Desafios da gestão de um empreendimento solidário: um estudo de caso da ASSER – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de São Lourenço do Sul

Abstract

A partir dos anos 1990 o Brasil foi marcado por diversas mudanças do mercado de trabalho, como desemprego e precarização do trabalho, fatores que, somados à desigualdade social, historicamente existentes no país. Esses fatores tornaram-se cada vez mais forte a formação de iniciativas de economia solidária que surgem com a perspectiva de superar as condições imposta pelo capitalismo. É uma forma alternativa de promover a atividade econômica por meio dos empreendimentos que tende a diferenciar dos modelos capitalistas de organizações essencialmente pelo uso de práticas democráticas, igualitárias, solidariedade, cooperação e na sua gestão e pela aplicação da autogestão, que consiste na participação dos membros do empreendimento, pois compete a todos(as) a responsabilidade de planejar, executar e controlar os processos. Os EES’s trabalham na perspectiva de eliminar a submissão e a separação entre o(a) proprietário(a) e os(as) trabalhadores(as), bem como a visão utilitarista sobre o trabalhador(a). No entanto esse processo para os EES’s é mais complexo e quando este empreendimento é do ramo as reciclagens, essa complexidade é aumentada, pois se deparam com inúmeros desafios como o de garantirem a promoção da sustentabilidade financeira, assim como o trabalho coletivo dos meios de produção, a gestão democrática, a cooperação e autogestão, o que repercute em sua própria sobrevivência. Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar as questões sócio-organizacionais de um empreendimento solidário, conhecendo a sua dinâmica e contradições, de como podem funcionar como mecanismo de inserção econômica e social. Na intenção de contribuir com esse debate, foi realizada este estudo, que tem por base a perspectiva qualitativa e configura-se como um estudo de caso, sendo uma associação de catadores(as) de materiais recicláveis do município de São Lourenço do Sul, na região Sul do Rio Grande do Sul. Portanto, o percurso metodológico consistiu em quatro fases: (a) contato com os(as) catadores(as); (b) realização das entrevistas; (c) documentos disponibilizados pela associação e pelo projeto de extensão e (d) utilização da análise de conteúdo para proceder à análise dos dados. Desta forma, foi apresentado o processo histórico da associação (2005-2022). A análise destes fatores na associação de catadores(as) de materiais recicláveis de São Lourenço do Sul/RS permitiu um estudo sobre as tensões e contradições que esse tipo de empreendimento possa encontrar perante o sistema mercantil, e por fim, foi possível relacionar as características dos princípios da economia solidária para assim determinar se a associação é um EES. Os resultados da pesquisa revelaram que sempre vão existir tensões impostam pela lógica mercantil funcional, pois o empreendimento está inserido em um ambiente capitalista. Assim, mesmo lidando com essas questões, a gestão atual da ASSER (2022) se qualifica em ser ativa, participativa em todos os processos, procura ensinar seu conhecimento para com os(as) associados(as), estimulando-os mesmos a participarem de todo o processo, como resultado dessa dinâmica os expressivos avanços tanto nos processos administrativos-produtivos, quanto nas condições socioeconômica dos(as) associados(as). Com isso, pode-se considerar que a associação atua na lógica da economia solidária, fazendo com que não ocorra o afastamento dos princípios básicos, mesmo com as pressões impostas pelo sistema capitalista.

From the 1990s, Brazil was marked by several changes in the labor market, such as unemployment and precarious work, factors that, in addition to social inequality, historically existed in the country. These factors have become increasingly strong the formation of solidary economy initiatives that arise with the perspective of overcoming the conditions imposed by capitalism. It is an alternative way of promoting economic activity through undertakings that tend to differentiate from capitalist models of organizations essentially by the use of democratic,

egalitarian, solidarity, cooperation and management practices and by the application of self- management, which consists of the participation of members of the undertaking, since it is

everyone's responsibility to plan, execute and control the processes. EES's work with a view to eliminating the submission and separation between the owner and the workers, as well as the utilitarian view of the worker. However, this process for the EES's is more complex and when this enterprise is in the field of recycling, this complexity is increased, as they face numerous challenges such as ensuring the promotion of financial sustainability, as well as the collective work of the means of production , democratic management, cooperation and self-management,

which has repercussions on its own survival. Thus, the present work aims to analyze the socio- organizational issues of a solidarity enterprise, knowing its dynamics and contradictions, of

how they can function as a mechanism of economic and social insertion. With the intention of contributing to this debate, this study was carried out, which is based on a qualitative perspective and is configured as a case study, being an association of collectors of recyclable materials in the municipality of São Lourenço do Sul, in the southern region of Rio Grande do Sul. Therefore, the methodological route consisted of four phases: (a) contact with the collectors; (b) conducting the interviews; (c) documents made available by the association and by the extension project and (d) use of content analysis to proceed with data analysis. In this way, the historical process of the association (2005-2022) was presented. The analysis of these factors in the association of collectors of recyclable materials in São Lourenço do Sul/RS allowed a study on the tensions and contradictions that this type of enterprise may encounter in the commercial system, and finally, it was possible to relate the characteristics of the principles of solidarity economy in order to determine whether the association is an EES. The research results revealed that there will always be tensions imposed by the functional mercantile logic, since the enterprise is inserted in a capitalist environment. Thus, even dealing with these issues, the current management of ASSER (2022) is qualified to be active, participatory in all processes, seeks to teach its knowledge to associates, encouraging them to participate in the

whole process, as a result of this dynamic, the significant advances both in the administrative- productive processes and in the socioeconomic conditions of the associates. With this, it can be

considered that the association acts in the logic of the solidary economy, preventing the departure from the basic principles, even with the pressures imposed by the capitalist system.