Abstract:
A tuberculose (TB), por se tratar de uma grave doença infectocontagiosa,
é uma das prioridades do Ministério da Saúde, sendo que o seu controle é
considerado um desafio, principalmente entre as populações de maior risco,
como as pessoas privadas de liberdade (PPL). Há um reconhecimento crescente
do elevado risco de adquirir TB em prisões, o que está associado com precários
ou inexistentes serviços de saúde, com a superlotação e a ventilação deficiente
destes locais, bem como com as fragilidades sociais inerentes ao próprio
indivíduo. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi analisar os dados
epidemiológicos de PPL diagnosticadas com TB e a diversidade genética de
cepas de Mycobacterium tuberculosis de PPL do estado do Rio Grande do Sul
(RS), Brasil. Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo, que incluiu
notificações de TB, e cepas de M. tuberculosis, provenientes de PPL do RS,
entre o período de 2013 a 2018. Os dados clínicos, epidemiológicos, prisionais
e laboratoriais dos pacientes foram obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (INFOPEN) e nas fichas de registro do Laboratório Central de
Saúde Pública (LACEN) do RS. As cepas utilizadas no estudo foram
provenientes do banco de cepas do LACEN/RS. A caracterização molecular das
cepas foi realizada através da técnica de MIRU-VNTR 15 loci (mycobacterial
interspersed repetitive units - variable number of tandem repeats). Os achados
deste estudo resultaram em quatro manuscritos. O primeiro consistiu em uma
revisão integrativa que abordou a epidemiologia da TB e as estratégias de
controle realizadas em países com maior população carcerária. O segundo,
analisou a completude de 3.557 notificações de TB em PPL do RS. Nas fichas
de notificação, 80% das variáveis analisadas tiveram de 75,1% a 100% de
completude. No entanto, as variáveis tratamento diretamente observado (TDO)
e baciloscopia de 6º mês tiveram de 50,1% e 75% de completude,
respectivamente. O terceiro manuscrito analisou os indicadores epidemiológicos
e operacionais de controle da TB. No período do estudo, a maior taxa de
incidência de TB foi no ano de 2017 com 1.465 casos por 100 mil indivíduos. A
proporção de casos novos de TB pulmonar confirmados por critérios laboratoriais
foi de 52,6%. No entanto, a proporção de casos novos de TB testados para HIV
foi de 83,4% e entre os testados, 12,9% estavam coinfectados pelo HIV. Por fim,
o último manuscrito, avaliou a epidemiologia molecular de 598 cepas de M.
tuberculosis e identificou que 37,5% (224) estavam agrupadas em 53 clusters.
Os tamanhos dos clusters variaram de 2 a 34 cepas. Através dos dados
encontrados neste estudo, foi possível conhecer o perfil epidemiológico das PPL
diagnosticadas com TB, e compreender a dinâmica de transmissão do M.
tuberculosis. Importantes dados para traçar estratégias para interromper a
cadeia de transmissão do M. tuberculosis, através da otimização de medidas de
controle, evitando a disseminação do microrganismo intra e extramuros.
Tuberculosis (TB), as it is a serious infectious disease, is one of the
priorities of the Ministry of Health, and its control is considered a challenge,
especially among populations at greater risk, such as prisoners. There is a
growing recognition of the high risk of acquiring TB in prisons, which is associated
with precarious or non-existent health services, with overcrowding and poor
ventilation in these places, as well as with the social weaknesses inherent to the
individual himself. In this context, the aim of this study was to analyze the
epidemiological data of prisoners diagnosed with TB and the genetic diversity of
Mycobacterium tuberculosis strains of prisoners from the state of Rio Grande do
Sul (RS), Brazil. This is a cross-sectional and retrospective study, which included
notifications of TB, and M. tuberculosis strains, from prisoners in RS, between
2013 and 2018. Clinical, epidemiological, prison and laboratory data of patients
were obtained in the Notifiable Diseases Information System (SINAN), in the
National Survey of Penitentiary Information (INFOPEN) and in the registration
forms of the Central Public Health Laboratory (LACEN) of RS. The strains used
in the study came from the strain bank of LACEN/RS. The molecular
characterization of the strains was performed using the MIRU-VNTR 15 loci
technique (mycobacterial interspersed repetitive units - variable number of
tandem repeats). The findings of this study resulted in four manuscripts. The first
consisted of an integrative review that addressed the epidemiology of TB and
control strategies carried out in countries with the largest prison population. The
second analyzed the completeness of 3,557 TB notifications in prisoners in RS.
In the notification forms, 80% of the variables analyzed had 75.1% to 100%
completeness. However, the variables directly observed treatment (DOT) and 6th
month bacilloscopy had 50.1% and 75% completeness, respectively. The third
manuscript analyzed the epidemiological and operational indicators of TB control.
During the study period, the highest TB incidence rate was in 2017, with 1,465
cases per 100,000 individuals. The proportion of new cases of pulmonary TB
confirmed by laboratory criteria was 52.6%. However, the proportion of new TB
cases tested for HIV was 83.4% and among those tested, 12.9% were coinfected
with HIV. Finally, the last manuscript evaluated the molecular epidemiology of
598 strains of M. tuberculosis and identified that 37.5% (224) were grouped into
53 clusters. Cluster sizes ranged from 2 to 34 strains. Through the data found in
this study, it was possible to know the epidemiological profile of prisoners
diagnosed with TB, and to understand the dynamics of transmission of M.
tuberculosis. Important data to outline strategies to interrupt the transmission
chain of M. tuberculosis, through the optimization of control measures, avoiding
the dissemination of the microorganism inside and outside the walls.