Abstract:
O Brasil é o segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas no mundo e cerca de um
terço dos produtos agrícolas são produzidos por influência da aplicação de agrotóxicos nas
plantações. A utilização excessiva desses produtos penetra ou atinge plantas não-alvo,
contamina o meio ambiente e deixa resíduos em alimentos consumidos pela população. A
exposição por via alimentar de agrotóxicos tem sido associada a efeitos à saúde como problemas
no sistema endócrino, neurológico, piora em quadros como asma, sobrepeso e obesidade e até
relação com o desenvolvimento de alguns tipos de câncer. Uma alternativa para essa
problemática é o consumo de alimentos orgânicos, pois são proibidos por lei de utilizar
agrotóxicos e fertilizantes de alta solubilidade na produção. Neste sentido, Ensaios Clíncos são
o delinemaneto principal para avaliar exposição e efeito e preencher a lacuna de conhecimento
nessa área. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a presença de agrotóxicos e os efeitos
da exposição a esses compostos através da via alimentar sobre os parâmetros bioquímicos de
indivíduos saudáveis em um Ensaio Clínico Randomizado (ECR). Foram incluídos no estudo
adultos saudáveis entre 19-40 anos da Universidade Federal do Rio Grande, Brasil. Os
participantes foram alocados, aleatoriamente, em dois grupos experimentais: 1) consumidores
de alimentos convencionais e 2) consumidores de alimentos orgânicos e foram fornecidas as
refeições de café da manhã, almoço, janta e 2 lanches pelo período de 14 dias de intervenção
do ECR. Antes e imediatamente após o período de intervenção, foram coletados urina para
análise de resíduos de agrotóxicos, sangue para determinação de parâmetros bioquímicos e
genéticos e realizada avaliação antropométrica. O grupo convencional foi composto por 70
indivíduos e o grupo orgânico 78 (N=148), 65,5% da amostra tinha idade entre 21-29 anos e
87,7% apresentaram dieta onívora. Na comparação entre os grupos ao fim da intervenção, o
grupo orgânico apresentou redução na circunferência da cintura e o grupo convencional
aumento na circunferência do quadril. Para avaliação dos níveis urinários e marcadores
biológicos foram incluídos os indivíduos que apresentaram, pelo menos, um agrotóxico
detectado na urina. Os níveis urinários de inseticidas diminuíram em ambos os grupos, com um
percentual maior no grupo orgânico (98,6%) comparado ao grupo convencional (66,2%). O
dano de DNA aumentou em ambos os grupos, mas os mecanismos de reparo ao DNA por BER
e NER foram maiores no grupo orgânico. Em suma, os dados obtidos por este estudo sugerem
que o consumo predominante de alimentos convencionais pode ter associação com maiores
níveis urinários de inseticidas, principalmente piretróides e os indivíduos com esse hábito
alimentar podem ter menor capacidade de reparo de dano ao DNA comparado a consumidores
orgânicos.
Brazil is the world's second largest exporter of agricultural products in the world and about a
third of agricultural products are produced under the influence of pesticide application in
plantations. The excessive use of these products penetrates or reaches non-target plants,
contaminates environment and leaves residues in food consumed by population. Exposure to
pesticides through food has been associated with health effects such as problems in endocrine
and neurological system, worsening in conditions such as asthma, overweight and obesity and
even related to development of some types of cancer. An alternative to this problem is the
consumption of organic foods, as they are prohibited by law from using highly soluble
pesticides and fertilizers in production. In this sense, Clinical Trials are the main design to
assess exposure and effect and fill the knowledge gap in this area. Thus, the objective of this
work was to evaluate the presence of pesticides and effects of exposure to these compounds
through food route on the biochemical parameters of healthy individuals in a Randomized
Clinical Trial (RCT). Healthy adults aged 19-40 years from Federal University of Rio Grande,
Brazil were included in the study. Participants were randomly allocated into two experimental
groups: 1) consumers of conventional foods and 2) consumers of organic foods and were
provided with breakfast, lunch, dinner and 2 snacks for the 14-day period of RCT intervention.
Before and immediately after intervention period, urine was collected for analysis of pesticide
residues, blood for determination of biochemical and genetic parameters and an anthropometric
evaluation was performed. The conventional group consisted of 70 individuals and organic
group 78 (N=148), 65.5% of sample was aged between 21-29 years and 87.7% had an
omnivorous diet. Comparing the groups at end of the intervention, organic group showed a
reduction in waist circumference and conventional group showed an increase in hip
circumference. To assess urinary levels and biological markers, individuals who had at least
one pesticide detected in their urine were included. Urinary insecticide levels decreased in both
groups, with a higher percentage in the organic group (98.6%) compared to conventional group
(66.2%). DNA damage increased in both groups, but DNA repair mechanisms by BER and
NER were greater in the organic group. In summary, data obtained by this study suggest that
the predominant consumption of conventional foods may be associated with higher urinary
levels of insecticides, mainly pyrethroids, and individuals with this eating habit may have a
lower capacity to repair DNA damage compared to organic consumers.