Abstract:
A ecologia trófica de Podonectes minutus foi estudada em dois ambientes
(banhado e dunas) no Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS), entre abril de 2008 e
maio de 2009, por meio da análise de conteúdo estomacal (ACE) e de isótopos
estáveis (AIE). Também foram determinadas sua abundância e utilização de
microhabitas nos locais de banhado e dunas. A partir da análise da variação temporal
da abundância e uso de microhabitats nas dunas e banhado, foi observado que
Podonectes minutus é uma espécie associada aos ambientes aquáticos com presença
de vegetação, apresentando uma tendência a ser mais abundante em meses com
temperaturas mais elevadas. Com base na análise estomacal de 112 exemplares pósmetamórficos, foram encontrados 58 itens alimentares na dieta de P. minutus, sendo os
principais: Coleoptera (33,3%), Odonata (20,9%), resto de inseto (26,6%),
Hymenoptera (20,9%), resto animal (19%), Araneae (15,2%), Diptera (13,3%),
Hemiptera (12,3%), resto vegetal (11,4%) e Orthoptera (7,6%). Baseado no método de
Amundsen, a espécie apresentou uma estratégia alimentar generalista-oportunista, não
ocorrendo variações de estratégia entre os ambientes estudados. Com relação às
variações temporais e espaciais, P. minutus apresentou uma tendência a ter uma dieta
mais rica durante o período de primavera-verão. Embora tenham sido encontradas
diferenças na importância relativa de alguns itens entre as áreas estudadas, não
apresentou diferenças significativas na composição da dieta entre as áreas de banhado
e dunas. A análise da razão isotópica do carbono (δ13C) sugere que as principais
fontes de carbono orgânico para a espécie no banhado sejam provenientes do seston e
de plantas terrestres, especialmente gramíneas do gênero Poacea. A estimativa da
posição trófica com base na razão isotópica do nitrogênio (δ15N) mostrou que os girinos
se posicionam próximos da base da cadeia trófica (consumidor 1º), enquanto os
indivíduos pós-metamórficos ocupam posições tróficas mais elevadas (consumidor 3º).
Entre os indivíduos pós-metamórficos também foi possível observar um tendência de
aumento da posição trófica na medida em que a espécie aumentou em tamanho. A
análise da razão isotópica também corroborou a hipótese de que os fragmentos
vegetais encontrados no conteúdo estomacal dos indivíduos, especialmente os de
maior porte, tenham sido ingeridos acidentalmente no momento da captura das presas,
não possuindo, portanto, valor nutricional para a espécie.
The trophic ecology of Podonectes minutus was studied in two habitats (wetland
and dunes) of the Lagoa do Peixe National Park in southern Brazil between April 2008
and May 2009 based on the analysis of stomach content (SC) and stable isotopes (SI).
We also investigated its abundance and use of microhabitats in each of these areas.
The abundance and microhabitat analysis revealed that P. minutus is a species strongly
associated with vegetated aquatic habitats and has a tendency to be more abundant in
warmer months. Based on the SC analysis of 112 post-metamorphic specimens, we
found 58 food items in the diet of P. minutus, being the most important: Coleoptera
(33.3%), Odonata (20.9%), insects remains (26.6%), Hymenoptera (20.9%), animal
organic matter (19%), Araneae (15.2%), Diptera (13.3%), Hemiptera (12.3%), fragments
of vegetation (11.4%) and Orthoptera (7.6%). According to the Amundsen et al’s
diagram, the species showed a generalist-opportunistic feeding strategy in both study
areas. Regarding spatiotemporal variations in the diet, P. minutus showed a tendency to
have a richer diet during austral spring and summer months. Although we observed
some differences in the relative importance of a few items, there were not significant
differences in the diet composition between wetland and dune habitats. The analysis of
the δ13C values suggested that the main organic carbon sources to P. minutus in the
wetland were derived from POM and terrestrial plants, especially grasses of the genus
Poaceae. The estimation of the trophic position based on the δ15N values showed that
tadpoles were positioned in the base of the foodweb (1st consumers), whereas postmetamorphic adults were positioned higher in the food chain (3rd consumers). Among
the adult individuals it was also observed a trend to increase its trophic position as the
individual increased in body size. The SI analysis also corroborated the hypothesis that
fragments of vegetation found in the stomach content, especially in the larger
individuals, were accidentally consumed during the predation of the prey. Therefore,
such material probably did not have a nutritional value for the species.