As vivências das famílias durante a pandemia da COVID-19: estudo das perdas e dos processos
Resumo
Como objetivo geral buscou-se compreender os processos que ajudaram a família a enfrentar as perdas vivenciadas durante a pandemia da COVID-19. Como objetivos específicos: Examinar a(s) perda(s) decorrente(s) da pandemia e o sentido atribuído pela família; Examinar as referências de apoio utilizadas pela família que auxiliaram no processo de enfrentamento da(s) perda(s); Examinar os processos de organização, de comunicação e os sistemas de crença utilizados pela família no enfrentamento da(s) consequências(s) decorrentes da pandemia da COVID-19. Estudo qualitativo, exploratório, que utiliza o referencial teórico da Resiliência Familiar. Participaram do estudo 36 famílias que sofreram perdas econômicas/financeiras e/ou perdas por morte e/ou perdas/rompimentos de relacionamento durante a pandemia da COVID- 19. Incluiu-se famílias que tinham pelo menos um membro representante com idade igual ou maior de 18 anos, totalizando 41 membros representantes. Os dados foram coletados entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, por meio de entrevistas semiestruturadas, em uma cidade do noroeste do Rio Grande do Sul/Brasil e analisados pela técnica de análise de conteúdo, com o auxílio do software Iramuteq. Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FURG, CAAE: 63850822.9.0000.5324, conforme a Resolução no510/2016. Evidenciou-se que as perdas surgidas da pandemia foram as perdas laborais, financeiras, relacionadas à saúde e às perdas por morte. Para enfrentá-las, as famílias identificaram auxílio nos recursos intra e extrafamiliares, representados pela intensificação das relações com a família nuclear. E, quando a família vivenciou a morte, buscou se fortalecer com mais convicção no sistema de crença e nos recursos extrafamiliares, identificados pela terapia psicológica e na igreja. A perda por morte foi uma das mais difíceis de enfrentar, mesmo assim, algumas famílias perceberam a morte com pesar, e algumas com alívio. Quando a família percebeu a morte com pesar, revela que os processos de organização e de comunicação familiar se desenrolavam de maneira positiva em conjunto a pessoa que morreu. Quando percebeu a morte como alívio, denota severas falhas nos processos de organização e comunicação, junto a pessoa falecida. Os sistemas de crença são evidenciados em ambas situações, fazendo referência ao significado criado pela família para enfrentar a morte. O estigma social em relação a doença, a introdução do ensino escolar remoto, os atritos entre os membros, a separação conjugal e o desencadeamento de psicopatologias em alguns membros foram algumas consequências surgidas da pandemia. Frente ao estigma social, a dificuldade escolar remota e o desencadeamento de psicopatologias, as famílias conseguiram se fortalecer a partir dos três processos da resiliência familiar. Para enfrentar os atritos entre os membros, as famílias se fortaleceram a partir dos elementos da organização familiar. E, quando houve a separação conjugal e a desestruturação familiar, os processos de comunicação e organização colaboraram para o fortalecimento e posterior reestruturação da unidade. Espera-se que os resultados deste estudo possam servir de subsídio para a prática dos profissionais que realizam cuidados às famílias, incluindo no plano de cuidados os processos potencializadores da resiliência familiar, pois colabora para que este grupo social desenvolva habilidades e competências, fortalecendo sua autonomia.
The general objective was to understand the processes that helped families face the losses experienced during the COVID-19 pandemic. Specific objectives include: Examining the loss(es) resulting from the pandemic and the meaning attributed by the family; Examine the support references used by the family that helped in the process of coping with the loss(es); Examine the organizational, communication processes and belief systems used by the family in coping with the consequences arising from the COVID-19 pandemic. Qualitative, exploratory study, which uses the theoretical framework of Family Resilience. The study included 36 families who suffered economic/financial losses and/or losses due to death and/or losses/breakdowns in relationships during the COVID-19 pandemic. Families that had at least one representative member aged 18 or over were included, totaling 41 representative members. Data were collected between November 2022 and January 2023, through semi-structured interviews, in a city in the northwest of Rio Grande do Sul/Brazil and analyzed using the content analysis technique, with the help of the Iramuteq software. Research approved by the FURG Research Ethics Committee, CAAE: 63850822.9.0000.5324, in accordance with Resolution no510/2016. It was evident that the losses arising from the pandemic were labor, financial, health-related losses and losses due to death. To face them, families identified help from intra- and extra-family resources, represented by the intensification of relationships with the nuclear family. And, when the family experienced death, they sought to strengthen themselves with more conviction in the belief system and extra-family resources, identified through psychological therapy and the church. The loss due to death was one of the most difficult to face, even so, some families perceived the death with regret, and some with relief. When the family perceived the death with regret, it revealed that the family organization and communication processes unfolded in a positive way together with the person who died. When he perceived death as a relief, he denotes severe failures in the organization and communication processes, with the deceased person. Belief systems are evident in both situations, referring to the meaning created by the family to face death. The social stigma regarding the disease, the introduction of remote school teaching, friction between members, marital separation and the triggering of psychopathologies in some members were some of the consequences that emerged from the pandemic. Faced with social stigma, remote school difficulties and the triggering of psychopathologies, families managed to strengthen themselves through the three processes of family resilience. To face friction between members, families strengthened themselves based on elements of the family organization. And, when there was marital separation and family disruption, the communication and organization processes contributed to the strengthening and subsequent restructuring of the unit. It is expected that the results of this study can serve as a basis for the practice of professionals who provide care to families, including processes that enhance family resilience in the care plan, as it helps this social group develop skills and competencies, strengthening their autonomy.
