Abstract:
O objetivo deste trabalho é estudar como se dá a constituição da persona Rita Von Hunty, segundo a Semântica (Socio)Cognitiva. Neste estudo, mostra-se como a performance de gênero revela, através da sua arte, como homens e mulheres são construídos socialmente e, portanto, podem ser “mimetizados”. No caso das drag queens, há uma manipulação da imagem feminina, a qual é caracterizada através de roupas, maquiagens e atitudes que são comumente atribuídas às mulheres. A abordagem deste estudo é desenvolvida a partir de uma resenha sobre a problemática da referência, partindo dos estudos clássicos, com Platão (Crátilo, 429a-432e), até chegar em Mondada e Dubois (2015) para a constituição de um objeto de discurso. Neste contexto, ainda são considerados os estudos de Wittgenstein (1975) com uma perspectiva linguístico-pragmática, em que a referência é estudada com base nas noções de jogos de linguagem, semelhanças de famílias, essa abordagem discursiva a respeito da referência possibilita que tal questão seja estudada no âmbito da Teoria dos Espaços Mentais (Fauconnier, 1994), (Fauconnier; Turner, 2002), por compreender que a mesclagem conceptual seja um processo implicado na constituição da referência. Além disso, com o intuito de relacionar a constituição de uma persona com a organização dos espaços mentais e com a mesclagem conceptual, são utilizados textos e autores, como Chidiac e Oltramari (2004), Jesus (2012), Amanajás (2015) e Butler (2018; 2019), que possibilitam compreender o universo drag queen e a performance de gênero. Para complementar o corpus, são abordadas as falas de Rita Von Hunty em seu canal Tempero Drag e em entrevistas que a drag queen participou. Tais considerações acabam revelando que a performatividade é o resultado de uma materialização das relações entre sexo e gênero, e a drag queen propositalmente exagera os traços convencionais do feminino, acentuando traços culturalmente identificados. Partindo da perspectiva semântica-discursiva, percebe-se, assim, que a noção de performance está imbricada na cultura e no processo cognitivo que ocorre de forma involuntária. O processo ativa memórias armazenadas em nossas mentes e produz sentidos ligados às nossas experiências socio-históricas e cognitivas. Por fim, percebe-se que uma drag é um exemplo de performatividade, que vai além de limites binários impostos, rompendo com modelos normativos de construção de uma identidade, ressaltando como sexo não corresponde, de maneira binária, ao gênero parodiado na ação simbólica.
The aim of this work is to study how the Rita Von Hunty persona is constituted, according to (Social)Cognitive Semantics. This study shows how gender performance reveals, through their art, how men and women are socially constructed and can therefore be "mimicked". In the case of drag queens, there is a manipulation of the female image, which is characterized through clothes, make-up and attitudes that are commonly attributed to women. The approach of this study is developed from a review of the problem of reference, starting from classical studies, with Platão (Crátilo, 429a-432e), to Mondada and Dubois (2015) for the constitution of an object of discourse. In this context, the studies of Wittgenstein (1975) from a linguistic-pragmatic perspective are also considered, in which reference is studied based on the notions of language games, family resemblances, and this discursive approach to reference allows this issue to be studied within the framework of the Theory of Mental Spaces (Fauconnier, 1994), (Fauconnier; Turner, 2002), as it is understood that blending is a process involved in the constitution of reference. Furthermore, to relate the constitution of a persona with the organization of mental spaces and with blending, texts and authors are used, such as Chidiac and Oltramari (2004), Jesus (2012), Amanajás (2015) and Butler (2018; 2019), which make it possible to understand the drag queen universe and gender performance. To complement the corpus, Rita Von Hunty's speeches on her channel Tempero Drag and in interviews in which the drag queen took part are discussed. These considerations end up revealing that performativity is the result of a materialization of the relations between sex and gender, and that drag queen purposely exaggerates conventional feminine traits, accentuating culturally identified traits. From a semantic-discursive perspective, the notion of performance overlaps culture and the cognitive process that occurs involuntarily. The process activates memories stored in our minds and produces meanings linked to our socio-historical and cognitive experiences. Finally, drag is an example of performativity, which goes beyond imposed binary limits, breaking with normative models of identity construction, highlighting how sex does not correspond, in a binary way, to the gender parodied in the symbolic action.