A construção de espaços de letramento racial crítico na sala de aula: possibilidades para a educação das relações étnico-raciais

Abstract

A escola, por apresentar uma dinâmica social, cultural e política variada em suas relações, é o ambiente apropriado para a discussão sobre processos identitários e ações que envolvam a educação para as relações étnico-raciais. A presente pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede estadual do Rio Grande do Sul com alunos do sexto ano do Ensino Fundamental Anos Finais e tem como objetivo analisar como a construção de um espaço de letramento racial crítico em uma turma de sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública pode contribuir para a educação das relações étnico-raciais. Esse espaço de letramento racial crítico é representado por um acervo de livros que formam uma biblioteca móvel e itinerante que circula pela escola. Os livros se enquadram no campo artístico-literário conforme a Base Nacional Comum Curricular de Língua Portuguesa (BRASIL, 2018) e tratam da temática africana e afro-brasileira de acordo com obrigatoriedade da Lei 10.639/03, que introduziu o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas do país (BRASIL, 2003). A partir das estratégias de leitura e escrita realizadas com base nos livros de literatura que compõem o acervo da biblioteca, buscou-se analisar o desenvolvimento de processos de identificação com a história, a cultura, a identidade africana e afro-brasileira que podem contribuir para a construção de uma educação antirracista. Sendo assim, esta pesquisa, de abordagem qualitativa, comporta um estudo de caso, ampara-se no campo da linguística aplicada, por estudar práticas sociais e linguageiras na escola. O embasamento teóricometodológico abrange COSSON (2021), FERREIRA (2015), GOMES (2017), GONZALEZ (2018), HALL (2020), hooks (2013), MUNIZ (2016), RAJAGOPALAN (2003), SOUZA (2011), entre outros. O estudo revelou que a presença da biblioteca móvel e itinerante composta por livros que tratam da temática africana e afro-brasileira, como espaço de letramento racial crítico, contribuiu com a educação das relações étnico-raciais ao aproximar os estudantes de personagens protagonistas negras, de enredos que mostram a herança do universo cultural africano, da identidade negra apresentada de forma positiva e do enfrentamento às situações de racismo. Neste sentido, conclui-se que as práticas de linguagem desenvolvidas com os estudantes podem contribuir para a formação de uma sociedade mais igualitária, que se preocupa em combater o racismo e reconheça a pluralidade cultural e a diversidade étnicoracial de nosso país.

The school reflects social, cultural, and political dynamics of all kinds throughout its relationships, and, as such, it becomes a proper environment for discussions on processes of recognition and actions involving education about racial-ethnic relationships. The following study was conducted at a public state school in Rio Grande do Sul, with sixth grade, middle school students, and its goal is to analyse how creating a space for critical race theory literacy in a sixth grade class might contribute for racial-ethnic education in the classroom. Such literacy is represented by a collection of books that constitute a mobile, travelling library that moves along the school. These books are all compliant with the artistic-literary demands of the Brazilian Common Core Curriculum for Portuguese (BRAZIL, 2018) and deal with themes of African and African-Brazilian heritage, as established by mandatory law 10.639/03, which introduces African and African-Brazilian History and Culture as part of the curriculum for Brazilian schools (BRAZIL, 2003). From the reading and writing strategies conducted using the books in this mobile library as a starting point, this study aims to analyse the development of process of identification with African and African-Brazilian history, culture, and identity that may contribute to an anti-racist education. As such, this research, in its qualitative approach, encompasses a case study and supports itself as an applied linguistics endeavour, once it studies social practices in a learning environment. Its references include from COSSON (2021), FERREIRA (2015), GOMES (2017), GONZALEZ (2018), HALL (2020), HOOKS (2013), MUNIZ (2016), RAJAGOPALAN (2003), SOUZA (2011), amongst others. The study revealed that the presence of the mobile, travelling library composed of books about African and African-Brazilian issues, as a space for critical race theory literacy, have contributed to the education of racial-ethnic relationships by bringing students together to black protagonists that portray their identity in a positive way, as well as the confrontation of racist situations, and their very own African cultural heritage. In this regard, it is concluded that language practices developed with students shall contribute to an egalitarian society, that is engaged in fighting racism, and that recognises the cultural plurality and the racial-ethnic diversity in our country.