Abstract:
Objetivo: A hepatite C crônica está associada ao diabetes mellitus tipo 2 (DM2). O
objetivo deste trabalho é comparar os aspectos do metabolismo glicídico e lipídico em
pacientes com hepatite C crônica pré e pós-tratamento, naqueles que obtiveram resposta
viral sustentada (RVS) com os antivirais de ação direta (DAAs). Metodologia: Estudo
prospectivo, longitudinal, em que foram listados 480 pacientes, atendidos e tratados no
Centro de Aplicação e Monitoramento de Medicamentos Injetáveis (CAMMI) do
Hospital Universitário (HU) -FURG durante 22 meses. Desses, 151 pacientes foram
excluídos e teve-se 38 recusas, restando 291 participantes. Os pacientes foram submetidos
à anamnese e exame físico, incluindo medidas antropométricas. Foi aplicado um
questionário-padrão, que avaliou aspectos relacionados à hepatite C crônica e ao
metabolismo glicídico e lipídico. Após a entrevista, foi realizada avaliação laboratorial
com: Carga viral; Genotipagem do VHC; Glicemia de jejum; Insulina, Hemoglobina
glicada; e Função hepática. O grau de fibrose foi estabelecido através de elastografia ou
critérios clínicos, endoscópicos ou de imagem de cirrose hepática. Os pacientes foram
tratados com DAAs, conforme as determinações dos protocolos brasileiros. Todos os
pacientes realizaram os testes metabólicos antes do tratamento e na RVS. As análises
foram feitas no programa SPSS 20, através das médias dos parâmetros metabólicos pelo
teste T por comparação pareada no pré-tratamento e na RVS, sendo considerado
significativo o p < 0,05. Para avaliação dos parâmetros metabólicos, usou-se os índices
de HOMA-IR, HOMA-β e TyG. Entre os 273 participantes, 263 (96,3%) eram virgens
de tratamento, a média da idade foi de 57 anos, 70,7% eram brancos, 52,7% masculinos
e a média do IMC foi 27,59. Nos exames laboratoriais, na RVS, houve um aumento
significativo nos valores das plaquetas, albumina, colesterol total, lipoproteínas de baixa
densidade e triglicerídeos, e uma diminuição significativa nas taxas de aspartato
aminotransferase, alanina aminotransferase, gama glutamil transferase e bilirrubinas
totais. Em relação ao metabolismo glicídico, 125 (45,8%) eram pacientes com prédiabetes e 50 (18,3%) com diabetes. Os índices de HOMA-IR e o HOMA-β aumentaram
na RVS de 2,51 para 2,73 (p=0,041) e 87,33 para 98,20 (p=0,008), respectivamente. A
insulina também aumentou de 9,22 para 9,94 na RVS (p=0,012). A HbA1c reduziu de
5,73 para 5,60 (p=0,004). Entre os pacientes com pré-diabetes e os com diabetes a redução
dos valores de HbA1c foi significativa (p=0,006 e p=0,026). Quando analisamos os
parâmetros do vírus C e da fibrose, observamos que 92 (33,7%) eram F0 ou F1 e que 78
(28,6%) eram cirróticos. Pelo índice HOMA-β, verificamos aumento significativo
naqueles com F3+F4 (93,49 para 108,12; p=0.044) e no genótipo 1 (G1) (89,29 para
103,97; p=0,028). E no subgrupo G1 com carga viral (CV) baixa (85,15 para 96,34
p=0,05) observou-se uma tendência a significância. Quanto ao índice TyG, observamos
aumento significativo nos pacientes F0+F1 (4,51 para 4, 58; p=0,002); nos não-cirróticos
(4,54 para 4,58; p=0,005), não cirrótico G1 (4,54 para 4,59 p=0,024), não cirrótico
genótipo 1a (4,55 para 4,63; p=0,021), genótipo 1b (4,51 para 4,57; p=0,017), genótipo 3
(4,48 para 4,54; p=0,024) e GN1 com CV baixa (4,51 para 4,57; p=0,039). No entanto,
observamos uma diminuição significativa do TyG entre os pacientes cirróticos com G1
(4,61 para 4,52; p=0,007) e cirróticos com G1 subgrupo b (4,61 para 4,52; p=0.021). Em
relação ao HbA1c houve diminuição significativa nos pacientes com F3+F4 (5,90 para
5,72; p=0,038), nos não-cirróticos (5,67 para 5,53; p=0,010), não cirrótico G1a (5,70 para
5,47; p=0,015), não cirróticos com GN1 (5,73 para 5,53; p=0,010), genótipo 3 (5,85 para
5,54; p=0,001) e no GN1 com CV baixa (5,90 para 5,59; p=0,005). Conclusão: O estudo
mostrou influências metabólicas variáveis após a RVS, sugerindo possível prejuízo no
perfil lipídico e melhoras no perfil glicídico desses indivíduos. Encontramos
significativas diferenças na influência sobre o metabolismo glicídico, após a RVS, na
dependência do grau de fibrose e do genótipo. Já a CV teve uma influência mais discreta,
mas foi revelada a importância da CV baixa em algumas associações. Essa conclusão
contribui para o entendimento da variabilidade dos resultados encontrados na literatura e
destaca a importância do reconhecimento das peculiaridades das casuísticas constituídas
e dos pacientes tratados.
