Efeitos bioquímicos e fisiológicos da cianobactéria Microcystis aeruginosa sobre o poliqueto Laeonereis acuta (Polychaeta, Nereididae)

Abstract

A elevada carga de material orgânico lançado em ambientes aquáticos tem causado a eutrofização artificial de corpos de água no mundo. Esta elevação da carga de nutrientes favorece a ocorrência de florações tóxicas de cianobactérias, prejudiciais ao meio ambiente e ao homem. Florações tóxicas contendo Microcystis aeruginosa, vêm sendo observadas na Lagoa dos Patos nos últimos 30 anos. As microcistinas são cianotoxinas hepatotóxicas conhecidas por inibirem as fosfatases (PP) e por gerarem estresse oxidativo. O poliqueto Laeonereis acuta é considerado um importante bioindicador em estudos ecotoxicológicos realizados na Lagoa dos Patos. O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos bioquímicos e fisiológicos da cianobactéria M. aeruginosa sobre o poliqueto L. acuta, bem como a transferência de microcistinas entre dois níveis da cadeia trófica. Foi caracterizada a geração de estresse oxidativo, observado pelos altos níveis de lipídios peroxidados, além da ocorrência de conjugados DNA-proteína, no grupo exposto a células liofilizadas de M. aeruginosa. A perda da motilidade, associada com efeitos induzidos pelas microcistinas, como a inibição das PP, também foi observada. A transferência de microcistinas do poliqueto L. acuta para o peixe Jenynsia multidentata mostrou que os organismos podem entrar em contato e se contaminarem sem estarem expostos diretamente. Os presentes resultados mostam que existem efeitos mensuráveis gerados nos organismos aquáticos expostos. Não somente o acúmulo de microcistinas nos tecidos deve ser analisado, mas também efeitos bioquímicos e fisiológicos, para se avaliar os riscos toxicológicos para as populações expostas a essas toxinas.

The organic matter increase in the aquatic environment has been the cause of artificial eutrofication in water bodies of the world. This rise in nutrients favors the occurrence of toxic cianobacterial blooms, harmful to the environment and men. Several blooms containing the toxic species Microcystis aeruginosa, have been observed in the Patos Lagoon over the last three decades. Microcystins are hepatotoxic cyanotoxins known to inhibit protein phosphatases (PP) and to induce oxidative stress. The worm Laeonereis acutahas been regarded as an important bioindicator for ecotoxicological studies carried out in the Patos Lagoon. The present work aimed to evaluate the effects of the cyanobacteria M. aeruginosa extracts on the worm L. acuta as well the microcystins transfer to the food web. The generation of oxidative stress has been characterized by the high lipid peroxides and the occurrence of high DNA-proteín crosslink levels has been observed, in the group exposed to lyophilized cells of M. aeruginosa. The lost of motility associated to classic effect induced by microcystins, as the PP enzymes inhibition was also observed. The transfer of microcystins from the worm L. acuta to the fish Jenynsia multidentata showed that the organisms can have contact and being contamined without being directly exposed. The present results indicate that there are measurable effects generated in the aquatic organisms exposed to microcystins. The accumulation in tissues should not only be analyzed, but also the biochemical and physiological effects, in order to evaluate the toxicological risk to populations exposed to these toxins.