Abstract:
Esta dissertação, a partir do diálogo entre a Linguística Aplicada e a Linguística Enunciativa de
Émile Benveniste, tem como objetivo investigar, por meio do relato de um falante estrangeiro,
a maneira pela qual as identidades de aprendizes de português como língua adicional, inseridos
em uma universidade pública brasileira, são construídas em diferentes situações de
interlocução, inclusive aquelas instanciadas em meios digitais. Discutimos a constituição da
identidade e de homem como correlatas à sociedade na qual o indivíduo se propõe a atuar, em
uma perspectiva de interface entre dois campos de estudos da linguagem, a Linguística da
Enunciação, com bases benvenistianas, e a Linguística Aplicada. Para isso, propomos articular
esses embasamentos à busca pela capacidade simbólica de posicionar-se ativa e criticamente
em uma sociedade, no contexto universitário, especialmente, e em situações mediadas, também,
por recursos tecnológicos. Compreendemos que além de estar apto a comunicar-se de maneira
eficiente na língua em questão, ou seja, deter o domínio da forma da língua, do ponto de vista
instrumental, julgamos ser necessário ao falante deter outros conhecimentos que não apenas
comunicativos. Portanto, faz-se necessária a habilidade de adaptar-se aos diferentes contextos
linguísticos, além de compreender e saber como participar dos jogos de poder que são
estabelecidos na e pela língua, o domínio da competência simbólica. Assim, o locutor deve estar
apto a compreender o contexto maior no qual está inserido, a sociedade, para, a partir disso,
buscar seu espaço de atuação e ação em relação à sociedade. Para isso, analisamos recortes
enunciativos coletados em entrevistas orais semiestruturadas realizadas com um aluno
estrangeiro aprendiz de português como língua adicional, a partir das quais buscamos perceber
a maneira como o indivíduo compreende a sua apropriação da língua e sua conversão em
discursos como o meio pelo qual sua identidade é construída no convívio social, bem como a
maneira como percebe a sua aquisição linguística como o meio pelo qual sua inserção na
sociedade é facilitada ou não, ou seja, se lhe é propiciado o empoderamento linguístico através
da apropriação do sistema da língua portuguesa. Para tanto, estipulamos como categorias de
análise, de base enunciativa, o ato, a intersubjetividade, a referência e o tempo-espaço da
enunciação, além de, em bases aplicadas, analisar o desenvolvimento da competência simbólica
e, como resultado destas categorias, refletir sobre a construção da identidade. Como resultado,
percebemos que a apropriação da língua e a sua conversão em discursos de fato propicia ao
indivíduo a sua inserção na comunidade de fala, além de inseri-lo em diferentes contextos de
atuação, sejam estes presenciais ou digitais. Concluímos, assim, que as identidades são
constantemente (re)construídas na e pela linguagem, pois são forjadas nas relações
interlocutivas e alteram-se conforme as necessidades impostas na situação comunicava, no
intuito de participar dos jogos de poder estabelecidos na linguagem
This work, based on the dialogue between Applied Linguistics and the Linguistics of
Enunciation of Émile Benveniste, aims to investigate, through the report of a foreign speaker,
the way the identities of learners of Portuguese as an additional language which are inserted in
a Brazilian public university are built in different situations of dialogue, including those
instantiated in digital media.We discuss the constitution of man and their identities as correlated
to the society in which the individual proposes to act, in an interface perspective between two
fields of language studies, the Linguistics of Enunciation, anchored in Émile Benveniste, and
Applied Linguistics. To that, we propose to articulate these theoretical bases to the search for
the symbolic capacity to position yourself actively and critically in a society, focusing in the
university context especially in situations that are also mediated by technological resources. We
understand that more than being able to communicate efficiently in the target language, that is,
from an instrumental point of view, to master the form of the language, we believe it is
necessary for the speaker to hold other knowledges that are not just communicative related.
Therefore, the speakers need to have the ability to adapt the discourses to different linguistic
contexts, besides, they have to comprehend the power games that are established in and by
language, in order to participate in those games, which is the domain of symbolic competence.
Thus, in order to participate, the speakers must be able to understand the larger context in which
they are inserted, that is, the society, so that they will be able to seek their space to act and
interact in the society. For this, we analyzed enunciative excerpts collected in semi-structured
oral interviews carried out with a foreign student learning Portuguese as an additional language,
from which we seek to understand the way in which the individual understands his
appropriation of the language and its conversion into discourses as the means by which his
identity is built on social interaction, as well as the way in which he perceives his linguistic
acquisition as the means by which his insertion in society is facilitated or not, that is, if he is
provided with linguistic empowerment through the appropriation of the Portuguese language
system . Therefore, we stipulate as categories of analysis with an enunciative basis, the act, the
intersubjectivity, the reference and the space-time of the enunciation, also, according applied
linguistics theoretical bases, we analyze the development of symbolic competence and, as a
result of these categories, we reflect on the construction of identity.As a result, we realized that
the appropriation of the language and its conversion into speeches provide the insertion of the
individual in the speech community, indeed. Also, this appropriation inserts the speaker into
different contexts of performance, whether in person or digital situations. We conclude,
therefore, that identities are constantly (re) constructed in and by language, as they are forged
in interlocutive relationships and change according to the needs imposed in the communicative
situation, so that to participate in the power games established in language.