Abstract:
A pesquisa com a infância indígena precisa considerar a sua interpretação sobre a natureza, o seu contexto, seus arranjos sociais e culturais naquele determinado espaço e tempo, buscando compreender como os “pequenos indígenas” se apropriam e transformam essas dimensões sociais, criando suas geografias infantis. O presente estudo apresenta uma abordagem acerca da infância indígena mbyá-guarani, com foco nas interações sociais e práticas educativas desses sujeitos. São investigadas as interconexões entre lugar, cultura e ambiente, na perspectiva da Sociologia da Infância, da Antropologia da Criança e das questões que permeiam a Educação Ambiental. Alguns dos referenciais bibliográficos que deram corpo à dissertação foram: Corsaro (2011), Sato (1997, 2005), Bergamaschi (2007, 2008, 2010), Cohn (2005, 2013) e Grün (1996, 2008). Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utilizou a cartografia como método de pesquisa-intervenção e apresenta como objetivo compreender as interações entre infância e ambiente na comunidade indígena mbyá-guarani, identificando-se as contribuições deste estudo para o campo da Educação Ambiental e para a formação de educadores. Os protagonistas dessa pesquisa foram os “pequenos indígenas” mbyá-guarani da aldeia Pindó Mirim, localizada em Itapuã/RS. Para a coleta de dados, utilizou-se o diário de campo e o registro fotográfico da pesquisadora e dos “pequenos indígenas”. A análise de dados foi realizada através de inspiração na metodologia da Análise Textual Discursiva. São apresentadas as aproximações com os sujeitos da pesquisa e a constituição da pesquisadora em Educação Ambiental. As principais categorias que emergiram do estudo foram os entrecruzamentos da infância indígena mbyá-guarani com a natureza, as interações de cuidado entre pares e o processo educativo e lúdico no cotidiano das crianças indígenas da tekoá Pindó Mirim. Os resultados da pesquisa mostraram que foi fundamental para a pesquisadora escutar as vozes das crianças e suas formas de ser e estar no mundo, e que os indígenas da tekoá Pindó Mirim são natureza na concepção da não dualidade. Para os Mbyá-Guarani dessa comunidade, o cuidado tem relação direta com o corpo e ocorre na comunidade como um todo, inclusive na relação entre pares. O processo educativo permeia todo o contexto do cotidiano da aldeia e a autonomia das crianças indígenas foi evidente nesse processo. O processo lúdico apresentou relação direta com a sazonalidade, com o corpo e com o brincar, aspectos evidentes no cotidiano dos “pequenos indígenas”. O ambiente e a cultura fazem parte do processo da constituição do ser indígena. A partir dos resultados, pode-se concluir que as crianças indígenas da tekoá Pindó Mirim são atores sociais plenos, que têm autonomia e responsabilidades para com a aldeia e cujas aprendizagens ocorrem no cotidiano da mesma. Essas experiências de educação e cuidado podem apresentar importantes contribuições para o campo da formação dos educadores ambientais.
Research on indigenous childhood needs to consider its interpretation of nature, its context, its social and cultural arrangements in that particular space and time, always seeking to understand how such native children appropriate and transform these social dimensions and thus create their child geographies. This study discusses an approach about Mbyá-Guarani indigenous children, focusing on the social interactions and educational practices of these subjects. Interconnections between place, culture and environment are investigated from the perspective of Sociology of Childhood, Child Anthropology, and Environmental Education issues. Some of the bibliographical references that substantiate this study are: Corsaro (2011), Sato (1997, 2005), Bergamaschi (2007, 2008, 2010), Cohn (2005, 2013) e Grün (1996, 2008). A qualitative research is carried out using cartography as an intervention-research method aimed at understanding the interactions between childhood and environment within the Mbyá-Guarani native community, therefore identifying contributions to the fields of Environmental Education and educator training. The research protagonists are the Mbyá-Guarani indigenous children of the Pindó Mirim village, located in Itapuã, State of Rio Grande do Sul, Brazil. For data collection, field journal and photographic record were used by both the researcher and the native children, and the data analysis was performed through the Discursive Textual Analysis methodology. The first narratives show approximations with the children as well as the constitution of the researcher in Environmental Education. The main categories emerging from the study are the interconnection of Mbyá-Guarani indigenous children with nature, the peer care interactions, and the educational and playful process in the routine of indigenous children from tekoá Pindó Mirim. Results of the research show that it was fundamental for the researcher to listen to the voices of the children and their ways of being in the world and that the tekoá Pindó Mirim natives are nature themselves in a conception of non-duality. Also, care among the Mbyá-Guaraní people is directly related to the body and occurs in the community as a whole, which includes the relationship between peers. The educational process permeates the entire context of the daily life of the village and the autonomy of indigenous children is evident in this process. The ludic process has a direct relation with the seasonality, with the body and with the playfulness that were present in various moments of the routine of such children. Environment and culture are part of the process of the constitution of the indigenous being. In conclusion, the indigenous children of tekoá Pindó Mirim are full social actors, who have autonomy and responsibilities towards the village, and learning takes place in the village’s daily life. Moreover, these experiences of education and care may present important contributions to the field of educator training.