Abstract:
A exposição à amônia pode influenciar no aumento excessivo da produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) nos organismos aquáticos. No entanto, o fornecimento de dietas com a suplementação ou inclusão de antioxidantes podem agir como uma alternativa de quimioproteção, amenizando efeitos deletérios causados pelas ERO. A fruta amazônica Euterpe oleracea, conhecida popularmente como “açaí”, possui em sua composição grandes quantidades de compostos fenólicos que conferem a esta fruta uma excepcional capacidade antioxidante. Em razão disto, a inclusão de E. olaracea na dieta do L. vannamei poderia aumentar a resiliência desses animais para lidar com a toxicidade da amônia. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar os possíveis danos oxidativos causados pela exposição à amônia em juvenis de L. vannamei, e se esses danos poderiam ser atenuados em função da presença do açaí liofilizado na ração. Durante 35 dias, camarões com peso inicial (média ± 1 erro padrão) de 0,97 ± 0,03 g foram alimentados com duas dietas experimentais em triplicata: dieta controle (sem inclusão de açaí) e dieta com a inclusão de 10 % açaí (P/P). Após esse período, camarões com peso médio de 3,87 ± 0,04 g foram distribuídos em 24 tanques com 40 L, contendo 10 camarões por caixa, e expostos durante 96 h a quatro concentrações sub-letais de amônia (0,01- controle; 0,26; 0,48; e 0,91 mg NH3-N L-1 ), representando um sistema fatorial de 2 (dieta com e sem açaí) x 4 (total de concentrações de amônia testada) em triplicata. Os dados foram submetidos à análise de variância modelo misto (ANOVA), sendo o fator aleatório as diferentes caixas utilizadas e os fatores fixos as dietas e as concentrações de amônia avaliadas. Para detectar possíveis diferenças entre os tratamentos foi aplicado o teste de Newman-Keuls com um nível de significância de 0,05. Amostras de brânquias, hepatopâncreas e músculo foram coletas para análises do conteúdo de polifenóis e flavonóides, da capacidade antioxidante total (ACAP), glutationa reduzida (GSH), glutationa-S-transferase (GST), grupos sulfidrilas associados a proteínas (P-SH) e peroxidação lipídica (TBARS). A presença do açaí na dieta não afetou os parâmetros zootécnicos do L. vannamei. O hepatopâncreas foi o único tecido que apresentou um incremento do conteúdo de polifenóis e flavonoides nos organismos alimentados com açaí (p<0,05). A ACAP das brânquias diminuiu significativamente em ambas as dietas após a exposição à amônia (p<0,05), enquanto no músculo dos camarões alimentados com açaí houve um aumento da capacidade antioxidante na mesma situação (p<0,05). A perda de competência antioxidante nas brânquias favoreceu o aumento dos níveis de TBARS na dieta com açaí neste tecido (p<0,05). Ao contrário das brânquias, a diminuição do dano lipídico observado nos tratamentos 0,48 e 0,91 mg NH3-N L-1 no músculo dos camarões que consumiram açaí, foi influenciado pelo aumento da ACAP (p<0,05). Não houve diferenças significativas nas concentrações de GSH nos órgãos para ambas as dietas (p>0,05). Nas brânquias, o açaí promoveu uma queda significativa da atividade da GST em todas as concentrações de amônia em relação a dieta controle, e no músculo, diferentemente da dieta controle, o açaí atuou na manutenção da GST, o que reforça os resultados encontrados no conteúdo de TBARS nestes tecidos, uma vez que o dano lipídico aumentou nas brânquias e diminuiu no músculo. A concentração de grupos sulfidrilas (P-SH) diminuiu significativamente nas brânquias e músculo dos camarões da dieta controle quando expostos à amônia, induzindo ao dano proteico, resposta que não foi observada na dieta com inclusão de açaí no decorrer das concentrações de amônia. Em conclusão, a amônia induziu ao estresse oxidativo nas brânquias e músculo, entretanto, a inclusão do açaí na dieta do L. vannamei apresentou efeitos antioxidantes nos diferentes órgãos, não agravando o dano proteico nas brânquias e músculo e atenuando o dano lipídico no músculo.
Exposure to ammonia may influence the excessive increase in the production of reactive oxygen species (ROS) in aquatic organisms. However, the provision of diets with supplementation or inclusion of antioxidants may act as an alternative to chemoprotection, alleviating deleterious effects caused by ROS. The Amazon fruit Euterpe oleracea, popularly known as "açaí", has in its composition large amounts of phenolic compounds that give this fruit an exceptional antioxidant capacity. Because of this, the inclusion of E. olaracea in the diet of L. vannamei could increase the resilience of these animals to deal with ammonia toxicity. In this context, the objective of this study was to evaluate the possible oxidative damages caused by exposure to ammonia in juveniles of L. vannamei, and whether these damages could be attenuated due to the presence of lyophilized açaí in the diet. For 35 days, shrimp with initial weight (mean ± 1 standard error) of 0.97 ± 0.03 g were fed two experimental diets in triplicate: control diet (without the inclusion of açaí) and diet with inclusion of 10% açaí (P/P). After this period, shrimp with an average weight of 3.87 ± 0.04 g were distributed in 24 tanks with 40 L, containing 10 shrimps per tank, and exposed for 96 h to four sublethal concentrations of ammonia (0.01-control; 0.26, 0.48 and 0.91 mg NH3-N L-1 ), representing a factorial system of 2 (diet with and without açaí) x 4 (total ammonia concentrations tested) in triplicate. The data were submitted to analysis of variance mixed model (ANOVA), being the random factor the different tanks used and the fixed factors the evaluated diets and ammonia concentrations. To detect possible differences between treatments, the Newman-Keuls test with a significance level of 0.05 was applied. Samples of gills, hepatopancreas and muscle were collected for analyses of the content of polyphenols and flavonoids, of total antioxidant capacity (ACAP), reduced glutathione (GSH), glutathione-S-transferase (GST), protein-associated sulfhydryl groups (P-SH) and lipid peroxidation (TBARS). The presence of açaí in the diet did not affect the zootechnical parameters of L. vannamei. The hepatopancreas was the only tissue that presented an increase in the content of polyphenols and flavonoids in organisms fed with açaí (p <0.05). The ACAP of the gills decreased significantly in both diets after exposure to ammonia (p <0.05), whereas in the muscle of açaí-fed prawns there was an increase in antioxidant capacity in the same situation (p <0.05). The loss of antioxidant competence in the gills favored increased levels of TBARS in the açaí diet in this tissue (p <0.05). In contrast to the gills, the decrease in lipid damage observed in treatments of 0.48 and 0.91 mg NH3-N L-1 in the muscle of shrimp that consumed açaí was influenced by the increase in ACAP (p <0.05). There were no significant differences in GSH concentrations in the organs for both diets (p> 0.05). In the gills, açaí promoted a significant drop in GST activity in all concentrations of ammonia in relation to the control diet, and in the muscle, unlike the control diet, the açaí acted to maintain the GST, which reinforces the results found in the content of TBARS in these tissues, since lipid damage increased in the gills and decreased in the muscle. The concentration of sulfhydryl groups (P-SH) decreased significantly in the gills and muscle of the control diet shrimp when exposed to ammonia, inducing protein damage, a response that was not observed in the açaí inclusion diet. In conclusion, ammonia induced oxidative stress in the gills and muscle, however, the inclusion of açaí in the diet of L. vannamei presented antioxidant effects in the different organs, not aggravating the protein damage in the gills and muscle and attenuating the lipidic damage in the muscle.