Abstract:
O clorotalonil é um fungicida presente em tintas anti-incrustantes e em outras
formulações usadas na agricultura. É considerado tóxico para organismos não-alvo, mas
apesar disso, apenas poucos países o regulamentam em seus critérios de qualidade de
água (WQC). Para evidenciar os perigos da contaminação ambiental com clorotalonil e
subsidiar critérios para regulamentação do composto, o presente trabalho avaliou efeitos
tóxicos do biocida para a espécie de peixe estuarino Poecilia vivipara, através de teste
de letalidade aguda (96 h) e por meio de biomarcadores bioquímicos, de qualidade
espermática e hematológicos. A CL50 calculada para P. vivipara foi de 40,8 µg/L de
clorotalonil, indicando-a como uma espécie de peixe moderadamente sensível. Para
análise dos biomarcadores, os peixes foram expostos (96 h) à 1 e 10 µg/L de
clorotalonil. Observamos que o clorotalonil altera os níveis de pró e antioxidantes em
direção ao estresse oxidativo. Nas brânquias detectamos efeito negativo sobre
capacidade antioxidante total (ACAP), enquanto no fígado houve uma redução na
atividade da Glutationa S-transferase (GST). Mas em ambos os tecidos, nos níveis de
Glutationa (GSH) e da atividade da sua percursora Glutationa-cisteína-ligase (GCL)
aumentaram. No entanto, o dano oxidativo, representado pela lipoperoxidação (LPO),
ocorreu significativamente apenas em nível celular, em eritrócitos e células
espermáticas. As hemácias também apresentaram aumento na fluidez de suas
membranas, dos níveis de espécies reativas de oxigênio e dano de DNA, sendo estes
mais elevados nos peixes expostos à 10 µg/L de clorotalonil. Nas células espermáticas,
a LPO foi acompanhada por queda na funcionalidade de membrana e funcionalidade
mitocondrial, além da redução na motilidade. Com base nestes resultados, podemos
confirmar que o clorotalonil é um composto tóxico e que sua ação pode promover
efeitos sistêmicos e afetar processos como a respiração, metabolização de xenobióticos,
além da fertilidade de P. vivipara, recomendada aqui como um bom biomonitor.
Chlorothalonil is a fungicide existing in commercial antifouling paints and other
formulations used in agriculture. It is considered toxic for non-target organisms,
however only few countries have included it in their water quality criteria (WQC). To
address the hazards of environmental contamination with chlorothalonil and to offer
support for its regulation, the present work evaluated the toxic effects of chlorothalonil
for the guppy Poecilia vivipara, through acute lethality test (96 h) and by analysis of
biochemical, spermatic and hematological biomarkers. The LC50 calculated for P.
vivipara was 40.8 μg/L of chlorothalonil, indicating that it is a moderately sensitive fish
species. For the analysis of biomarkers, fish were exposed (96 h) to 1 and 10 μg/L of
chlorothalonil. We observed that the biocide changes the levels of pro and antioxidants
towards a situation of oxidative stress. In the gills we detected a negative effect on the
total antioxidant capacity (ACAP), while in the liver there was a reduction in the
activity of Glutathione S-transferase (GST). But in both tissues, the levels of
Glutathione (GSH) and the activity of its precursor Glutathione-cysteine-ligase (GCL)
increased. However, oxidative damage, represented by lipoperoxidation (LPO), occurs
significantly only at the cellular level, in erythrocytes and sperm cells. In red blood cells
we also saw increase of membrane fluidity, of reactive oxygen species levels, and DNA
damage, which were higher in fish exposed to 10 μg/L of chlorothalonil. In the sperm
cells, LPO was detected with a drop in membrane functionality and mitochondrial
functionality, which may be the cause of the reduction in sperm motility. Based on these
results, we can confirm that chlorothalonil is a highly toxic compound and causes
effects at systemic levels, being able to disturb respiration, metabolism of xenobiotics
and the fertility of P. vivipara, which is recommended here as a good biommonitor.