Perspectivas para o ensino de línguas
Abstract:
Ana Célia Clementino Moura – UFC, Entre um lançamento de livro e outro, nós nos deparamos com algumas obras muito especiais, e são especiais por diversas razões, ora pessoais, ora profissionais. Este que agora vem a público – Perspectivas para o ensino de línguas 3 – é, para mim, deveras especial porque, além de me bater forte o orgulho de ter sido professora de um dos organizadores, trata de um tema que sempre me foi caríssimo: o ensino. Valiosa contribuição para o ensino, a obra Perspectivas para o ensino de línguas 3 reúne temas voltados para a inclusão, para o ensino de línguas estrangeiras, para a inteligibilidade da fala em falantes de língua adicional. Além disso, há capítulos em que os autores abordam diferentes aspectos da leitura. Diria existiria uma lacuna referente ao ensino se nada fosse evidenciado acerca de como abordar conteúdos gramaticais, o que não falta na obra. E, para se tornar ainda mais especial para mim, há um capítulo cujo foco é a pesquisa e o ensino com o público infantil. Dois dos capítulos, O web software toponímia em Libras: pesquisa e ensino e Propostas de oficinas pedagógicas para o ensino médio: os topônimos inseridos na prática escolar destacam-se por abordarem aspectos da toponímia, bem na direção dos preceitos da Base Nacional Comum Curricular, ou seja, do que se pretende com o ensino interdisciplinar, visto que esta é uma área da linguística com estreita ligação com a história e com a geografia. Interessantíssimas as propostas de oficinas, em que se cruzam estudos da linguagem, da história e da geografia. O primeiro deles, além de também focar os estudos toponímicos, incita reflexão no tocante à interação entre indivíduos surdos. Destaca-se ainda na área da inclusão, um outro capítulo que prioriza o ensino para o cego. Neste, os autores se voltam para a apropriação da leitura e do código Braille por parte dos alunos e, como não poderia deixar de ser, a busca por abordagens de ensino que contribuam para a atuação dos professores. Acreditamos que esse capítulo vai contribuir significativamente para formação de professores, pois ainda escutamos comentários do tipo “não sei como alfabetizar alunos com deficiência visual” ou “como vou explicar o conteúdo, se meu aluno não vê”. Quatro capítulos se voltam para o ensino de línguas estrangeiras, explorando especificidades do espanhol: Instrução explícita por meio da ultrassonografia: uma nova ferramenta para a aquisição da consoante lateral /l/ do espanhol; Uso da tradução e do dicionário no ensino aprendizagem de Espanhol Língua Estrangeira por alunos brasileiros: descrição e avaliação de uma intervenção pedagógica; do inglês: Análise do dicionário Oxford escolar para estudantes brasileiros de inglês; do sotaque dos falantes de línguas adicionais: Pensando “Inteligibilidade da fala em Língua adicional” sob uma concepção dinâmica e complexa: primeiros passos em direção ao um novo ensino de pronúncia. No tocante a este último, embora o estudo tenha sido realizado com aprendizes hispânicos, os resultados quer no que diz respeito à compreensão da mensagem quer no tocante às características do falante e do próprio ouvinte, certamente contribuirão para formação de professores de outras línguas estrangeiras. Todos estes estudos, sem dúvida, deixam legado para quaisquer professores, visto que, em geral, abordam estratégias, ferramentas de ensino e especificidades para a didática de línguas. Há três capítulos que versam sobre leitura e literatura: Literatura aplicada ao alcance de todos: o caso das baratas; Buscando leitores proficientes: o retorno ao mundo lúdico do prazer; Definição dos objetivos de leitura: desafios e possibilidades didáticas de letramento na escola. Nos dois primeiros, o foco vai na direção de se promover uma reflexão sobre o ensino da literatura e em ambos vê-se uma defesa pelo ensino produtivo, ou seja, um ensino no qual o texto faça sentido para quem o lê. No último, igualmente importante, as autoras reforçam a necessidade de o professor definir bem seus objetivos para o ensino da leitura visto que, tendo claros os propósitos de leitura, o leitor poderá usar estratégias adequadas para atingir sua meta. Vê-se, portanto, o quão significativo é, também, este capítulo para o fazer pedagógico do professor, o quanto ele contribui para a formação dos nossos docentes, para que compreendam o papel fundamental dos propósitos sociais da leitura. Importa-nos ressaltar o capítulo Revendo alguns conteúdos gramaticais: os apresentacionais como estratégia de impessoalidade. Como salienta o próprio autor, o ensino da gramática já deu grandes saltos de qualidade, novas abordagens já têm surgido, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado para que alcancemos um patamar desejável no ensino de conteúdos gramaticais. É verdade que neste capítulo vemos um estudo que envolve somente as orações sem sujeito, mas já vislumbramos que outros aspectos virão à baila em obras subsequentes. Este capítulo, de certo, vem para contribuir para a prática pedagógica dos professores de língua portuguesa. Chamou-nos a atenção e deixou-nos extasiada, o capítulo Divulgação científica: mecanismo metalinguístico na escrita de definições terminológicas para o público infantil, visto que vimos ao longo de vários anos, em nossas participações em formação de professores, defendendo que sejam utilizados com crianças textos que lhes chamem a atenção pelo caráter informacional, pelo conteúdo que lhes possa incrementar conhecimentos da ciência. Vimos defendendo, inclusive, que as crianças podem ser alfabetizadas com textos reais, com a maior diversidade possível de gêneros. Assim, além de se apropriarem do sistema de escrita, poderão adquirir conhecimentos científicos e culturais. Portanto, concordamos com a autora, que defende ser a divulgação científica uma grande aliada para o ensino, uma excelente ferramenta a ser utilizada pelo professor, pelo conhecimento que proporciona ao aluno, pela linguagem empregada, objetiva e clara, enfim, pela contribuição para a construção de conhecimentos dos alunos. Gostaríamos de ressaltar, finalmente, o que sentimos com a leitura, em primeira mão, da obra Perspectivas para o ensino de línguas 3. Sentimos que ela vem para nos mostrar que nós, professores, temos muitos parceiros na nossa caminhada, ela vem para reafirmar o que afirmou Nietzsche, em uma de suas interessantes teorias: que os homens devem se espelhar nos jardineiros, os quais, mesmo cultivando raízes que, horas seriam monstruosas, produziriam flores belíssimas. Inspirada em Nietzsche, concluo dizendo que, embora nós, professores, tenhamos que desgalhar arbustos, aparar arestas, remover matos espinhentos, somos também responsáveis por tantas plantas frondosas, por tantas belas roseiras.