Abstract:
A advocacia do paciente na enfermagem tem sido descrita como um fundamento filosófico e um ideal para a prática da profissão, apesar das possíveis barreiras para seu exercício. Acredita-se que a advocacia do paciente, como um componente ético do trabalho da enfermagem, está fortemente articulada ao exercício de poder dos enfermeiros, pois requer a coragem de falar a verdade, ou seja, a parresía, do mesmo modo como são necessárias estratégias de resistência para enfrentar possíveis barreiras que se apresentam. Mediante utilização de referencial filosófico foucaultiano, foi defendida a seguinte tese: os enfermeiros reconhecem suas ações como advogados do paciente e utilizam-se da parresía e de estratégias de resistência para enfrentar as barreiras que comprometem seu exercício. Teve-se como objetivo geral do estudo: compreender como os enfermeiros têm exercido a advocacia do paciente. Ainda, foram objetivos específicos: adaptar culturalmente e validar o instrumento Protective Nursing Advocacy Scale para enfermeiros brasileiros; analisar crenças e ações de enfermeiros no exercício da advocacia do paciente no contexto hospitalar; conhecer como os enfermeiros vêm exercendo a advocacia do paciente no contexto hospitalar. O estudo foi desenvolvido em duas etapas, uma quantitativa e outra qualitativa. A etapa quantitativa foi realizada junto a 153 enfermeiros de duas instituições hospitalares do sul do Brasil, uma pública e uma filantrópica, através da aplicação da adaptação transcultural do Protective Nursing Advocacy Scale. Mediante avaliação de comitê de especialistas, realização do pré-teste e alfa de Cronbach, a validade de face, conteúdo e constructo do instrumento foi considerada satisfatória para utilização no contexto brasileiro. A partir da análise fatorial, foram identificados cinco constructos: implicações negativas do exercício da advocacia; ações de advocacia; facilitadores ao exercício da advocacia; percepções que favorecem o exercício da advocacia; barreiras ao exercício da advocacia. A análise descritiva permitiu verificar que os enfermeiros acreditam que estão advogando pelos pacientes em seus ambientes de trabalho, concordando que devem advogar, especialmente, quando pacientes vulneráveis precisam da sua proteção em situações prejudiciais. Os valores pessoais e a qualificação profissional foram identificados como principais fontes de apoio ao exercício da advocacia; barreiras como burnout e sofrimento moral e a falta de dedicação à enfermagem não foram identificadas como obstáculos ao seu exercício. Os enfermeiros evidenciaram, ainda, que nem discordam/nem concordam que advogar pelos pacientes em seus ambientes de trabalho possa lhes trazer consequências negativas. Na etapa qualitativa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dezesseis enfermeiros de uma instituição hospitalar pública do sul do Brasil. Realizou-se a análise textual discursiva dos dados, emergindo duas categorias: a coragem de verdade: o exercício da advocacia mediado pelo diálogo franco; estratégias de resistência para o exercício da advocacia do paciente. Acredita-se que as barreiras que comumente comprometem o exercício da advocacia podem ser enfrentadas, especialmente, quando os enfermeiros utilizam sua capacidade de exercer poder e resistir, reconhecendo-se como parresiastas, evidenciando sua relação direta com a verdade e compreendendo a advocacia do
Patient advocacy in nursing has been described as a philosophical base and an ideal for professional practice, despite the possible barriers for its exercise. Patient advocacy, as an ethical component of the nursing work, is believed to be highly articulated to nurses' exercise of power, as it requires courage to speak the truth, that is, parrhesia, as well as it needs resistance strategies to face possible barriers that might appear. By taking a Foucaldian philosophical referential, the following thesis was defined: nurses recognize their actions as patients' advocate and make use of parrhesia and resistance strategies to face the barriers compromising their practice. The study's main objective was to understand how nurses have exercised patient advocacy. Its specific objectives included adapting culturally and validating the instrument Protective Nursing Advocacy Scale for Brazilian nurses; analyzing nurses' beliefs and actions in the exercise of patient advocacy in hospitals; learning how nurses have exercised patient advocacy in the context of hospitals. The study was developed in two stages, namely a quantitative stage and a qualitative one. The quantitative stage was carried out with 153 nurses from two hospitals, a public one and a philanthropic, through the use of the cross-cultural adaptation of the Protective Nursing Advocacy Scale. Face, content and construct validity was considered satisfactory for use in the Brazilian context by the assessment of a board of specialists, administration of the pre-test and Cronbach's alpha. Five constructs were identified by the factor analysis: negative implications of the exercise of advocacy; advocacy actions; facilitators in the exercise of advocacy; perceptions favoring the exercise of advocacy; barriers to the exercise of advocacy. Descriptive analysis made it possible to conclude that nurses believe they are advocating for their patients in their working environments and agree that they must advocate especially when vulnerable patients need their protection in harmful situations. Personal values and professional qualification were identified as the main sources of support to the exercise of advocacy; barriers such as burnout and moral distress and the lack of commitment to nursing were not identified as obstacles to advocacy. Still, the nurses were found not to disagree nor to agree that advocating for their patients and their working environments might lead them to negative consequences. In the qualitative stage, semi-structured interviews were conducted with sixteen nurses from a public hospital in southern Brazil. Two categories emerged from the discursive textual analysis: the true courage: the exercise of advocacy mediated by frank dialogue; resistance strategies for the exercise of patient advocacy. It is believed that the barriers that commonly compromise the exercise of advocacy can be faced, particularly when the nurses make use of their capacity to exert power and resist, recognizing themselves as parrhesians, showing their direct connection with truth and understanding patient advocacy as a duty to help others and themselves, even when faced with possible implications