Gênero nas malhas discursivas do desenvolvimento sustentável: emergências, bio/ecopolíticas e dispositivos.

Abstract

A pesquisa buscou analisar a discursividade que coloca em operação o conceito de gênero no discurso do desenvolvimento sustentável produzindo alguns efeitos para a educação ambiental. Como arcabouço teórico-metodológico-analítico, foram utilizadas algumas ferramentas dos estudos de Michel Foucault e de alguns/mas autores/as do campo ambiental e de gênero. O corpus analítico é composto por alguns documentos internacionais e programas de duas autoridades globais, quais sejam, União Internacional de Conservação da Natureza - UICN e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, produzidos no período de 2014-2017. Nas problematizações das análises, foi possível destacar algumas condições de emergência, além disso, foi identificado que o gênero ganha força nas políticas e programas internacionais, o que possibilitou analisar como ele atravessa os programas da UICN e PNUD em tempos de desenvolvimento sustentável. Nas enunciações dos programas, a estatística e a preocupação com o futuro foram importantes estratégias colocadas em funcionamento para a relevância e integração do gênero em ações de cunho ambiental. Na correnteza do pensamento de Michel Foucault, tais estratégias são chamadas na pesquisa como bio/ecopolíticas por estarem articuladas a uma defesa da vida humana e também planetária. O gênero deixa de ser apenas um conceito que irá se preocupar com a igualdade entre homens e mulheres, para ser um dispositivo que busca capturar certa população de mulheres no desejo de governar. Características ou mesmo atividades desempenhadas socialmente pelas mulheres, na sociedade, são abordadas para determinar a população como alvo de intervenção ou para enfatizar a sua contribuição social e ambiental. Frente a tal discursividade, que articula o gênero ao discurso do desenvolvimento sustentável, a educação ambiental se torna um campo de saber potente para pensar e problematizar os ensinamentos sobre natureza, meio ambiente e a humanidade. Para além de resolução de problemas ambientais, a educação ambiental se torna potente pela sua multiplicidade e perspectivas que ora se distanciam, ora se aproximam, mas que buscam, por fim, se colocar em meio aos jogos de poder e interesses dos variados contextos sociais, econômicos, políticos, educacionais e ambientais. Por fim, a pesquisa buscou contribuir com a formação de educadores/as ambientais, preocupados/as com o que nos acontece, captura e produz as nossas relações de gênero e ambientais.

The research sought to analyze the discursiveness that puts into operation the concept of gender in the discourse of sustainable development, producing some effects for environmental education. As a theoretical, methodological and analytical framework, some tools were used from the studies of Michel Foucault and of some authors in the fields of environment and gender. The analytical corpus is composed by a number of international documents and programs of two global authorities, namely the International Union for Conservation of Nature (IUCN) and the United Nations Development Program (UNDP), produced in the period 2014-2017. In the problematizations during the analysis, it was possible to highlight some conditions of emergence. Also, it was identified that gender is strengthened in international policies and programs, which made it possible to analyze how it permeates IUCN and UNDP programs in times of sustainable development. In the enunciations of the programs, the statistics and the concern about the future were important strategies put into operation for the relevance and integration of gender in environmental actions. In the current of thought of Michel Foucault, such strategies are called, in research, as bio/ecopolitical because they are articulated to a defense of human life as well as planetary. Gender is no longer just a concept that will worry about equality between men and women, but a way to capture a certain population of women in the desire to govern. Characteristics or even activities socially performed by women in our society are still addressed to determine the population as a target for intervention or to emphasize their social and environmental contribution. Facing such discursiveness, which articulates gender to the discourse of sustainable development, environmental education becomes a powerful field of knowledge to think and problematize the lessons about nature, environment and humanity. In addition to solving environmental problems, environmental education becomes potent because of its multiplicity and perspectives which are sometimes distant, sometimes close, but that seek, finally, to be in the midst of games of power and interests of the various social, economic, political, educational and environmental contexts. In conclusion, the research aimed at contributing to the evolution of environmental educators, concerned about the production of gender and environmental relations.