Abstract:
A longa duração da Guerra do Paraguai (1864-1870),
analisada através de corpus documental expõe de maneira brutal o
tratamento dado aos soldados e demais participantes que lutavam
não contra o inimigo comum paraguaio e sim pela sobrevivência nos
campos de batalha: sem água e alimentos suficientes e adequados, sem
instrumental médico-cirúrgico preparado para enfrentar as grandes
batalhas que produziam milhares de feridos. Na capital do Império
do Brasil e em outros portos das duas capitais aliadas como Buenos
Aires e Montevidéu soldados recém-convocados, feridos e doentes
transitavam sem qualquer orientação sobre cuidados sanitários
e vacinação, disseminando, dessa forma, doenças muitas delas
incubadas, que logo seriam transmitidas a milhares de outros soldados
e civis nos campos de batalha e nas cidades para onde eram levados
para tratamento. A concentração de grande massa de combatentes e
não combatentes de um acampamento militar exigiu a necessidade de
garantir a ordem e a disciplina. As deserções, os atos de covardia e
de insubordinação, os homicídios, as brigas, os roubos, os atentados
contra a propriedade, as violações e outros delitos estavam longe de
serem raros, muito pelo contrário, eram bastante frequentes e constam
numa profusa documentação. Analiso, além da fome e das epidemias,
o funcionamento da Justiça Militar em acampamentos dos exércitos
e em navios do Império do Brasil onde se viviam sob indispensáveis
regras disciplinares, muitas vezes quebradas, privilegiando fontes como
memória de combatentes (oficiais e praças) e ordens do dia, entre
muitas outras, em arquivos públicos e particulares. Investigo a origem
dos batalhões de soldados e marinheiros destinados aos campos de
batalhas, bem como o seu recrutamento e estratégias de resistência.
The long duration of the War of Paraguay (1864-
1870) is analyzed through a body of documented works that brutally
expresses the treatment of soldiers and other participants in the war.
These people struggled not against a common enemy, but for survival
on the battlefields. They faced shortages of water and food as well as
the necessary medical-surgical supplies to support the thousands of
wounded from the ferocious battles. In the capital of the Brazilian
Empire as well as in the two allied capital cities of Buenos Aires and
Montevideo, recently conscripted soldiers, the wounded and the sick,
passed without any orientation regarding sanitation or vaccination.
As a result, diseases, many of them in various stages of incubation,
were transmitted to thousands of other soldiers and civilians, on the
battlefields and in the cities where some were brought for treatment. A
concentrated mass of combatants and support personnel in any military
camp requires order and discipline. However, desertion, cowardice,
insubordination, murder, fights, robbery, assaults, violations and other
crimes were frequent and profusely documented. I analyze not only the
hunger and epidemics, but the function of Military Justice during the
War of Paraguay in a Brazilian army camp and in ships of Brazilian
Empire where the necessary disciplinary rules were often disregarded,
according to sources such as the memoirs of combatants (both officers
and conscripts) and in daily order records in public and private archives.
I investigate the origins of the battalions of soldiers and sailors destined
for the battlefields as well as the recruiting efforts and strategies for
resistance. I strive to demonstrate that the direct penalties were the
hunger and the illness that flourished in the army camps and on the
imperial naval ships thus affecting, in a crucial manner, the outcome
of the war.