Abstract:
Esta pesquisa advém do cruzamento entre três temas: o animal, o humano e a poesia. Procura
abordá-los a partir do pensamento de Jacques Derrida, recorrendo também às contribuições de
Georges Bataille sobre o sagrado e a heterologia, porque são entendidas como herança da
desconstrução. A desconstrução derridiana inaugura um pensamento de acolhida do animal, em
resposta à tradição da metafísica da presença que negou ao animal a pertinência enquanto tema
especulativo. Sobretudo, desconstrução dos pretensos “próprio do homem” – razão, fala,
cultura, política, religião, dom etc. –, ou seja, de atributos formulados pela tradição filosófica
ocidental que distinguiriam o humano dos viventes não humanos, estes últimos chamados
genericamente de “O animal”. Ao explorar a questão animal, a desconstrução se propõe a abalar
as fronteiras rígidas que separam o vivente humano dos viventes não humanos, a fim de
evidenciar que as relações entre as formas do vivo não se sustentam quando postas em termos
de mero antagonismo – violência especista. Esta dissertação traz à cena a coletânea de falatórios
de Stela do Patrocínio, transpostos para a forma escrita e versificada na obra Reino dos bichos
e dos animais (2001), aproximando-os do pensamento animal da desconstrução, especialmente
devido à expressão zoopoética dos falatórios. Busca, igualmente, avizinhar a violência especista
e antropocêntrica direcionada ao “O animal” àquela violência sofrida por Stela do Patrocínio,
cuja vida transcorreu quase integralmente na clausura do hospício, assim como à violência
antissemita e colonialista padecida por Jacques Derrida. A intersecção entre biografias de dor
tão distintas – o animal, a mulher louca e o judeu – torna-se possível a partir da atuação da
violência falogocêntrica do poder soberano que desqualifica e inferioriza formas de vida, seja
o do animal, seja o do louco, em nome da superioridade ontológica do Humano. A
desconstrução reivindica outra ética capaz de acolher qualquer forma de vida, incluindo tanto
o vivente humano quanto o vivente não humano.
Cette recherche provient du croisement parmi trois thèmes: l'animal, l'humain et la poésie. Ella
cherche à les aborder à partir de la pensée de Jacques Derrida, ainsi qu’à partir des contributions
de Georges Bataille sur le sacré et l’hétérologie, parce qu’elles sont perçues comme un héritage
de la déconstruction. La déconstruction derridienne inaugure une pensée qui accueille l'animal,
en réponse à la tradition de la métaphysique de la présence qui a refusé à l'animal la pertinence
comme thème spéculatif. Surtout, déconstruction d'un prétendu « propre de l'homme » – raison,
discours, culture, politique, religion, don etc. –, c'est-à-dire, des attributs formulés par la
tradition philosophique occidentale qui distingueraient l'humain du vivant non humain, ce
dernier étant appelé génériquement de "L'animal". En explorant la question animal, la
deconstruction prétendent ébranler les frontières rigides qui séparent le vivant humain du vivant
non humain, afin de montrer que les relations parmi les formes de vie ne se soutiennent si elles
sont mis en termes de simple antagonisme – violence spéciste. Cette thèse met en scène le
recueil des « falatórios » de Stela do Patrocínio, transposés en forme écrite et versifiée dans
Reinos dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), en les approchant de la pensée animal
de la déconstruction, notamment en raison de l'expression zoopoétique des « falatórios ».
Recherche aussi approcher la violance spéciste et anthropocentrique contre « l’Animal » à celle
violence subie par Stela do Patrocínio, dont la vie était limitée presque entièrement à l’espace
fermé du hospice, ainsi qu'à celle violence antisémite et colonialiste vécue par Jacques Derrida.
L’intersection des biographies de la douleur si différent – l'animal, la femme folle et le juif –
devient possible à partir de la violence phallogocentrique du pouvoir souverain qui disqualifie
et rend inférieur les formes de vie, soit les animaux, soit le « fou », au nom de la supériorité
ontologique de l'Humain. La déconstruction revendique une autre éthique capable d'accueillir
n'importe quelle forme de vie, y compris celle du vivant humain et celle du vivant non humain.