Abstract:
A coinfecção por Trypanosoma cruzi e HIV-1 representa um importante
problema de saúde pública, devido a sobreposição da distribuição geográfica
de ambas e pela gravidade da reativação da doença de Chagas (DC) em
pessoas com HIV imunocomprometidas. Este estudo teve como objetivo
determinar a soroprevalência para anticorpos anti-T. cruzi em pessoas vivendo
com HIV-1, atendidas em um hospital público da região sul do Rio Grande do
Sul, Brasil, bem como verificar sua capacidade em reconhecer o vetor de T.
cruzi. Um questionário epidemiológico estruturado foi aplicado em 750 pessoas
vivendo com HIV-1, sendo que em 546 pessoas foi realizada pesquisa de
anticorpos IgG anti-T. cruzi pelo ensaio imunoenzimático (ELISA) indireto in
house, utilizando separadamente os antígenos recombinantes quiméricos
IBMP-8.1, IBMP-8.2, IBMP-8.3 e IBMP-8.4. Para confirmação dos resultados,
foram utilizados dois testes de ELISA indiretos comerciais, com antígenos
recombinantes e/ou lisados de T. cruzi. A taxa de soroprevalência para
anticorpos anti-T. cruzi foi de 0,2% (1/546), sendo que apenas um paciente foi
soropositivo no ELISA in house usando os antígenos recombinantes. Esse
resultado foi confirmado pelos testes comerciais. Além disso, em mais nenhum
paciente foi verificado soropositividade pelos dois testes comerciais. Para
investigar se os pacientes reconheciam o triatomíneo vetor de T. cruzi, foi
apresentado a cada entrevistado um mostruário com imagens de triatomíneos,
a seguir foi avaliado se sabiam reconhecer os insetos. Dos 750 pacientes, 492
responderam essas questões, e desses, 26% (128) citaram corretamente que
as ilustrações tratavam-se do vetor de T. cruzi (“barbeiro” ou “chupão”). Quanto
as variáveis sócio demográficas, pessoas do sexo masculino, com renda
familiar acima de um salário mínimo, escolaridade superior a oito anos e
residentes dos municípios de Canguçu, Herval e Piratini apresentaram mais
chance de reconhecer o vetor. Porém, residentes da área urbana tinham
menos chance de reconhecer o triatomíneo do que os moradores da área rural.
Conclui-se que apesar da baixa soroprevalência para anticorpos anti-T.cruzi
em pessoas que vivem com HIV-1 é fundamental a identificação da coinfecção
por T.cruzi/HIV-1 diante da gravidade de uma possível reativação da DC.
Ainda, ressalta-se a preocupação da frequência baixa para o reconhecimento
do vetor de T. cruzi nessa população, sendo necessário uma maior atenção
por meios de programas ou ações que visam informar a população sobre a DC
e seu vetor nas áreas endêmicas do Sul do Rio Grande do Sul.
Co-infection by Trypanosoma cruzi and HIV-1 represents an important public
health problem due to the overlapping geographic distribution of both and the
severity of Chagas disease (CD) reactivation in immunocompromised HIVinfected individuals. This study aimed to determine the seroprevalence of antiT. cruzi among people living with HIV-1 treated in a public hospital in the
southern region of Rio Grande do Sul, Brazil, as well as to verify their ability to
recognize the T. cruzi vector. A structured epidemiologic questionnaire was
applied to 750 people living with HIV-1, and 546 people were tested for IgG
anti-T. cruzi by the in-house indirect enzyme-linked immunosorbent assay
(ELISA), using separately the chimeric recombinant antigens IBMP-8.1, IBMP8.2, IBMP-8.3, and IBMP-8.4. Two commercial indirect ELISA tests using
recombinant antigens and/or T. cruzi lysates were used to confirm the results.
The seroprevalence rate for anti-T. cruzi was 0.2% (1/546), with only one
patient seropositive in the in-house ELISA using recombinant antigens. This
result was confirmed by commercial tests. In addition, no other patient was
found to be seropositive by the two commercial tests. To investigate whether
the patients recognized the triatomine vector of T. cruzi, each respondent was
presented with a sample of triatomine images and then assessed on their ability
to recognize the insects. Of the 750 patients, 492 answered these questions,
and of these, 26% (128) correctly indicated that the illustrations were about the
T. cruzi vector ("kissing bugs"). In terms of socio-demographic variables, men,
those with a family income above the minimum wage, those with more than
eight years of education and residents of the municipalities of Canguçu, Herval
and Piratini were more likely to recognize the vector. However, urban residents
were less likely to recognize the triatomine bug than rural people. It is concluded
that despite the low seroprevalence for anti-T.cruzi antibodies in people living
with HIV-1, it is essential to identify T.cruzi/HIV-1 co-infection given the severity
of possible CD reactivation. Furthermore, it highlights the concern about the
low frequency of recognition of the T. cruzi vector in this population, which
requires greater attention through programs or actions aimed at informing the
population about CD and its vector in endemic areas of the southern Rio
Grande do Sul.