Abstract:
A Organização Mundial da Saúde declarou situação pandêmica e emergencial no ano de
2020 devido à infecção causada pelo SARS-CoV-2, conhecida como covid-19, que
causou mais de 6,6 milhões de mortes. Por seu alto potencial de contágio e gravidade,
foram difundidas estratégias efetivas para redução do ritmo de expansão da doença
como aconselhamentos para realização de distanciamento social, higienização das mãos
e uso de máscaras (medidas preventivas e de combate à covid-19), além de orientações
para um estilo de vida saudável e vacinação. O aconselhamento em saúde é fundamental
para promover mudança de hábitos nos indivíduos. Apesar da importância dos
aconselhamentos profissionais durante a pandemia, são escassos os estudos que avaliem
o recebimento destas orientações para a população acometida por covid-19. Sabendo
que o Brasil é um país marcado por desigualdades sociais e que a pandemia as
exacerbou, o objetivo deste estudo é identificar a prevalência do recebimento de
aconselhamentos realizados pelos profissionais da saúde sobre medidas não
farmacológicas (higienização das mãos, uso de máscara e distanciamento social), estilo
de vida saudável (prática de atividade física, alimentação e hábitos de sono saudáveis), e
vacinação para de adultos e idosos infectados pela covid-19 residentes no município de
Rio Grande/RS e desigualdades de acordo com a renda. Trata-se de um estudo de
delineamento transversal, com indivíduos de 18 anos ou mais residentes no meio urbano
que tiveram diagnóstico de coronavírus por meio do teste de RT-PCR no período de
dezembro de 2020 a março de 2021, e que realizaram tratamento na cidade do Rio
Grande. Foram avaliadas por meio de aplicação de questionário. As variáveis
dependentes deste estudo foram o recebimento de aconselhamentos em saúde sobre: 1)
higienização das mãos, uso de máscara, distanciamento social (medidas preventivas e de
combate à covid-19); 2) prática de atividade física; 3) alimentação saudável; 4) hábitos
de sono saudáveis; e 5) vacinação em indivíduos com covid-19. A variável
independente foi renda e as variáveis de ajuste foram caraterísticas demográficas,
nutricionais e socioeconômicas. Os dados foram analisados por meio do pacote
estatístico Stata 17.1. Os dados descritivos foram apresentados como proporções e
intervalos de confiança de 95% (IC95%). Usamos o Teste de Qui-Quadrado para avaliar
a distribuição dos desfechos de acordo com a renda. As análises ajustadas foram
realizadas por meio de regressão de Poisson com ajuste robusto de variância.
Desigualdades foram avaliadas pelas medidas Slope Index of Inequality (SII) e
Concentration Index (CIX). Todas as associações com IC95% sem sobreposição entre
as categorias foram consideradas estatisticamente significativas. Foram entrevistados
2.919 indivíduos, dos quais 56,3% (IC95% 54,5; 58,1) relataram ter recebido
aconselhamento para medidas preventivas e de combate à covid-19, 29,4% (IC95%
27,7; 31,0) para prática de atividade física, 37,6% (IC95% 35,8; 39,4) para alimentação
saudável, 32,5% (IC95% 30,8;34,2) para hábitos de sono saudáveis e 38,7% (IC95%
36,9;40,5) para vacinação contra covid-19. Os dados apresentados neste estudo
mostraram uma baixa prevalência de recebimento de aconselhamentos em saúde
realizados por profissionais de saúde, sendo que aconselhamentos para medidas de
proteção à covid-19 teve uma maior prevalência de recebimento enquanto
aconselhamentos para prática de atividade física apresentou uma menor ocorrência
(56,3% e 29,4%, respetivamente). Verificamos que a probabilidade dos participantes
receberem aconselhamento para alimentação saudável, prática de atividade física, sono
saudável e para pelo menos uma das medidas protetivas e de combate à covid-19 era
30% maior entre aqueles com renda mais alta, e essa diferença ocorreu
progressivamente. Quanto à magnitude das desigualdades em relação à renda para cada
um dos aconselhamentos, todas elas apresentaram maior concentração entre os mais
ricos. Concluindo, há iniquidades pró-ricos em todos os aconselhamentos estudados de
acordo com a renda, exceto no aconselhamento para medidas protetivas e de combate à
covid-19 para indivíduos acometidos pela infecção no extremo sul do Brasil.
The World Health Organization declared a pandemic and emergency situation in 2020
due to the infection caused by SARS-CoV-2, known as covid-19, which has caused
more than 6.6 million deaths. Because of its high contagious potential and severity,
effective strategies have been disseminated to reduce the rate at which the disease is
spreading, such as advice on social distancing, hand hygiene, and the use of masks
(preventive measures and measures to combat covid-19), as well as guidelines for a
healthy lifestyle and vaccination. Health counseling is fundamental to promote habit
change in individuals. Despite the importance of professional counseling during the
pandemic, there are few studies evaluating the receipt of this guidance for the
population affected by covid-19. Knowing that Brazil is a country marked by social
inequalities and that the pandemic has exacerbated them, the aim of this study is to
identify the prevalence of receiving counseling from health professionals on nonpharmacological measures (hand hygiene, mask use, and social distancing), healthy
lifestyle (physical activity practice, healthy eating and sleeping habits), and vaccination
for adults and the elderly infected by covid-19 residing in the municipality of Rio
Grande/RS and inequalities according to income. This is a cross-sectional study design,
with individuals aged 18 years or older living in urban areas who were diagnosed with
coronavirus by means of the RT-PCR test in the period from December 2020 to March
2021, and who underwent treatment in the city of Rio Grande. They were evaluated
through the application of a questionnaire. The dependent variables of this study were
the receipt of health counseling on: 1) hand hygiene, mask use, social distancing
(preventive measures and to combat covid-19); 2) physical activity practice; 3) healthy
eating; 4) healthy sleeping habits; and 5) vaccination in individuals with covid-19. The
independent variable was income and the adjustment variables were demographic,
nutritional, and socioeconomic characteristics. Data were analyzed using the Stata 17.1
statistical package. Descriptive data were presented as proportions and 95% confidence
intervals (95%CI). We used the Chi-square test to assess the distribution of outcomes
according to income. Adjusted analyses were performed using Poisson regression with
robust variance adjustment. Inequalities were assessed by Slope Index of Inequality
(SII) and Concentration Index (CIX) measures. All associations with 95% CI with no
overlap between categories were considered statistically significant. A total of 2,919
individuals were interviewed. 56.3% (95%CI 54.5; 58.1) of the respondents reported
receiving counseling for preventive measures and combating covid-19, 29.4% (95%CI
27.7; 31.0) for physical activity practice, 37.6% (95%CI 35.8; 39.4) for healthy eating,
32.5% (95%CI 30.8;34.2) for healthy sleeping habits, and 38.7% (95%CI 36.9;40.5) for
covid-19 vaccination. The data presented in this study showed a low prevalence of
receipt of health counseling given by health professionals, with counseling for covid-19
protective measures having a higher prevalence of receipt while counseling for physical
activity practice had a lower occurrence (56.3% and 29.4%, respectively). We found
that the likelihood of participants receiving counseling for healthy eating, physical
activity practice, healthy sleep, and for at least one of the covid-19 protective and
countermeasures was 30% higher among those with higher incomes, and this difference
occurred progressively. As for the magnitude of inequalities in relation to income for
each of the advisories, they all showed greater concentration among the wealthier. In
conclusion, there are pro-rich inequities in all the studied counseling according to
income, except for the counseling for protective measures and combating covid-19 for
individuals affected by the infection in the extreme south of Brazil.