Abstract:
Os estudos aqui apresentados são embasados em intervenções socioambientais que qualificam a concepção da teatralidade humana através de um conjunto de experimentações realizadas em laboratório. A teatralidade humana é um dispositivo de desenvolvimento de si movido pelos agenciamentos coletivos produzidos nos diferentes ambientes onde atua. A questão que impulsiona a pesquisa propõe examinar de que forma a teatralidade humana pode contribuir com a produção de modos de existência que promovam a intensificação dos corpos e o cuidado com o meio ambiente. Elaborá-la implicou lidar com certos limites da aprendizagem tradicional, pois não basta refletir e conscientizar-se a respeito dos problemas socioambientais é preciso tomar decisões e efetivamente produzir mudanças. Objetivando analisar alguns processos cognitivos que consigam mobilizar o corpo em torno da reinvenção de si e do mundo, foi realizado um trabalho de campo que buscou desenvolver as capacidades emocionais, instintuais, inventivas, afetivas, imaginativas e intuitivas do humano. Este estudo focalizou, em especial, as oficinas realizadas no Templo das Águas – zona rural de Pelotas/RS – e no Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Nelas foram desenvolvidas atividades com o objetivo de aguçar os sentidos, gerando ondas de instabilidade e experimentando outras formas de lidar com regras, normas e papéis sociais. As experimentações, em particular as realizadas com o clown, apontam para a importância de criarmos dispositivos que transponham movimentos repetidos e comportamentos esperados, tornando o humano capaz de produzir outras formas de coexistência. A teatralidade humana coloca em dúvida os ambientes que obstaculizam o encontro humano, que reduzem o tato, o contato e a interação dos corpos. A análise privilegia o corpo, sua capacidade de adaptação e intercâmbio, bem como a produção do conhecimento a partir dele. Trata-se de uma cartografia de certos deslocamentos que tornam o humano capaz de transformar-se
transformando, enquanto transita em certos ambientes fronteiriços. É uma pesquisa-intervenção inspirada na concepção ecosófica de Felix Guattari, atenta aos processos de elaboração da própria vida como obra de arte. As intervenções socioambientais até então desenvolvidas, fundadas no campo epistemológico da Análise Institucional, em especial nos estudos sobre o rizoma de Deleuze e Guattari, evidenciam a necessidade de promover iniciativas que fomentem a participação, o convívio, a autonomia e os processos autogestivos.
This study is grounded in socio-environmental interventions which qualify the notion of human theatricality through an array of experimentations conducted in laboratory. Human theatricality is a device of development of the self moved by the collective assemblages produced in the different environments where the device intervenes. The question that drives the research wants to examine how human theatricality may contribute to the production of modes of existence which promote the intensification of the bodies and the care with the environment. To formulate it involved dealing with certain limitations usual in learning, once reflecting upon socio-environmental issues or growing awareness of them do not suffice: it is necessary to make decisions and to effectively produce changes. Fieldwork was conducted attempting to develop the emotional, instinctual, inventive, affective, imaginative and intuitive capacities of the human, aiming at the analysis of cognitive processes able to mobilize the body around reinventing the self and the world. The study has focused workshops carried at Templo das Águas – rural region of Pelotas/RS – and at the Hospital of the Federal University of Rio Grande (FURG). The activities developed had the objective of sharpening the senses, generating waves of instability and trying out other forms of dealing with rules, norms and social roles. The experimentations, particularly the ones involving the clown, point out the importance of building devices that transpass repetitive movements and expected behaviors, making the human able to produce other forms of coexistence. Human theatricality calls into question the environments that hinder human encounter, that limit tact, contact and interaction of bodies. The analysis priviledges the body and its capacity of adaptation and exchange, as well as the production of knowledge it originates. The work is a cartography of certain displacements that make the human able to transform transforming itself, while transiting in certain bordering environments. It is an intervention research that draws in Felix Guattari’s ecosophic conception, paying attention to the elaboration of life itself as a work of art. The socio-environmental interventions developed so far, grounded in the epistemological field of the Institutional Analysis, especially in Deleuze and Guattari’s studies about the rhizome, show the need of promoting initiatives that foster participation, conviviality, autonomy and autogestionary processes.
