Abstract:
O presente trabalho visa contribuir para a compreensão das disputas memoriais
envolvendo o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil
(PCdoB) no contexto de suas comemorações de centenário em 2022. Para tanto,
foram analisadas as condições de fundação do partido em 1922 e, de maneira mais
aprofundada, a conjuntura que sedimentou a divisão dos comunistas entre as
décadas de 1940 e 1960. Na investigação das disputas memoriais, foram
mobilizados os conceitos de Michael Pollak de enquadramento de memória e de
trabalho da memória em si. Para o empreendimento da análise foram elencados dois
marcos memoriais: a cisão de 1962 e a reivindicação memorial sobre o legado de
Luiz Carlos Prestes. Como conclusão, afirma-se que a tradição comunista brasileira
inaugurada em 1922 não é e tampouco poderia ser reivindicada de maneira
monopolista por nenhum partido, sendo parte da tradição revolucionária de qualquer
agrupamento comunista contemporâneo. Com relação às reivindicações sobre a
continuidade institucional dos partidos, este trabalho não procura afirmar a
existência do “verdadeiro” partido centenário, mas compreender os mecanismos
memoriais acionados pelas agremiações em suas pretensões memoriais. Assim,
verificou-se a fragilidade da reivindicação memorial do PCdoB, tendo em vista seu
necessário trabalho de enquadramento de memória a partir da cisão de 1962. Com
relação ao PCB, considerou-se que esta agremiação atravessou um período calmo
da memória até a década de 1990, quando se pôde perceber um necessário
trabalho enquadramento de memória e contraposição de sua história diante do
PCdoB.
The present work aims to contribute to the understanding of memory disputes
involving the Brazilian Communist Party (PCB) and the Communist Party of Brazil
(PCdoB) in the context of their centenary celebrations in 2022. To this end, the
party's founding conditions in 1922 were analyzed and, in more depth, the historical
conjuncture that has paved the way for the communist split between 1940s and
1960s in Brazil. Throughout the present investigation regarding memory disputes,
Michael Pollak's concepts of memory framing and memory work in itself were
mobilized. For the analysis undertaking, two memorial landmarks were highlighted:
the 1962 split and the memory claim over Luiz Carlos Prestes's legacy. In conclusion,
it is stated that the Brazilian communist tradition inaugurated in 1922 is not and could
not be monopolistically claimed by any party, actually being part of a revolutionary
tradition rooted in any contemporary communist organization. In what concerns the
institutional continuity of these political parties, this work does not seek to affirm the
existence of one solely “truthful” centenary party. Due to the excessive
historiographical production written and the necessary work of memory framing from
1962 on in order to justify PCdoB's claiming, one can verify the fragility of their view
point. On the other hand, regarding PCB, a similiar process of memory framing could
be seen with greater emphasis from 1992 onwards, a period of greater vulnerability
for the party.