Abstract:
Os herbicidas à base de glifosato são os mais utilizados no mundo. Este composto tóxico chega aos ecossistemas aquáticos e pode afetar populações de microalgas, que são base da teia trófica e principais produtores primários destes ambientes. Para compreender os efeitos que este agrotóxico pode ter sobre estes organismos testamos laboratorialmente a sensibilidade ao glifosato de duas espécies de algas verdes (Chlorophyta) e um possível resgate populacional. Este resgate consiste na adaptação gradual da população, que em vez da extinção, permite a ela persistir em um local que se tornou inadequado para a população original. Um experimento de duas etapas, com duração de 72 horas cada, foi conduzido. Populações de duas espécies do fitoplâncton, Desmodesmus communis e Pseudopediastrum boryanum, foram testadas de forma isolada e em coocorrência. Na etapa 1, as populações foram expostas às concentrações de 0, 100, 500, 1000 μg.l-1 de glifosato preparadas a partir da formulação comercial Roundup Transorb®. Alíquotas dos tratamentos da etapa 1 foram então transferidos para os novos meios da etapa 2, onde foi adicionado 20000 μg.l-1 de glifosato. A partir de dados de crescimento, densidade e viabilidade celular foram observados efeitos negativos nas duas populações isoladas e em coocorrência conforme o aumento da concentração de glifosato. O resgate populacional após a exposição a 20000 μg.l-1 de glifosato foi melhor observado para as populações que anteriormente foram expostas às concentrações intermediárias de 100 e 500 μg.l-1 , sendo possível observar também que não houve diferença no resgate das populações de espécies isoladas e quando em coocorrência. Concluímos que maiores concentrações de glifosato reduzem o crescimento, a densidade e a viabilidade celular de ambas as espécies a partir de 100 μg.l-1, e populações previamente expostas a concentrações intermediárias de glifosato apresentam melhor recuperação após exposição à uma concentração letal. Por fim, a coocorrência destas duas espécies não influencia na resistência das populações à contaminação por glifosato.
Glyphosate-based herbicides are the most widely used in the world. This toxic compound reaches aquatic ecosystems and can affect populations of microalgae, which form the base of the trophic web and the main primary producers in these environments. To understand the effects that this pesticide can have on these organisms, we tested the sensitivity to glyphosate of two species of green algae (Chlorophyta) and the occurrence of a population rescue, that is, the gradual adaptation of the population, allowing it to persist in an habitat that has become unsuitable for the original population. A two-stage experiment, lasting 72 hours each, was performed. Populations of two species of phytoplankton, Desmodesmus communis and Pseudopediastrum boryanum, were examined separately and in co-occurrence. In step 1, populations were exposed to concentrations of 0, 100, 500, 1000 μg.l-1 of glyphosate prepared from the commercial formulation Roundup Transorb®. Aliquots of the treatments from step 1 were then transferred to the new media from step 2, where 20000 μg.l-1 of glyphosate were added. Using growth and density data, as well as cell viability, more negative effects were observed both in the two isolated populations and when they co-occurred as the glyphosate concentration increased. Population rescue after exposure to 20,000 μg.l-1 of glyphosate was better observed for populations that were previously exposed to intermediate concentrations of 100 and 500 μg.l-1, and it was also possible to observe that there was no difference in the rescue of populations of isolated species and when in co-occurrence. It can be concluded that higher concentrations of glyphosate reduce the growth, density and cell viability of both species as from 100 μg.l-1 of glyphosate, but populations previously exposed to intermediate glyphosate concentrations recovered better after being exposed to a lethal concentration. Finally, the co-occurrence of these two species does not influence the resistance of the populations to glyphosate contamination.