Multimorbidade, morbidades e COVID longa: estudo populacional com adultos e idosos do Sul do Brasil

Ventura, Lucas Souza

Abstract:

 
A maioria dos indivíduos infectados com o vírus SARS-CoV-2 não necessitou de hospitalização, no entanto, algumas pessoas desenvolveram sintomas prolongados. Esse evento que ficou conhecido como COVID longa ou sintomas pós-COVID-19, e foi observado que ter morbidades ou multimorbidade prévias, predispôs desfechos ruins da COVID-19. Neste sentido, o presente estudo objetivou avaliar a associação entre COVID longa, morbidades e multimorbidade em adultos e idosos após seis a nove meses da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 no municípiode Rio Grande, RS. Tratou-se de um estudo transversal, realizado em uma amostra com idade igual ou superior a 18 anos, com diagnóstico de COVID-19 por meio do teste de RT-PCR no período de dezembro de 2020 a março de 2021, sintomáticos e residentes na zona urbana do município de Rio Grande, RS, Brasil. Foi utilizado o desfecho COVID longa, avaliado a partir da resposta afirmativa para pelo menos um dos 18 sintomas remanescentes investigados, que foram categorizados em sintomas osteomusculares, neurológicos, respiratórios, sensoriais e digestórios de COVID longa. As morbidades foram avaliadas a partir da presença de pelo menos uma das 11 doenças autorreferidas investigadas. Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico Stata 15.0. Para avaliar a relação entre COVID longa, morbidades e multimorbidade, foram realizadas análises brutas e ajustadas por meio da regressão de Poisson. Todas as associações com IC95% sem sobreposição entre as categorias foram consideradas estatisticamente significativas. Das 2.919 pessoas entrevistadas, 48,3% tinham pelo menos um sintoma de COVID longa, e 45,0% apresentavam uma morbidade preexistente. Destacou-se a ansiedade (26,3%), hipertensão arterial (25,3%) e depressão (19,4%) as morbidades mais prevalentes. Foram observadas altas taxas de sintomas neurológicos de COVID longas entre indivíduos com depressão (40,8%; IC95% 36,8-44,9) e osteoporose (41,6%; IC95% 33,2-50,5) prévias, e sintomas osteomusculares entre aqueles com osteoporose (45,6%; IC95% 37,0-54,5). Indivíduos com depressão possuíam relação com COVID longa (RP=1,17 IC95% 1,05-1,30), sintomas neurológicos (RP=1,44 IC95% 1,20-1,68) e sintomas osteomusculares (RP=1,31 IC95% 1,09-1,57). Aqueles com ansiedade possuíam relação com COVID longa (RP=1,33 IC95% 1,21-1,47), sintomas digestórios (RP=1,92 IC95% 1,00-3,69), sintomas sensoriais (RP=1.38 (IC95% 1,12-1,70), sintomas respiratórios (RP=1,44 IC95% 1,24-1,69), sintomas neurológicos (RP=1,44 IC95% 1,24-1,69) e sintomas osteomusculares (RP=1,42 IC95% 1,20-1,68). Com relação a multimorbidade e sintomas de COVID longa, 17,8% dos apresentavam duas morbidades prévias e 22,6% três ou mais. Indivíduos com duas morbidades possuíam relação com COVID longa (RP=1,22 IC95% 1,07-1,39) e sintomas osteomusculares (RP=1,36 IC95% 1,09-1,70). Ter três ou mais morbidades possuía relação com COVID longa (RP=1,40 IC95% 1,24-1,57), sintomas digestórios (RP=4,34 IC95% 1,94-9,70), sintomas sensoriais (RP=1,40 IC95% 1,08-1,82), sintomas respiratórios (RP=2,09 IC95% 1,57-2,78) e sintomas neurológicos (RP=1,60 IC95% 1,33-1,94). Indivíduos com duas e três morbidades ou mais possuíam 1,22 (IC95% 1,07-1,39) e 1,40 (IC95% 1,24-1,57) respectivamente vezes maior probabilidade de desenvolver COVID longa. Aqueles com duas morbidades possuíam 1,36 (IC95% 1,09-1,70) vezes maior probabilidade e com três ou mais morbidades possuíam 1,75 (IC95% 1,44-2,13) vezes maior probabilidade de desenvolver sintomas osteomusculares. Os achados desta pesquisa reforçam a maior vulnerabilidade de indivíduos com morbidades e multimorbidade para COVID longa, e a importância deconsiderar que as morbidades e multimorbidade sejam acompanhadas e incluídas em planos estratégicos de saúde da população, em especial naqueles infectados pelo SARS-CoV-2.
 
