Abstract:
Queimaduras são lesões que danificam a pele e seus anexos, prejudicando as funções desse
órgão, tais como proteção do corpo, preservação da homeostase dos fluidos corporais,
termorregulação e fornecimento de barreira protetora. Justamente ao lesar tais funções, essas
feridas tornam-se regiões favoráveis ao desenvolvimento de infecções, também pelo fato de
serem de tratamento longo e difícil, que acabam sendo também muito dispendiosos
financeiramente ao sistema de saúde. Por isso, o tratamento de queimaduras tem sido
considerado um problema de saúde pública. Além disso, as alternativas largamente utilizadas
como terapia para o problema apresentam limitações conhecidas, o que tem motivado a
comunidade científica a buscar novas opções. Uma delas é o uso de compostos naturais, como
a curcumina, composto derivado da Curcuma longa, que apresenta atividade anti-inflamatória,
cicatrizante e antimicrobiana. No entanto, em sua forma livre, ela apresenta instabilidade à luz
e baixa biodisponibilidade, trazendo limitações ao seu uso. Nesse contexto, a nanotecnologia
pode oferecer soluções para esse problema, tendo este trabalho o objetivo de apresentar algumas
delas. Primeiramente traçou-se o perfil clínico e epidemiológico de pacientes com queimaduras
internados em um centro de referência no sul do Brasil visando identificar os principais tipos
de queimaduras, a eficácia e toxicidade dos tratamentos utilizados e as principais bactérias
responsáveis por infecções secundárias. Percebeu-se, a partir de uma amostra de 225 pacientes,
a proeminência de homens, que se queimaram em casa, com agente causal de origem térmica,
especialmente água quente. A maior parte dos pacientes obteve queimaduras de 2º grau, foram
tratados com sulfadizina de prata e os principais agentes causadores de infecções foram
Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. Diante disto, visou-se
produzir uma forma farmacêutica para tratamento das queimaduras que apresentasse atividade
antimicrobiana. Para tanto, realizou-se o desenvolvimento de formulações nanotecnológicas
contendo a curcumina, produzindo dois tipos de nanocarreadores– nanoemulsões e carreadores
lipídicos nanoestruturados – por meio da técnica de homogeneização a alta pressão. Essas
formulações foram submetidas a ensaios de caracterização físico-química, estabilidade e
eficiência de encapsulação. Além disso, foram feitos testes de liberação in vitro,
permeação/retenção ex vivo, análise microscópica de mucosas, assim como avaliação da sua
toxicidade e atividade antimicrobiana. Após as análises dos resultados foi verificado que as
nanoemulsões obtiveram um resultado mais promissor para o uso em tratamento de
queimaduras quando comparadas aos carreadores lipídicos nanoestruturados. Com base neste
dado, foram preparadas gazes incorporadas com nanoemulsões contendo curcumina. As
nanoemulsões foram preparadas por duas técnicas – ultrassom e homogeneizador de alta
pressão – e submetidas a ensaios de liberação. Também foram comparadas gazes submetidas à
processo de cationização com outras que não receberam a intervenção e a impregnação das
nanoemulsões nas gazes foi realizada por duas técnicas, utilizando banho-maria e Foullard.
Percebeu-se uma leve vantagem em nanoemulsões produzidas por ultrassom; as gazes
cationizadas apresentaram uma liberação inicial mais rápida da curcumina, enquanto percebeuse uma liberação mais constante da curcumina na gaze não cationizada, abrindo horizontes
distintos para futuros testes in vivo. Por fim, ao unir um curativo já consagrado no tratamento
de queimaduras, como a gaze, a novas possibilidades farmacêuticas, como a impregnação
dessas mesmas gazes com curcumina nanoenapsulada, vislumbra-se a possibilidade de obter
um tratamento promissor a esse problema de saúde pública, proporcionando mais qualidade de
vida ao convalescente e melhores resultados terapêuticos.
Burns are lesions that damage the skin and its appendages, impairing the functions of this organ,
such as protecting the body, preserving body fluid homeostasis, thermoregulation and a source
of protective barrier. Precisely by damaging these functions, these wounds become favorable
regions for the development of infections, also because they are long and difficult to treat, which
also end up being very costly to the health system. Therefore, the treatment of burns is
considered a public health problem. Furthermore, the alternatives widely used as therapy for
the problem have limitations, which has motivated the scientific community to seek new
options. One of them is the use of natural compounds, such as curcumin, a compound derived
from Curcuma longa, which has anti-inflammatory, healing and antimicrobial activity.
However, in its free form, it presents instability to light and low bioavailability, bringing
limitations to its use. In this context, nanotechnology can offer solutions to this problem, and
this work aims to present some of them. First, the clinical and epidemiological profile of
patients with burns admitted to a reference center in Brazil was outlined, identifying the main
types of burns, an efficacy and toxicity of the methods used and the main bacteria responsible
for secondary occurrences. From a sample of 225 patients, men stood out, who burned
themselves at home with a causal agent of thermal origin, mainly hot water. Most patients had
second-degree burns, were treated with silver sulfadizine, and the main causative agents of
infections were Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa and Escherichia coli.
Therefore, it was intended to produce a pharmaceutical form for the treatment of burns with
antimicrobial activity. Therefore, the development of nanotechnological formulations
containing curcumin was carried out, producing two types of nanocarriers - nanoemulsions and
nanostructured lipid carriers - by means of the high pressure homogenization technique. These
formulations were submitted to physical-chemical characterization, stability and encapsulation
efficiency tests. In addition, in vitro release tests, ex vivo permeation/retention, mucosal
microscopic analysis, as well as evaluation of its toxicity and antimicrobial activity were
performed. After analyzing the results, it was found that nanoemulsions have a more promising
result for use in the treatment of burns when compared to nanostructured lipid carriers. Based
on these data, gauzes incorporated with nanoemulsions containing curcumin were prepared.
The nanoemulsions were prepared by two techniques - ultrasound and high pressure
homogenizer - and subjected to release tests. The gauzes submitted to the cationization process
were also compared with others that did not receive the intervention and the impregnation of
nanoemulsions in the gauze was performed by two techniques, using a water bath and Foullard.
A slight advantage was seen in nanoemulsions produced by ultrasound; the cationized gauze
showed a faster initial release of curcumin, while a more constant release of curcumin was noted
in the non-cationized gauze, opening different horizons for future in vivo tests. Finally, by
adding a dressing already established in the treatment of burns, such as gauze, to new
pharmaceutical possibilities, such as the impregnation of these same gauzes with
nanoencapsulated curcumin, the possibility of obtaining a promising treatment for this public
health problem is foreseen, providing better quality of life to the convalescent and better
therapeutic results.