Processo de morte-morrer na perspectiva do pensamento complexo: construção de um modelo teórico de cuidado para a enfermagem

Abstract

A inquestionável evolução tecnológica na área da saúde não modificou a essência do cuidado de enfermagem, que se manteve focado nos procedimentos técnicos voltados para o zelo ao corpo e prolongamento da vida a partir da cura, afastando o óbito do desvelo. A morte, quando considerada uma ruptura do processo de viver, reflete a necessidade de manutenção da vida a todo custo, e compreende-se, dessa maneira, a obrigação de se romper a forma cartesiana, fragmentada e redutora de pensar os fenômenos que se apresentam durante o processo de morte e morrer. Frente a isso, urge a necessidade de reflexão mediante referenciais filosóficos que possibilitem a ampliação e (re)ligação dos contextos da vida em toda sua amplitude, dentre eles, o pensamento complexo proposto por Edgar Morin mostra-se relevante ao proporcionar um novo olhar para o cuidado de enfermagem. Nesse contexto, a morte e o processo de morte-morrer constituem-se como processos dialógicos e ao mesmo tempo convergentes, sendo considerados parte integrante do ciclo vital. Este estudo, que possuiu como objetivo geral (re)significar a compreensão da morte e do processo de morte- morrer à luz do pensamento complexo; apresentou como objetivos específicos: analisar as evidências científicas para o melhor cuidado de enfermagem frente ao processo de morte- morrer; analisar as atitudes frente ao processo de morte-morrer nas produções científicas da enfermagem, à luz do pensamento complexo e desenvolver um modelo teórico de cuidado de enfermagem acerca da morte e do processo de morte-morrer na perspectiva do pensamento complexo. Realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados Web of sciense, Scopus Preview, Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Como critérios de inclusão, adotaram-se artigos derivados de pesquisa com seres humanos, de derivação qualitativa e/ou quantitativa publicados nos idiomas português, inglês e/ou espanhol no recorte temporal 2013-2018, que possuíssem o resumo e estivessem disponíveis integral e gratuitamente na versão online. Foram considerados critérios de exclusão: artigos científicos duplicados, validações de escalas, os que não contemplem a temática central do estudo e que não abordem o cuidado de enfermagem, presentes apenas na literatura cinza, teses, dissertações e/ou trabalhos publicados em anais, editoriais e resumos. Dos 274 estudos emergidos inicialmente, selecionou-se, após o refinamento, 18 artigos que compõem o corpus deste estudo. Foi possível evidenciar, a partir da análise textual discursiva, que a morte ainda é (re)conhecida como um fator estressante, fonte de medo, angústia e afastamento profissional, ou seja, fenômenos fragmentados e reducionistas. Como os profissionais da enfermagem reproduzem o modelo cartesiano biomédico de formação, ainda presente nos cursos, essas evidências apontam para a necessidade de se criar espaços de diálogos e reflexões complexas acerca da morte e do processo de morte-morrer, sem desconsiderar a necessidade do (re)conhecimento dos paradigmas aptos a oportunizar mudanças. Sendo assim, a criação de um modelo teórico de cuidado para a enfermagem possibilitou a compreensão dos fenômenos que ainda se mostram em latência. Nesse contexto, foi possível ampliar os conhecimentos previamente enraizados, possibilitando discutir a morte e o processo de morte-morrer em um contexto social, não unicamente conectado em um cenário que envolva uma patologia. Mais uma vez foi possível identificar a necessidade emergente de ampliar os fenômenos a fim de que o cuidado de enfermagem possa atingir áreas até então banalizadas e refutadas.The unquestionable technological evolution in the health area did not change the essence of nursing care, which remained focused on the technical procedures aimed at the care of the body and prolongation of life from the cure, putting the death away from the exposure. Death, when considered a rupture of the process of living, reflects the need to maintain life at all costs, and it is understandable, in this way, the obligation to break the Cartesian method, which is fragmented and reductive way of thinking about the phenomena that arise during the process of death and dying. Faced with this, urge the necessity of reflecting through philosophical references that allow the expansion and (re)connection of the contexts of life in all its amplitude, among them, the complex thinking proposed by Edgar Morin is relevant in providing a new look for the nursing care. In this context, death and the death-dying process constitute as dialogical processes and at the same time convergent, being considered an integral part of the life cycle. This study, which has as its general objective (re)signifying the understanding of death and the process of death-dying in the light of complex thinking; presented these specific objectives: analyze the scientific evidence for the best nursing care with the death-dying process; examine the attitudes towards the death-dying process in the scientific materials of nursing in the light of complex thinking and to develop a theoretical model of nursing care about death and the death-dying process in the perspective of complex thinking. A systematic review of the literature was performed on the Web of science, Scopus