El objetivo general fue comprender los procesos que ayudaron a las familias a afrontar las pérdidas vividas durante la pandemia de COVID-19. Los objetivos específicos incluyen: Examinar las pérdidas resultantes de la pandemia y el significado atribuido por la familia; Examinar las referencias de apoyo utilizadas por la familia que ayudó en el proceso de afrontar la(s) pérdida(s); Examinar los procesos organizativos, de comunicación y los sistemas de creencias utilizados por la familia para afrontar las consecuencias derivadas de la pandemia de COVID-19. Estudio cualitativo, exploratorio, que utiliza el marco teórico de la Resiliencia Familiar. El estudio incluyó a 36 familias que sufrieron pérdidas económicas/financieras y/o pérdidas debido a la muerte y/o pérdidas/rupturas en las relaciones durante la pandemia de COVID-19. Se incluyeron familias que tenían al menos un miembro representativo de 18 años o más, totalizando 41 miembros representativos. Los datos fueron recolectados entre noviembre de 2022 y enero de 2023, a través de entrevistas semiestructuradas, en una ciudad del noroeste de Rio Grande do Sul/Brasil y analizados mediante la técnica de análisis de contenido, con ayuda del software Iramuteq. Investigación aprobada por el Comité de Ética en Investigación de la FURG, CAAE: 63850822.9.0000.5324, de acuerdo con la Resolución no510/2016. Fue evidente que las pérdidas derivadas de la pandemia fueron pérdidas laborales, financieras, de salud y por muerte. Para afrontarlos, las familias identificaron la ayuda de recursos intra y extrafamiliares, representados por la intensificación de las relaciones con el núcleo familiar. Y, cuando la familia experimentó la muerte, buscó fortalecerse con más convicción en el sistema de creencias y recursos extrafamiliares, identificados a través de la terapia psicológica y la iglesia. La pérdida por muerte fue una de las más difíciles de afrontar, aun así, algunas familias percibieron el fallecimiento con pesar, y otras con alivio. Cuando la familia percibió con pesar la muerte, reveló que los procesos de organización y comunicación familiar se desarrollaron de manera positiva junto a la persona fallecida. Cuando percibió la muerte como un alivio, denota severas fallas en los procesos de organización y comunicación, con la persona fallecida. En ambas situaciones se evidencian sistemas de creencias, referidas al significado que crea la familia ante la muerte. El estigma social frente a la enfermedad, la introducción de la enseñanza escolar a distancia, los roces entre integrantes, la separación matrimonial y el desencadenamiento de psicopatologías en algunos integrantes fueron algunas de las consecuencias que surgieron de la pandemia. Ante el estigma social, las dificultades del alejamiento escolar y el desencadenamiento de psicopatologías, las familias lograron fortalecerse a través de los tres procesos de resiliencia familiar. Para afrontar las fricciones entre sus miembros, las familias se fortalecieron a partir de elementos de la organización familiar. Y, cuando hubo separación matrimonial y ruptura familiar, los procesos de comunicación y organización contribuyeron al fortalecimiento y posterior reestructuración de la unidad. Se espera que los resultados de este estudio puedan servir de base para la práctica de los profesionales que brindan cuidados a las familias, incluyendo procesos que potencien la resiliencia familiar en el plan de cuidados, ya que ayuda a este grupo social a desarrollar habilidades y competencias, fortaleciendo su autonomía.
