de machos. O crescimento dos folículos ovarianos foi inibido nas fêmeas expostas ao controle metanol, quando comparado com o controle água. A exposição ao atrazina, em todos os estágios de vida, estimulou o crescimento folicular quando comparada ao controle metanol. No entanto a maturação das fêmeas não foi afetada em nenhum dos tratamentos e estágios analisados. Nos machos, os estágios da espermatogênese não foram alterados, porém a capacidade espermática em machos expostos aos 3 meses de vida ao atrazina foi reduzida. Houve uma diminuição no número de células espermáticas com DNA íntegro na concentração de 10 µg/L; no número de células espermáticas com mitocôndrias funcionais na concentração de 100 µg/L e na integridade de membrana dos espermatozóides nas concentrações de 10 e 100 µg/L. Portanto, esses dados demonstram que a exposição ao atrazina prejudicou a reprodução da espécie Poecilia vivipara, causando uma desproporção sexual e reduzindo a capacidade espermática dos machos.
Atrazine is an herbicide known to affect the reproductive capacity of several species. The present study evaluated the reproductive aspects of males and females of P. vivipara after exposure to atrazine. Fish at distinct life stages (newborns, 2 and 3 months) were exposed to different atrazine concentrations: 0 (control groups with and without methanol), 2, 10 and 100 µg/L, during one month. The results have shown an increase larger than 70% in female gender at the highest atrazine concentration (100 µg/L), in all life stages studied. The females maturity was not affected, although follicular diameter was reduced in females exposed to methanol during newborn stage, two and three months (364 ± 139, 291 ± 35 and 349 ± 140 µm respectively), when compared to control water (604 ± 97 µm). Exposure to atrazine, at all concentrations and life stages, increased follicle diameter, when compared to control methanol, presenting follicular diameter greater than 461 ± 157 µm. Three months old exposed males presented a percentual reduction of cells with intact DNA in the atrazine treated group, at the concentration of 10 µg/L (18% ± 25%), when compared to water and methanol control groups (90% ± 16% and 92% ± 12%). The mitochondrial function was also affected in animals exposed at 3 months of life to a 100 µg/L (33% ± 15%) concentration compared with the percentages found in water and methanol controls (76% ± 15% and 83% ± 8%). Furthermore, there was a reduction in the percentage of intact sperm membranes in animals exposed to concentrations of 10 µg/L (43% ± 11%) and 100 µg/L (40% ± 12%) when compared with water and methanol control (85% ± 10% and 80% ± 10%). However, the effects in males were not permanent. These results showed that atrazine impairs Poecilia vivipara reproduction causing sexual disparity in populations and reducing male sperm capacity.