Preview, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS) and Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). As criteria of inclusion were adopted articles derived from researches with human being, qualitative and/or quantitative research, published in the Portuguese, English and/or Spanish languages in the 2013-2018 time-cut, which had the abstract and were available in full and free of charge in the online version. Exclusion criteria were: duplicate scientific articles, validations of scales, those that do not contemplate the central theme of the study and do not address nursing care, presented only in the gray literature, theses, dissertations and/or works published in annals, editorials and summaries. Of the 274 studies initially emerged, 18 articles were selected after the refinement, which compose the corpus of this study. It was possible to evidence, from the discursive textual analysis, that death is still recognize as a stressing factor, source of fear, distress and professional withdrawal, that is, fragmented and reductionist phenomena. As it is still present in the courses, nursing professionals reproduce the biomedical Cartesian model of training. This evidence points to the need to create spaces for dialogues and complex reflections about death and the death-dying process, without disregarding the need for knowledge of the paradigms capable to provide changes. Thus, the creation of a theoretical model of care for nursing enabled the understanding of the phenomena that are still in latency. In this context, it was possible to expand the previously rooted knowledge, discuss death and the death-dying process in a social context, not only connected in a scenario that involves a disease. Once again, it was possible to identify the emerging need to expand the phenomena so that nursing care can reach vulgarized and rejected areas.La incuestionable evolución tecnológica en el área de la salud no cambió la esencia del cuidado de enfermería, que se mantuvo enfocado en los procedimientos técnicos volcados para el celo al cuerpo y la prolongación de la vida apartir de la cura, alejando el fallecimiemto del desvelo. La muerte cuando considerada una ruptura del proceso de vivir, refleja la necedidad de manutención de la vida a todo costo, y se entiende de esa manera, la obligación de romperse la forma cartesiana, fragmentada y reducible de pensar los fenômenos que se presentan durante el proceso de muerte y morir. Frente a eso, urgese la necesidad de refleccionar mediante referencias filosóficas que vengan a posibilitar la apliación y (re)ligación de los contextos de la vida en toda su aplitud, entre ellos, el pensamiento complejo propuesto por Edgar Morin se muestra relevante al proporcionar una nueva mirada para el cuidado de enfermería. En este contexto, la muerte y el proceso de muerte-morir se constituyen como procesos dialógicos y al mismo tiempo convergentes, siendo considerados parte integrante del ciclo vital. En este estudio, que tiene como objetivo general (re)significar la comprensión de la muerte y del proceso de muerte-morir, analizar las actitudes frente al proceso de muerte-morir en las producciones científicas de enfermería, a la luz del pensamiento complejo y desarrollar un modelo teórico de cuidado de enfermería acerca de la muerte y del proceso muerte-morir en la perspectiva del pensamiento complejo. Se ha realizado una revisión sistemática de la literatura en las bases de datos Web of Sciense, Scopus Preview, Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino Americana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Como criterios de inclución, se han adoptado artículos derivados de encuestas con seres humanos, de derivación cualitativa publicados em los idiomas portugués, inglés y/o español recorte temporal 2013-2018, que tuvieran el résumen y estuvieran disponíbles integral y gratuitamente em la versión online. Fueron considerados criterios de exclusión: artículos científicos duplicados, validaciones de escalas, los que no contemplan la temática central del estudio y que no abarquen el cuidado de enfermería, presentes apenas en la literatura gris, tesis, disertaciones y/o trabajos publicados em anales, editoriales y résumenes. De los 274 estudios surgidos inicialmente, se han seleccionado, después del refinamineto, 18 artículos que componen el corpus de este estudio. Fue posíble evidenciarse, apartir del análisis textual discursivo, que la muerte aún es (re)conocida como un factor estresante, fuente de miedo, angustia y alejamiento profesional, o sea, fenómenos fragmentados y de reducción. Como los profesionales en enfermería reproducen el modelo cartesiano biomédico de formación todavia presente en los cursos, esas evidencias apuntan para la necesidad de crearse espacios de diálogos y relaciones complejas acerca de la muerte y del proceso muerte-morir, sin desconsiderar la necesidad del (re)conocimiento de los paradigmas aptos a oportunizar cambios. Así, la creación de un modelo teórico de cuidado para la enfermería ha posibilitado la comprensión de los fenómenos que todavia se muestran latentes. En este contexto, fue posible ampliar los conocimientos previamente arraigados, haciendo posible discutir la muerte-morir em un contexto social, no únicamente conectado en un escenario que envolucre una patología. Una vez más fue posible identificar la necesidad emergente de ampliar los fenómenos para que el cuidado en enfermería pueda abarcar áreas hasta entonces trivializadas y rechazadas.