Abstract:
Neste trabalho temos por objetivo identificar representações excludentes reproduzidas nos espaços escolares, a partir das categorias raça, pobreza, perspectivas de mundo e futuro. Para tanto, partimos da perspectiva do historiador Marc Ferro (1990) de que, durante a infância, os sujeitos produzem sentidos e constroem narrativas sobre sua identidade e sobre os "outros", ou seja, outros grupos sociais, outras sociedades, outros lugares, a partir das histórias que são reproduzidas e legitimadas nas/pelas instituições sociais (família, escola etc.). Ainda, baseamo-nos na perspectiva de que as condições sociais de existência de pobres e negros são fruto de um processo histórico de exclusão e igualmente da reprodução de representações hegemônicas que legitimam a injustiça sobre os mesmos, negando a distribuição desigual de riquezas, assim como perpetuando o racismo institucional no Brasil. A partir destas perspectivas nos apropriamos de uma discussão teórica sobre exclusão, processos de representação social e educação etnicorracial, para então realizar as práticas investigas no espaço escolar e analisar as representações de crianças pobres e negras. As práticas investigativas desta pesquisa foram desenvolvidas na Escola Alcides Barcelos, localizada no Bairro Getúlio Vargas, retrato da exclusão social e racial na cidade de Rio Grande/RS, e organizadas em três encontros semanais desenvolvidos com crianças de 9 a 13 anos, alunos(as) de 4º e 5º ano da Escola Estadual Alcides Barcelos, onde buscamos ouvir e observar suas representações a partir da contação de histórias de temática etnicorracial contadas por três mulheres negras. Relacionando as práticas investigativas às perspectivas teóricas chegamos à conclusão de que não é suficiente acreditar numa transformação social através da Escola, visto que ela serve a ordem dominante e reproduz representações sociais e raciais com vistas à sua manutenção. Contudo, acreditamos que é possível que os agentes sociais produzam uma reeducação das relações etnicorraciais, fomentadas a partir da desconstrução dos privilégios, reconhecimento dos grupos excluídos na história, denúncia da sociedade classista e racista, e no protagonismo de crianças pobres e negras através de suas experiências do cotidiano escolar e do ensino de História.
In this paper we aim to identify exclusionary representations reproduced in the school space, from the subjects of race, poverty, perspectives of the world and future. To that end, we start from the perspective of the historian Marc Ferro (1990), that during childhood, subjects produce meaning and construct narratives about their identity and about persons, i.e., other social groups, other societies, from stories that are reproduced and legitimized in/by social institutions (family, school, etc.). Also, we based on the perspective that the social conditions of existence of the poor and black people are the result of a historical process of exclusion and also of the reproduction of hegemonic representations that legitimize injustice over them, denying the unequal distribution of wealth, as well as perpetuating institutional racism in Brazil. Based on these perspectives, we have appropriated a theoretical discussion about exclusion, processes of social representation and ethno-racial education, in order to carry out practical research in the school space and analyze the representations of poor and black children. The investigative practices of this research were developed at the Alcides Barcelos School, located in the neighborhood of Getúlio Vargas, a portrait of social and racial exclusion in the city of Rio Grande/RS. Organized in three weekly meetings, developed with children from 9 to 13 years old, students of the 4th and 5th year of the Alcides Barcelos State School, we sought to listen and to observe their representations from the talk of ethnoracial stories told by three black women. Relating investigative practices to theoretical perspectives, we conclude that it is not enough to believe in a social transformation through the school, since it serves the dominant order and reproduces social and racial representations with a view to its maintenance. However, we believe that it is possible for social agents to produce a re-education of ethno-racial relations, fostered by the deconstruction of privileges, recognition of excluded groups in history, denunciation of class and racist society, and the protagonism of poor and black children through their experiences of daily school life and teaching History.