Abstract:
Este artigo quer compreender como se constitui e funciona um dispositivo de
subjetivação que tem produzido, através do ensino de História, modos de olhar para a
civilização medieval. Trata-se do dispositivo da medievalidade, o qual implica uma série
de estratégias discursivas enunciadas de formas diversas, dentre as quais, as publicações
didáticas de História para o ensino fundamental, que teriam como enunciação a idéia de que
a Idade Média teria sido uma época de Trevas, espaço da “infância das nações”, onde ainda os
homens viviam num estado de ingenuidade e quase selvageria. O artigo examina o discurso
que tem moldado a maneira como a nossa sociedade tem transmitido o conhecimento sobre
o mundo medieval, no sentido de discutir as estratégias discursivas através das quais a noção
de Idade das Trevas tem sido construída e transmitida às novas gerações,nas salas de aula
de História. Trata-se, portanto, de uma discussão que decorre de uma pesquisa já realizada e
que aqui se apresenta para lançar o debate acerca das relações do modo como se tem olhado
para a Idade Média e do modo como se tem construído as histórias de africanos e indígenas,
no âmbito do ensino de História. Nesse sentido, importa, enfim, discutir os vínculos, seguindo
a trilha da afirmativa de Le Goff sobre o medievo como a “infância das nações”, entre o modo
como as novas gerações constroem sua leitura sobre a Idade Média e o modo como se tem
construído a subjetividade dos povos e das culturas conquistadas.
The purpose of this article is to understand how the mechanism of subjectivity,
which has produced, through the teaching of history ways of viewing medieval civilization,
is formed and works. It is the concept medievalidade, which involves a series of discursive
strategies outlined in various forms, amongst which, the didactic publication of teaching
History to elementary school, states the idea that the Middle Ages was a gloomy time. It was
an era known as “the infancy of nations”, where men still lived in a state of naivety and almost
savagery. The article examines the discourse that has shaped the way in which our society has
passed on knowledge about the medieval world, to discuss the discursive strategies through
which the notion of the Dark Ages has been built upon, and transmitted to new generations,
in History classes. It is therefore an argument that stems from research already conducted
and presented here to launch the debate about the related ways the Middle Ages has been
looked upon and how the stories of the Africans and the Indigenous have been built, through the teaching of History. In this sense, the article finally discuss the links, following the trail of
Le Goff’s assertion about the Middle Ages as “the infancy of nations,” between how the new
generations construct their readings in relation to the Middle Ages and how the subjectivity
of conquered peoples and cultures has been built.