Most individuals infected with the SARS-CoV-2 virus did not require hospitalization, however, some people did develop prolonged symptoms. This event that became known as long COVID or post-COVID-19 symptoms, and it was observed that having previous morbidities or multimorbidity predisposed poor outcomes of COVID-19. In this sense, the present study aimed to evaluate the association between long COVID, morbidities and multimorbidity in adults and the elderly after six to nine months of infection with the SARS-CoV-2 virus in the city of Rio Grande, RS. This was a cross-sectional study, carried out in a sample aged 18 years or over, diagnosed with COVID-19 through the RT-PCR test in the period from December 2020 to March 2021, symptomatic and residing in the urban area of the municipality of Rio Grande, RS, Brazil. The long COVID outcome was used, assessed from the affirmative response to at least one of the 18 remaining symptoms investigated, which were categorized into musculoskeletal, neurological, respiratory, sensory and digestive symptoms of long COVID. Morbidities were assessed based on the presence of at least one of the 11 self-reported diseases investigated. Data were analyzed using the Stata 15.0 statistical package. To assess the relationship between long COVID, morbidities and multimorbidity, crude and adjusted analyzes were performed using Poisson regression. All associations with 95%CI without overlap between categories were considered statistically significant. Of the 2,919 people interviewed, 48.3% had at least one long-term COVID symptom, and 45.0% had pre-existing morbidity. Anxiety (26.3%), hypertension (25.3%) and depression (19.4%) stood out as the most prevalent morbidities. High rates of neurological symptoms were observed among individuals with previous depression (40.8%; 95%CI 36.8-44.9) and osteoporosis (41.6%; 95%CI 33.2-50.5), and symptoms musculoskeletal disorders among those with osteoporosis (45.6%; 95%CI 37.0-54.5). Individuals with depression were related to long COVID (RP=1.17 95% CI 1.05-1.30), neurological symptoms (RP=1.44 95% CI 1.20-1.68) and musculoskeletal symptoms (RP=1 .31 95%CI 1.09-1.57). Those with anxiety were related to long COVID (RP=1.33 IC95% 1.21-1.47), digestive symptoms (RP=1.92 IC95% 1.00-3.69), sensory symptoms (RP=1.38 (95%CI 1.12-1.70), respiratory symptoms (RP=1.44 95%CI 1.24- 1.69), neurological symptoms (RP=1.44 95%CI 1.24-1.69) and musculoskeletal symptoms (PR=1.42 95% CI 1.20-1.68). Regarding multimorbidity and symptoms of long COVID, 17.8% of those had two previous morbidities and 22.6% had three or more. Individuals with two morbidities were related to long COVID (RP=1.22 CI95% 1.07-1.39) and musculoskeletal symptoms (RP=1.36 CI95% 1.09-1.70). Having three or more morbidities was related to Long COVID (RP=1.40 95% CI 1.24-1.57), digestive symptoms (RP=4.34 95% CI 1.94-9.70), sensory symptoms (RP=1.40 95% CI 1, 08- 1.82), respiratory symptoms (RP=2.09 95% CI 1.57-2.78) and neurological symptoms (RP=1.60 95% CI 1.33-1.94). Individuals with two and three morbidities or more were 1.22 (95%CI 1.07-1.39) and 1.40 (95%CI 1.24-1.57) respectively times more likely to develop long COVID. Those with two morbidities were 1.36 (95%CI 1.09-1.70) times more likely and those with three or more morbidities were 1.75 (95%CI 1.44-2.13) times more likely to develop musculoskeletal symptoms . The findings of this research reinforce the greater vulnerability of individuals with morbidities and multimorbidity to long COVID, and the importance of considering that morbidities and multimorbidity are monitored and included in strategic health plans for the population, especially in those infected with SARS-CoV-2.
 

Description:

Dissertação (Mestrado)

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  • FAMED - Mestrado em Ciências da Saúde (Dissertações)