Abstract:
Com o objetivo de avaliar os efeitos da densidade de estocagem e da utilização de substratos artificiais sobre a produção do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis cultivado em cercados, dois experimentos foram realizados simultaneamente no estuário da Lagoa dos Patos, RS, entre os meses de janeiro e abril de 2004, totalizando 86 dias de cultivo. No experimento 1 foram utilizados 12 cercados com 50 m2 de área de fundo. Os cercados, feitos com rede de poliéster revestida de PVC (malha de 5,0 mm e altura de 2,1 m), foram sustentados por bambus. Em cada unidade experimental foi adicionado 25 m2 de substrato vertical (tela de polietileno com malha de 1,0 mm e cor verde). Juvenis de camarão com peso médio (±DP) de 0,80 ± 0,28 g foram estocados nas densidades de 10, 20, 40 e 60 camarões/m2 com 3 repetições por tratamento. Uma ração comercial foi fornecida em bandejas duas vezes ao dia. A cada 14 dias se avaliou a concentração de clorofila a e o peso seco do biofilme aderido ao substrato artificial dos diferentes tratamentos. Para acompanhar o crescimento dos animais, 30 camarões de cada unidade experimental foram pesados a cada 14 dias. Ao final do cultivo todos os camarões foram retirados dos cercados para avaliar a sobrevivência, o peso e a biomassa de cada unidade experimental. No experimento 2 foram utilizados 6 cercados similares aos do experimento 1, porém com densidade de estocagem de 20 camarões/m2 . Dois tratamentos foram testados: com substrato artificial para fixação do biofilme (similar ao experimento 1) e sem substrato. O povoamento dos cercados, a alimentação e o acompanhamento do crescimento dos camarões seguiram a mesma metodologia utilizada no experimento 1. A análise dos dados do experimento 1 foi realizada com ANOVA seguido do teste de Tukey (α=0,05), enquanto no experimento 2 os resultados foram analisados através do “teste t” (α=0,05). No experimento 1, a concentração de clorofila a não apresentou uma relação clara com as diferentes densidades de estocagem. Porém, observaram-se valores mais elevados de peso seco do biofilme na menor densidade de estocagem, provavelmente devido à menor predação dos camarões sobre o biofilme naquele tratamento. A sobrevivência e o crescimento dos camarões foram inversamente proporcionais à densidade de estocagem. No experimento 2, a utilização de substratos artificiais não afetou significativamente as taxas de sobrevivência, crescimento e conversão alimentar dos camarões. Entretanto, em todos vii os tratamentos do experimento 1, entre o 58o e 72o dias de cultivo, observaram-se quedas no peso seco do biofilme e na taxa de conversão alimentar, as quais ocorreram simultaneamente a um aumento na taxa de crescimento. Isto sugere que os camarões consumiram o biofilme neste período. Desta forma, os resultados do presente estudo sugerem que apesar da utilização de substratos artificiais não ter resultado em melhoras significativas na produtividade de F. paulensis cultivado em cercados na densidade de 20 camarões/m2 , o biofilme tem um papel importante na alimentação dos camarões. Além disso, os resultados indicam que o cultivo de F. paulensis em cercados deva ser realizado com densidades de, no máximo, 20 camarões/m2.
The present study evaluated the effects of stocking density and the use of artificial substrates on the production of the shrimp Farfantepenaeus paulensis cultured in pen enclosures. Two 86 day-long experiments were carried out simultaneously in the estuary of the Patos Lagoon, southern Brazil, from January to April, 2004. In experiment 1, twelve pen enclosures each with a 50 m2 bottom area were used. Bamboo poles supported the 2.1 m high PVC-coated polyester netting (mesh opening of 5.0 mm). Each experimental unit received 25 m2 of 1.0 mm green plastic netting as artificial substrates, which were added to increase the area available for biofilm attachment. Shrimp juveniles with a mean weight (±SD) of 0.80 ± 0.28 g were stocked at the densities of 10, 20, 40 and 60 shrimp/m2 in 3 replicates per treatment. A commercial shrimp diet was provided twice daily in one feeding tray per pen enclosure. Every 14 days, the concentrations of chlorophyll a and the dry weight of the biofilm, as well as the weight of 30 shrimp from each experimental unit, were estimated in each experimental unit. At the end of the experimental period, all shrimp were individually counted and weighed. In experiment 2, six pen enclosures similar to those used in experiment 1 were stocked with 20 shrimp/m2 . Two treatments were tested: with and without the addition of artificial substrates. Feeding and the monitoring of growth and water quality were performed as in experiment 1. Statistical analysis of the data from experiment 1 was carried out by ANOVA followed by Tukey’s test (α=0.05), while for experiment 2 Student’s test was applied (α=0.05). In experiment 1, the concentration of chlorophyll a presented no clear relationship with stocking density, but a trend towards a greater dry weight of the biofilm at lower stocking densities was observed, which is probably a result of the larger predation by shrimp. Survival and growth were inversely proportional to stocking density. In experiment 2, the use of artificial substrates had no significant effect on survival, growth and feed conversion rates. However, decreases in the dry weight of the biofilm and in the feed conversion rate were observed in every treatment in experiment 1, on day 58 and 72, which occurred simultaneously with an increase in shrimp growth rate. This suggests that shrimp did consume the biofilm during this period. Although the use of artificial substrates resulted in no significant improvement on the productivity of F. paulensis reared in pen enclosures at 20 ix shrimp/m2 , the present results indicate that biofilm plays an important role in shrimp feeding. The present results also indicate that the culture of F. paulensis in pen enclosures should be carried out at stocking densities as high as 20 shrimp/m2.