Ecologia alimentar da ave herbívora Chauna torquata no Taim, sul do Brasil

Luz, Xenya Bernardes Garcia da

Abstract:

 
Os herbívoros constituem um dos principais condutores da formação e funcionamento dos ecossistemas terrestres. Nas últimas décadas tem sido comprovado que os grandes herbívoros podem exercer efeitos diretos e indiretos sobre a vegetação, afetando a estrutura, composição e diversidade de espécies das comunidades vegetais. Influenciam na produtividade primária e no transporte de matéria e energia e na consequente conexão entre ecossistemas. O uso de isótopos estáveis (δ 13C e δ 15N) em modelos de mistura permite a determinação da contribuição de diferentes fontes de alimento à dieta de consumidores. Esse método, principalmente quando associado a abordagens convencionais, constitui-se numa ferramenta poderosa para estudos de ecologia alimentar e, recentemente, tem sido utilizado para fornecer uma visão mais unificada das relações tróficas. Neste estudo foi aplicado o modelo de mistura isotópica associado à análise micro-histológica de fragmentos vegetais em fezes, para avaliar a ecologia alimentar de Chauna torquata (tachã). A dieta assimilada em duas escalas temporais foi investigada através da análise de isótopos estáveis no soro e células vermelhas, componentes do sangue com taxas de renovação distintas. Os valores de δ 13C e δ15N nos tecidos de tachã não apresentaram diferenças significativas entre o inverno e o verão, sugerindo uma alimentação similar ao longo do ano. Pela análise isotópica uma representante das ciperáceas foi o item com maior contribuição à dieta da espécie. As análises fecais sugerem um comportamento mais generalista quanto à escolha alimentar, apontando o consumo de ao menos 19 espécies vegetais e com as gramíneas apresentando a maior riqueza específica. Ambos os métodos comprovaram a preferência por plantas de maior valor nutricional, com rota fotossintética do tipo C3 e um consumo equitativo entre o grupo de plantas aquáticas e terrestres. Este trabalho representa a primeira análise detalhada da ecologia trófica de C. torquata nos ambientes aquáticos e terrestres adjacentes.
 
Herbivores are among the main drivers of the formation and functioning of terrestrial ecosystems. In recent decades it has been demonstrated that large herbivores can have direct and indirect effects on vegetation, affecting the structure, composition and species diversity of plant communities. They influence the primary productivity and the transport of matter and energy, and the consequent connection between ecosystems. The use of stable isotopes (δ 13C and δ 15N) in mixing models allows the determination of the contribution of different food sources to the diet of consumers. This method, particularly if associated with conventional approaches, provide a powerful tool in studies of feeding ecology and recently have been used extensively to provide a more unified view of trophic relationships. In this study we used isotopic mixing models associated with micro-histological analysis of plant fragments in faeces, to assess the feeding ecology of Chauna torquata (Southern Screamer). The assimilated diet over two time scales was studied through the analysis of stable isotopes in plasma and red blood cells, blood components with different turnover rates. The values of δ13C and δ15N in tissues showed no significant differences between winter and summer, suggesting a similar diet throughout the year. The isotope mixing models demonstrate that one representative of Cyperaceae was the item with the highest contribution to the diet of the species. Faecal analyses suggested a more generalist behaviour in terms of food choice, pointing the consumption of at least 19 plant species, and the Poaceae family with the greatest species richness. Both methods have shown a preference for plants of higher nutritional value, with the C3 photosynthetic pathway and equitable use of aquatic and terrestrial plants. The current study is the first quantitative analysis of the trophic ecology of the Southern Screamer in terrestrial and adjacent aquatic ecosystems.
 

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