Abstract:
O objetivo do presente trabalho é analisar como são construídas as carreiras de pessoas travestis
e transexuais que integram o mercado de trabalho formal. Esse recorte se justifica pela
importância de demarcar, dentro deste universo, pessoas que chegaram na condição de acesso
ao mercado de trabalho formal, uma vez que o índice de trabalhadoras e trabalhadores travestis
e transexuais que atuam no mercado de trabalho informal é altamente expressiva.
Metodologicamente, o estudo caracteriza-se como descritivo-exploratório, de abordagem
qualitativa, utilizando o método de história de vida. Para a seleção dos participantes, utilizouse a técnica de bola de neve, não havendo um recorte geográfico que limitasse a pesquisa. Os
dados foram coletados por entrevistas aprofundadas e examinados através da análise por
categoria temática. Os resultados revelam a importância de refletir as carreiras para além da
capacidade de agencia individual, levando em consideração as condições sociais, econômicas,
políticas e culturais para uma análise das trajetórias profissionais. A sociabilidade primária e a
socialização educacional foram reconhecidas como contextos que influenciam nas trajetórias
de pessoas desta população, uma vez que ambas instituições foram representadas como
responsáveis por retificar as normas de gênero. Identificou-se que os ciclos de vida de pessoas
travestis e transexuais são marcados por momentos específicos que atravessam suas carreiras,
como a de transição de gênero e retificação do nome no registro civil. Compreendeu-se que a
dicotomia de gênero imposta nas relações de trabalho a partir da divisão sexual do trabalho traz
grandes dificuldades para aquelas e aqueles que não correspondem a norma de gênero instituída.
Para as mulheres transexuais componentes deste estudo, as poucas oportunidades que não
apareceram envolvendo a prostituição, foram ofertadas na área da beleza e da estética. Apesar
do expressivo índice que marca a exclusão social da população travesti e transexual dos espaços
formais, cinco dos sete participantes deste estudo tiveram acesso ao ensino superior e todos e
todas reconheceram como uma forma de superação da norma. O preconceito e a discriminação
vivenciados na escola, também se estenderam para aquelas e aqueles que tiveram acesso ao
ensino superior. Identificou-se também que, no processo da busca por emprego, houveram em
alguns casos, a interferência de atores externos que contribuíram para que os participantes deste
estudo conseguissem acesso ao mercado de trabalho formal. Todos os sujeitos entrevistados
tiveram acesso ao mercado de trabalho formal, sendo possível qualificar e identificar os níveis
de integração em suas ocupações atuais. Conclui-se que as carreiras construídas por pessoas
travestis e transexuais são atravessadas por preconceito e discriminação e estão marcadas por
um processo de exclusão social mais amplo, reincidindo diretamente na integração no mercado
de trabalho formal. Quando integradas/os no mercado de trabalho formal, se integram à vida
social, criando uma identidade social e profissional e estabelecendo laços de pertencimento.
The present study aims to analyze how the careers of travestite and transgender people are
integrated in the formal labor market. This social cut-off is justified by the importance of
demarcating, within this universe, people who reached the condition to access the formal labor
market, since the rate of transvestite and transsexual workers who work in the informal labor
market is highly expressive. Methodologically, the study is characterized as descriptiveexploratory, with a qualitative approach, using the life history method. Regarding the selection
of participants, the snowball technique was used, with no geographical cut-off that limited the
research. The data were collected through in-depth interviews and examined through thematic
category analysis. The results reveal the importance on reflecting careers beyond the capacity
of individual agency, taking into account the social, economic, political and cultural conditions
for an analysis of professional trajectories. Primary sociability and educational socialization
were recognized as contexts that influence the trajectories of people in this population, since
both institutions were represented as being responsible for rectifying gender norms. It was
identified that the life cycles of transvestite and transsexual people are marked by specific
moments that cross their careers, such as the gender transition and name rectification in the civil
registry. It was understood that the gender dichotomy imposed on labor relations based on the
sexual division of labor poses great difficulties for those who do not correspond to the
established gender norm. For the transsexual women who are part of this study, the few
opportunities that did not appear involving prostitution, were offered in the beauty and
aesthetics area. Despite the expressive index that marks the social exclusion of the transvestite
and transsexual population from formal spaces, five of the seven participants in this study had
access to higher education and all recognized it as a way to overcome the norm. The prejudice
and discrimination experienced at school also extended to those who had access to higher
education. It was also identified that in the job search process there were, in some cases, the
interference of external agents that contributed to the participants of this study to gain access to
the formal job market. All subjects interviewed had access to the formal job market, making it
possible to qualify and identify the levels of integration in their current occupations. It is
concluded that the careers built by transvestite and transsexual people are crossed by prejudice
and discrimination and are marked by a broader process of social exclusion, directly reoccurring
in the formal job market integration. When integrated into the formal job market, they integrate
with social life, creating a social and professional identity and establishing belonging bonds.