"Nada é natural na natureza": a construção narrativa do sujeito-mãe na Literatura Brasileira Contemporânea escrita por mulheres

Farias, Ariane Ávila Neto de

Abstract:

 
São diversos os estudos que mostram que as diferenças biológicas entre homens e mulheres são a base para subjugação social e cultural feminina. É pelo seu corpo e sua sexualidade, aspectos que, a partir do Renascimento, demarcam a negatividade do sujeito feminino, que a mulher é oprimida e dominada. Colocada em segundo plano e, tomando a proteção masculina, como necessária, a mulher configura-se como o "Outro"; aquele que é tudo o que o homem não é, a falta e a incompletude, enquanto esse é o detentor do poder e da razão. Dessa forma, é que as questões referentes à maternidade são, então, percebidas como a realização integral de seu destino. Historicamente, o exercício do fazer materno foi moldado a partir de valores patriarcais; o ideal de mulher-mãe constituiu-se a partir da abnegação e devoção total aos filhos, sendo o amor o único sentimento esperado na relação por esses sujeitos traçada. Essa situação teve como consequência o total apagamento da mulher-mãe, um feminino marcado pela solidão e culpa, principalmente, quando da impossibilidade de adequação aos padrões sociais preestabelecidos. A presente tese objetiva discutir acerca do modo como a construção narrativa do sujeito-mãe se apresenta em narrativas brasileiras contemporâneas. O corpora selecionado para essa pesquisa constitui-se de quatro narrativas de autoras brasileiras contemporâneas: Uma Duas (2018), de Eliane Brum, O peso do pássaro morto (2017), de Aline Bei, Quarenta Dias (2014), de Maria Valéria Rezende e Com armas sonolentas (2018), de Carola Saavedra. As narrativas aqui analisadas apontam para uma ressignificação da maternidade, de modo que clarificam a multiplicidade que a envolve, sugerindo o necessário reconhecimento dos diferentes sentimentos e ações que perpassam esse fazer, desatrelando-a do olhar romantizado, construído pelo discurso do patriarcado, da abnegação e da entrega total do feminino. Para tanto, as reflexões propostas neste trabalho partem das contribuições de teóricas que se debruçaram sobre o temática da maternidade, como Nancy Chodorow (1978), Elizabeth Badinter (1985), Adrienne Rich (1986), entre outras, bem como estudiosas que debatem o status do feminino no decorrer da história, como Silvia Federici (2017) e Beauvoir (2009).
 
Several studies show that biological differences between men and women are the basis for female social and cultural subjugation. It is through her body and her sexuality, aspects that, from the Renaissance onwards, demarcate the negativity of the female subject, that women are oppressed and dominated. Placed in the background and, taking male protection as necessary, the woman configures herself as the "Other"; that which is everything that man is not, lack and incompleteness, while this is the holder of power and reason. In this way, issues relating to motherhood are then perceived as the full realization of their destiny. Historically, the exercise of maternal action was molded from patriarchal values; the ideal of a woman-mother was constituted from abnegation and total devotion to the children, with love being the only feeling expected in the relationship drawn by these subjects. This situation resulted in the total erasure of the woman-mother, a feminine marked by loneliness and guilt, especially when it was impossible to adapt to pre-established social standards. This thesis aims to discuss how the narrative construction of the subject-mother is presented in contemporary Brazilian narratives. The corpora selected for this research consists of four narratives by contemporary Brazilian authors: Uma Duas (2018), by Eliane Brum, O peso do pássaro morto (2017), by Aline Bei, Quarenta Dias (2014), by Maria Valéria Rezende and Com armas sonolentas (2018), by Carola Saavedra. The narratives analyzed here point to a redefinition of motherhood, so that they clarify the multiplicity that surrounds it, suggesting the necessary recognition of the different feelings and actions that permeate this action, unleashing it from the romanticized look, constructed by the discourse of patriarchy, of abnegation and the total delivery of the feminine. Therefore, the reflections proposed in this work are based on the contributions of theorists who have focused on the theme of motherhood, such as Nancy Chodorow (1978), Elizabeth Badinter (1985), Adrienne Rich (1986), among others, as well as scholars who debate the status of the feminine throughout history, such as Silvia Federici (2017) and Beauvoir (2009).
 

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  • ILA - Doutorado em Letras - (Teses)