Abstract:
Objetivo: verificar a associação entre características do sono (cronotipo, latência, inércia
e duração) e a chance de apresentar sintomas depressivos e ansiosos em mulheres no pós-parto
imediato. Delineamento: estudo transversal de base populacional realizado a partir do inquérito
perinatal de 2019 da cidade de Rio Grande, RS. População alvo: todas mulheres cujos filhos
nasceram vivos em 2019, em alguma das duas maternidades do município onde ocorrem 99,5%
dos partos. Desfecho: sintomas depressivos, avaliados utilizando a Escala de Depressão Pós-
Parto de Edimburgo, e sintomas ansiosos, utilizando a Escala General Anxiety Disorder 7-item.
Análise estatística: Foram calculadas prevalências de depressão e ansiedade para a população
total. Médias e prevalências das características do sono foram calculadas conforme
operacionalização da variável. Para verificar diferenças entre os grupos, foram utilizados testes
bivariados e, finalmente, regressões logísticas para avaliar o efeito das características do sono
sobre a saúde mental. Os modelos incluíram caraterísticas socioeconômicas como variáveis de
ajuste. Resultados: 2.314 mães responderam ao questionário geral. Dessas, foram analisadas
2.277 para sintomatologia depressiva e 2.307 para ansiosa. A prevalência de sintomas
depressivos na amostra foi de 13,7% e de sintomas ansiosos foi 10,7%. Puérperas de cronotipo
vespertino (p=0,015), latências maiores de 10 minutos e inércias maiores de 30 minutos
(p<0,001) associaram-se a sintomas depressivos, aumentando as chances desses ocorrerem,
enquanto que a duração do sono (p=0,004) associou-se a uma diminuição de chances para
sintomas de depressão. A associação do sono com sintomatologia ansiosa se deu apenas nas
puérperas com latência intermediária (11 a 30 minutos; p<0,001), inércia intermediária em dias
livres (p<0,001) e inércia com mais de 30 minutos em dias de trabalho (p=0,019). A maior
prevalência de sintomas de depressão (20,43%) e de ansiedade (16,87%) foi encontrada entre
aquelas mulheres que demoravam mais de 30 minutos para sair da cama em dias de trabalho.
Conclusão: conclui-se que latência e inércia do sono associam-se a depressão e ansiedade, e que
cronotipo e duração do sono associam-se a depressão. Inércia de mais de 30 minutos em dias de
trabalho mostrou ser um importante marcador para esses transtornos e merece melhor atenção
nas avaliações e intervenções em saúde.
Objective: to verify the association between sleep characteristics (chronotype, latency,
inertia and duration) and the chance of presenting depressive and anxiety symptoms in women
in the immediate postpartum period. Design: a population-based cross-sectional study based on
the 2019 perinatal survey in the city of Rio Grande, RS. Target population: all women whose
children were born alive in 2019 in one of the two maternity hospitals in the municipality where
99.5% of births occur. Outcome: depressive symptoms, assessed using the Edinburgh
Postpartum Depression Scale, and anxiety symptoms, using a 7-item General Anxiety Disorder
Scale. Statistical analysis: Prevalences of depression and anxiety were calculated for the total
population. Means and prevalence of characteristics were calculated according to the
operationalization of the variable. To verify differences between groups, bivariate tests and
finally logistic regressions were used to assess the effect of sleep characteristics on mental
health. The models included socioeconomic characteristics as adjustment variables. Results:
2,314 mothers answered the general questionnaire. Of these, 2,277 were analyzed for
depressive symptoms and 2,307 for anxious symptoms. The prevalence of depressive symptoms
in the sample was 13.7% and of anxiety symptoms 10.7%. Postpartum women of the evening
chronotype (p = 0.015), longer latencies than 10 minutes and longer inertia than 30 minutes (p
<0.001) were associated with depressive symptoms, increasing the chances of occurring this
symptoms, while sleep duration (p = 0.004) it was associated with a decreased chance of
symptoms of depression. The association of sleep with anxious symptoms occurred only in
puerperal women with intermediate latency (11 to 30 minutes; p <0.001), intermediate inertia
on free days (p <0.001) and inertia with more than 30 minutes on working days (p = 0.019). The
highest prevalence of symptoms of depression (20.43%) and anxiety (16.87%) was found among
those women who took more than 30 minutes to get out of bed on workdays. Conclusion: it is
concluded that sleep latency and inertia are associated with depression and anxiety, and that
chronotype and sleep duration are associated with depression. Inertia more than 30 minutes in
working days has been shown to be an important marker for these disorders and deserves better
attention in health assessments and interventions.