Abstract:
Esta dissertação visa à análise dos contos presentes na obra Há um incêndio sob a chuva rala (1999), da escritora gaúcha Vera Karam. Utilizo-me de postulados teóricos vinculados à Crítica Literária Feminista e às categorias da narrativa, bem como aos conceitos de ironia e ao sentido do trágico na contemporaneidade, para verificar de que forma eles são combinados na construção das personagens femininas. Essas bases conceituais encontram-se no primeiro capítulo, intitulado "Diálogos teóricos: a teoria a serviço da prática textual". Neste capítulo, abordo o estudo O conto sul-rio-grandense: tradição e modernidade (1999), da professora e crítica Gilda Neves Bittencourt, pois a tipologia proposta amplia as fronteiras de análise, no que diz respeiito às tendências temáticas e narratológicas do conto sulino contemporâneo. Para conceituar ironia, o posicionamento de Linda Hutcheon, em Teoria e política da ironia (2000), serve de apoio, possibilitando autenticar as diversas circunstâncias de uso desta figura
por Karam. A abordagem aos postulados teóricos acerca do sentido do trágico na contemporaneidade inclui os posicionamentos de Yves Stalloni (2002), Emil Staiger (1997),
Albin Lesky (1997) e principalmente de Gerd Bornheim (1975). Este conceito sustenta a
dicussão a respeito da presença deste traço nas personagens femininas, que é enfatizado conforme os papéis que elas desempenham na sociedade. Recorro também às reflexões acerca
de gênero formuladas por Susana Funck (1994), Joan Scott (1990), Rita Terezinha Schmidt (1994) e Marta Gordo García (2007), entre outras, com o fim de explicitar a perspectiva de uma leitura a partir deste conceito enquanto categoria de análise. No segundo capítulo, intitulado "Um olhar sobre os contos de Vera Karam", realizo a análise das narrativas, considerando a confluência de aspectos, tais quais, a tipologia do conto, a ironia e o trágico,
bem como as questões de gênero na construção das personagens femininas. Distribuo as análises dos contos em dois subcapítulos: “A imagem refletida” e “A imagem construída”.
Três, dos oito contos, estão inseridos na primeira parte, pois aqui as protagonistas mostram-se como se vêem. Elas se autodefinem, refletindo, portanto, suas próprias imagens. Nos demais contos, as personagens são destituídas de voz própria, e suas imagens resultam da visão de um/a narrador/a. Apesar dos modos diferenciados de narrar, Karam direciona seu fazer artístico para a construção formal e temática e do status social das personagens femininas. Por meio delas é que a autora elabora e propõe a denúncia e a crítica social, além de explorar
possibilidades de transgressão das mulheres às normas a elas impostas. A inegável habilidade técnica de Vera Karam associada a padrões artísticos/estéticos demonstrados em sua écriture, constituem-se em fortes fatores determinantes para sua inserção na historiografia literária sul rio-grandense.
This dissertation aims at analyzing the short stories in Há um incêndio sob a chuva rala
(1999), by the gaúcha writer Vera Karam. I use theoretical principles linked to the Literary Feminist Criticism and the narrative categories, as well as concepts such as irony and the sense of tragic in our days, in order to verify how they are mingled to build the female characters. These fundamental concepts are in the first chapter, entitled “Theoretical dialogues: theory yields to the textual practice”. In this chapter I focus on the study The Southern short story: tradition and modernity (1999), by the teacher and critic Gilda Neves Bittencourt, because the typology she proposes enlarges the borders of analysis in what concerns the thematic and narratologic tendencies of the contemporary Southern short story. In order to conceive irony, Linda Hutcheon`s view in Theory and politics of irony (2000) is supportive, leading to the authentication of the various circumstances in which such a figure is applied by Karam. The approach to the theoretical principles on the sense of tragic in our days include the ideas of Ives Stalloni (2002), Emil Staiger (1997), Albin Lesky (1997) and mainly of Gerd Bornheim (1975). Such a concept upholds the discussion on the resence of this feature in the female characters, which is stressed according to the role they play in society. I also investigate the reflections on gender brought by Susana Funck (1994), Joan Scott (1990),
Rita Terezinha Schmidt (1994) and Marta Gordo García (2007), among others, in order to deal with a reading perspective based on this concept taken as an analytical category. In the second chapter, entitled “A glance on Vera Karam´s short stories”, I read the narratives by taking into account the confluence of aspects such as the typology of the short stories, irony and the sense of tragic, as well as the questions of gender applied to the female characters. I divide the analysis into two parts: “The reflected image” and “The built image”. Three of the
eight short stories are in the first part, because here the protagonists appear as they see themselves. They self-define, therefore they reflect their own images. In the other short stories the protagonists are not given a voice of their own and their images are built as the result of a narrator´s vision. In spite of Karam´s distinct modes of narrating, she emphasizes her artistic work towards the formal and thematic building of the female characters and their social status. The writer elaborates and poses denunciation and social censure throughout the female characters, besides exploring women’s possibilities of transgression to the rules imposed on them. Vera Karam´s undeniable technical ability, associated to artistic/aesthetical patterns demonstrated in her écriture, are strong determinant factors of her insertion in the Southern literary historiography.