Objective: Chronic hepatitis C is associated with type 2 diabetes mellitus (TDM2). The
objective of this study is to compare the aspects of glucose and lipid metabolism in
patients with chronic hepatitis C before and after treatment, in those who obtained a
sustained viral response (SVR) with direct-acting antivirals (DAAs). Methodology: This
is a prospective, longitudinal study were 480 patients were listed, attended, and treated at
the Center for Application and Monitoring of Injectable Medicines (CAMMI) of the
University Hospital (HU) -FURG for 22 months. Of these, 151 patients were excluded a
38 refused participation, adding up to 291 participants. Patients underwent anamnesis and
physical examination, including anthropometric measurements. A standard questionnaire
was applied, which evaluated aspects related to chronic hepatitis C and glucose and lipid
metabolism. After the interview, laboratory evaluation was performed with the variables:
Viral load; HCV genotyping; fasting blood glucose; Insulin, Glycated Hemoglobin; and
Liver function. The degree of fibrosis was established through elastography or clinical,
endoscopic, or imaging criteria of liver cirrhosis. The patients were treated with DAAs,
according official Brazilian treatment guidelines Brazilian protocols. All patients
underwent metabolic tests before treatment and at SVR. The analyzes were performed
using the SPSS 20 program, through the means of the metabolic parameters by the T-test,
by paired comparison in the pre-treatment and the SVR, with p < 0.05 being considered
significant. To evaluate the metabolic parameters, the HOMA-IR, HOMA-β, and TyG
indexes were used. Among the 273 participants, 263 (96.3%) were treatment-naive, the
average age was 57 years, 70.7% were white, 52.7% were male, and the average BMI
was 27.59. In the laboratory tests, during SVR, there was a significant increase in the
values of the platelets, albumin, total cholesterol, low-density lipoproteins, and
triglycerides, and a significant decrease in the rates of aspartate aminotransferase, alanine
aminotransferase, gamma-glutamyl transferase, and total bilirubin. Regarding glucose
metabolism, 125 (45.8%) were patients with prediabetes and 50 (18.3%) with diabetes.
HOMA-IR and HOMA-β increased in SVR from 2.51 to 2.73 (p=0.041) and 87.33 to
98.20 (p=0.008), respectively. Insulin also increased from 9.22 to 9.94 on SVR (p=0.012).
HbA1c reduced from 5.73 to 5.60 (p=0.004). Among patients with pre-diabetes and those
with diabetes, the reduction in HbA1c values was significant (p=0.006 and p=0.026).
When we analyzed the parameters of the hepatitis C virus and the fibrosis, we observed
that 92 (33.7%) were F0 or F1 and that 78 (28.6%) were cirrhotic. By the HOMA-β index,
we found a significant increase in those with F3+F4 (93.49 to 108.12; p=0.044) and in
genotype 1 (G1) (89.29 to 103.97; p=0.028). In the G1 subgroup with low viral load
(85.15 to 96.34 p=0.05), there a tendency towards significance. As for the TyG index, we
observed a significant increase in F0+F1 patients (4.51 to 4.58; p=0.002); in non-cirrhotic
patients (4.54 to 4.58; p=0.005), non-cirrhotic G1 (4.54 to 4.59 p=0.024), non-cirrhotic
genotype 1a (4.55 to 4.63; p=0.021), genotype 1b (4.51 to 4.57; p=0.017), genotype 3
(4.48 to 4.54; p=0.024) and GN1 with low viral load (4.51 to 4.57; p=0.039). However,
we observed a significant decrease in TyG among cirrhotic patients with G1 (4.61 to 4.52;
p=0.007) and cirrhotic patients with G1 subgroup b (4.61 to 4.52; p=0.021). Regarding
HbA1c, there was a significant decrease in patients with F3+F4 (5.90 to 5.72; p=0.038),
in non-cirrhotic patients (5.67 to 5.53; p=0.010), non-cirrhotic G1a (5 .70 to 5.47;
p=0.015), non-cirrhotic patients with GN1 (5.73 to 5.53; p=0.010), genotype 3 (5.85 to
5.54; p=0.001) and GN1 with low viral load (5.90 to 5.59; p=0.005). Conclusion: The
study presented variable metabolic influences after SVR, suggesting possible impairment
in the lipid profile and improvements in the glucose profile of these individuals. We found
significant differences in the influence on glucose metabolism after SVR, depending on
the degree of fibrosis and genotype. The viral load had a more discreet influence, but the
importance of low values was revealed in some associations. This conclusion contributes
to the understanding of the variability of the results found in the literature and highlights
the importance of recognizing the peculiarities of the constituted series and treated
patients.