Abstract:
Nessa dissertação analisa-se três contos, “O homem cadente”, “Inundação” e “A infinita
fiadeira”, do livro O fio das missangas, do escritor moçambicano Mia Couto, principalmente
pelas teorias do insólito. Os três contos apresentam no seu enredo eventos que podem ser
considerados “incomuns” para o real: um homem que ao se jogar do prédio não cai, objetos que
se desfazem e se reintegram e uma aranha que é transmutada em humana por ser artista. Os
teóricos de teorias do insólito, como o fantástico, dizem que essa literatura tem por característica
colocar a realidade num conflito com o sobrenatural, como na obra de Tzvetan Todorov (2012)
e David Roas (2014) e, segundo Irène Bessière (2009), para estabelecer uma charada ao seu
leitor. No entanto, muitos autores têm discutido que eventos insólitos presentes em textos de
literaturas africanas estão representando crenças sociais e não o sobrenatural. A partir dessa
problemática, no primeiro capítulo faz-se uma retomada do contexto moçambicano e, no
segundo capítulo, uma retomada das teorias que estudam o insólito, como o fantástico e o
realismo maravilhoso. O objetivo é analisar os acontecimentos insólitos presentes nos contos,
mas sem desprezar o indício de elementos culturais africanos.
Cette dissertation se propose d’analyser trois contes du livre O fio das missangas de Mia Couto,
auteur du Mozambique: “O homem cadente”, “Inundação” et “A infinita fiadeira” à partir des
théories de l’insolite. Les trois contes présentent des éléments qui provoquent la déstabilisation
du réel connu du lecteur : un homme, après s’être jeter du haut d’un bâtiment, reste dans les
airs sans tomber, des objets disparaissent et réapparaissent, une araigné est transformée en
humaine parce qu’elle est une artiste. Les théoriciens de l’ insolite, comme ceux du fantastique
Tzvetan Todorov (2012) et David Roas (2014) et du réalisme merveilleux, s’accordent à dire
que cette littérature insère des éléments conflictuels dans la réalité, afin de poser, selon Irène
Bessière (2009), une énigme et un décryptage capable de la reformuler. Cependant, plusieurs
auteurs semblent croire que les événements insolites, courants dans les textes littéraires
africains, représentent des croyances sociales qui ne relèvent pas du surnaturel. À partir de cette
problématique, dans le premier chapitre, nous présenterons l’auteur et le contexte du
Mozambique, dans le second chapitre nous reprendrons les théories de l’insolite en rappelant
les principaux aspects, comme le fantastique, le merveilleux et le réalisme magique afin de
réfléchir sur les éléments insolites présents dans ces histoires en relation à la construction
fictionnelle, tout en tenant compte des marques socioculturelles relevant de la culture africaine.