Abstract:
Objetivo: avaliar a tendência temporal e espacial correlacionando o parto cesáreo com
fatores socioeconômicos e obstétricos no Brasil.
Métodos: estudo ecológico de série temporal, com base nos registros de nascidos vivos
do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos. O desfecho foi o parto cesáreo e as
variáveis maternas independentes analisadas foram: idade, escolaridade, situação
marital, cor, tipo de gravidez, duração da gestação e número de consultas de pré-natal.
A análise temporal de 2000 a 2017 foi calculada pela regressão linear generalizada de
Prais-Winsten. A análise espacial de 2000 a 2019 foi realizada pelo Índice Global de
Moran (I) e apresentada por mapas temáticos das macrorregiões e das unidades
federativas do Brasil. O nível de significância para as análises temporal e espacial foram
de 5% e 1%, respectivamente. Os programas estatísticos utilizados foram o Stata versão
15, TerraView versão 4.2.2 e GeoDa versão 1.18.
Resultados: De 2000 a 2019 foram registrados 59.291.381 nascimentos no Brasil,
sendo 49% por cesárea. O estado com a menor prevalência de parto obstétrico foi o
Amapá com 28,3% e a maior em Rondônia com 58,8%, observa-se que as prevalências
de cesárea diminuem à medida que se afastam da região Centro-Oeste. De 2000 a 2009,
houve tendência crescente na prevalência de cesárea em todo o país. Entre 2000 a 2009
a média de cesárea no Brasil passou de 39,7% (DP± 9,8) para 53% (DP± 9,4) com uma
variação anual de 1,7 p.p (IC95% 1,6; 1,8). Nota-se estabilidade na prevalência de
cesárea entre os anos de 2010 e 2017, com um leve declínio a partir de 2015 na região
Sudeste com uma variação anual de -0,9 (IC95% -1,5; 0,0). O grupo de mães com menos
de 11 anos de estudo, idade entre 20 e 34 anos, de cor de pele não branca, que vivem
com companheiro, tiveram filhos a termo, de gestação única e realizaram 7 ou mais
consultas de pré-natal apresentaram maiores prevalências de parto cesáreo. Com relação
à análise espacial, reealizar cesárea apresentou autocorrelação global espacial positiva
(I= 0,435 p= 0,004) e formação de cluster do tipo Alto/Alto, em todas as variávies
estudadas, nos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Observou-se, claramente, a formação de cluster em alguns estados com alta prevalência
de cesariana nos grupos com melhores condições socioeconômicas, melhor
escolaridade, melhor assistência de pré-natal e moradoras de regiões com maior IDHM.
Conclusão: O parto cesáreo continua com as prevalências acima do recomendado pela
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Organização Mundial da Saúde e isso foi identificado nos dois tipos de análises. A
tendência da cesárea mudou de 2010 e 2017, nesse período observa-se uma estabilidade
na maioria dos estados, macrorregiões e no país como um todo e chama à atenção a
tendência decrescente em alguns estados e na região Sudeste. Por meio da análise
espacial foi possível identificar um padrão de alta prevalência de cesárea, em áreas com
melhor Índice de Desenvolvimento Humano, com mais acesso aos serviços de saúde e
melhores condições socioeconômicas.
Objective: to evaluate the temporal and spatial trend correlating cesarean delivery with
socioeconomic and obstetric factors in Brazil.
Methods: ecological time-series study, based on live births records from the Live Births
Information System. The outcome was cesarean delivery and the independent maternal
variables analyzed were: age, education, marital status, color, type of pregnancy,
duration of pregnancy, and number of prenatal visits. The temporal analysis from 2000
to 2017 was calculated by Prais-Winsten generalized linear regression. The spatial
analysis from 2000 to 2019 was performed by the Moran's Global Index (I) and
presented by thematic maps of the macro-regions and federative units of Brazil. The
significance level for the temporal and spatial analyses were 5% and 1%, respectively.
The statistical programs used were Stata version 15, TerraView version 4.2.2 and
GeoDa version 1.18.
Results: From 2000 to 2019, 59,291,381 births were registered in Brazil, 49% by
cesarean section. The state with the lowest prevalence of obstetric delivery was Amapá
with 28.3% and the highest in Rondônia with 58.8%, it is observed that cesarean
prevalences decrease as they move away from the Midwest region. From 2000 to 2009,
there was an increasing trend in cesarean rates across the country. Between 2000 and
2009, the average cesarean rate in Brazil increased from 39.7% (SD± 9.8) to 53% (SD±
9.4) with an annual change of 1.7 p.p (95% CI 1.6; 1.8). Stability in the prevalence of
cesarean section is noted between the years 2010 and 2017, with a slight decline from
2015 in the Southeast region with an annual change of -0.9 (95%CI -1.5; 0.0). The
group of mothers with less than 11 years of study, age between 20 and 34 years, nonwhite skin color, living with a partner, had full-term children, single gestation, and
performed 7 or more prenatal visits showed higher prevalences of cesarean delivery.
Regarding the spatial analysis, cesarean delivery showed overall positive spatial
autocorrelation (I= 0.435 p= 0.004) and formation of High/High clusters for all
variables studied in the Southern, Southeastern and Midwestern states. It was clearly
observed the formation of a cluster in some states with high prevalence of cesarean
sections in groups with better socioeconomic conditions, better education, better
prenatal care and residents of regions with higher HDI.
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Conclusion: The prevalence of cesarean delivery remains above what is recommended
by the World Health Organization and this was identified in both types of analysis. The
cesarean trend changed between 2010 and 2017; in this period, stability was observed in
most states, macro-regions, and in the country as a whole, and the decreasing trend in
some states and in the Southeast region is noteworthy. Through spatial analysis it was
possible to identify a pattern of high prevalence of cesarean sections with the highest
Human Development Index areas, with more access to health services and better
socioeconomic conditions.