The general objective was to understand the processes that helped families face the losses experienced during the COVID-19 pandemic. Specific objectives include: Examining the loss(es) resulting from the pandemic and the meaning attributed by the family; Examine the support references used by the family that helped in the process of coping with the loss(es); Examine the organizational, communication processes and belief systems used by the family in coping with the consequences arising from the COVID-19 pandemic. Qualitative, exploratory study, which uses the theoretical framework of Family Resilience. The study included 36 families who suffered economic/financial losses and/or losses due to death and/or losses/breakdowns in relationships during the COVID-19 pandemic. Families that had at least one representative member aged 18 or over were included, totaling 41 representative members. Data were collected between November 2022 and January 2023, through semi-structured interviews, in a city in the northwest of Rio Grande do Sul/Brazil and analyzed using the content analysis technique, with the help of the Iramuteq software. Research approved by the FURG Research Ethics Committee, CAAE: 63850822.9.0000.5324, in accordance with Resolution no510/2016. It was evident that the losses arising from the pandemic were labor, financial, health-related losses and losses due to death. To face them, families identified help from intra- and extra-family resources, represented by the intensification of relationships with the nuclear family. And, when the family experienced death, they sought to strengthen themselves with more conviction in the belief system and extra-family resources, identified through psychological therapy and the church. The loss due to death was one of the most difficult to face, even so, some families perceived the death with regret, and some with relief. When the family perceived the death with regret, it revealed that the family organization and communication processes unfolded in a positive way together with the person who died. When he perceived death as a relief, he denotes severe failures in the organization and communication processes, with the deceased person. Belief systems are evident in both situations, referring to the meaning created by the family to face death. The social stigma regarding the disease, the introduction of remote school teaching, friction between members, marital separation and the triggering of psychopathologies in some members were some of the consequences that emerged from the pandemic. Faced with social stigma, remote school difficulties and the triggering of psychopathologies, families managed to strengthen themselves through the three processes of family resilience. To face friction between members, families strengthened themselves based on elements of the family organization. And, when there was marital separation and family disruption, the communication and organization processes contributed to the strengthening and subsequent restructuring of the unit. It is expected that the results of this study can serve as a basis for the practice of professionals who provide care to families, including processes that enhance family resilience in the care plan, as it helps this social group develop skills and competencies, strengthening their autonomy.
El objetivo general fue comprender los procesos que ayudaron a las familias a afrontar las pérdidas vividas durante la pandemia de COVID-19. Los objetivos específicos incluyen: Examinar las pérdidas resultantes de la pandemia y el significado atribuido por la familia; Examinar las referencias de apoyo utilizadas por la familia que ayudó en el proceso de afrontar la(s) pérdida(s); Examinar los procesos organizativos, de comunicación y los sistemas de creencias utilizados por la familia para afrontar las consecuencias derivadas de la pandemia de COVID-19. Estudio cualitativo, exploratorio, que utiliza el marco teórico de la Resiliencia Familiar. El estudio incluyó a 36 familias que sufrieron pérdidas económicas/financieras y/o pérdidas debido a la muerte y/o pérdidas/rupturas en las relaciones durante la pandemia de COVID-19. Se incluyeron familias que tenían al menos un miembro representativo de 18 años o más, totalizando 41 miembros representativos. Los datos fueron recolectados entre noviembre de 2022 y enero de 2023, a través de entrevistas semiestructuradas, en una ciudad del noroeste de Rio Grande do Sul/Brasil y analizados mediante la técnica de análisis de contenido, con ayuda del software Iramuteq. Investigación aprobada por el Comité de Ética en Investigación de la FURG, CAAE: 63850822.9.0000.5324, de acuerdo con la Resolución no510/2016. Fue evidente que las pérdidas derivadas de la pandemia fueron pérdidas laborales, financieras, de salud y por muerte. Para afrontarlos, las familias identificaron la ayuda de recursos intra y extrafamiliares, representados por la intensificación de las relaciones con el núcleo familiar. Y, cuando la familia experimentó la muerte, buscó fortalecerse con más convicción en el sistema de creencias y recursos extrafamiliares, identificados a través de la terapia psicológica y la iglesia. La pérdida por muerte fue una de las más difíciles de afrontar, aun así, algunas familias percibieron el fallecimiento con pesar, y otras con alivio. Cuando la familia percibió con pesar la muerte, reveló que los procesos de organización y comunicación familiar se desarrollaron de manera positiva junto a la persona fallecida. Cuando percibió la muerte como un alivio, denota severas fallas en los procesos de organización y comunicación, con la persona fallecida. En ambas situaciones se evidencian sistemas de creencias, referidas al significado que crea la familia ante la muerte. El estigma social frente a la enfermedad, la introducción de la enseñanza escolar a distancia, los roces entre integrantes, la separación matrimonial y el desencadenamiento de psicopatologías en algunos integrantes fueron algunas de las consecuencias que surgieron de la pandemia. Ante el estigma social, las dificultades del alejamiento escolar y el desencadenamiento de psicopatologías, las familias lograron fortalecerse a través de los tres procesos de resiliencia familiar. Para afrontar las fricciones entre sus miembros, las familias se fortalecieron a partir de elementos de la organización familiar. Y, cuando hubo separación matrimonial y ruptura familiar, los procesos de comunicación y organización contribuyeron al fortalecimiento y posterior reestructuración de la unidad. Se espera que los resultados de este estudio puedan servir de base para la práctica de los profesionales que brindan cuidados a las familias, incluyendo procesos que potencien la resiliencia familiar en el plan de cuidados, ya que ayuda a este grupo social a desarrollar habilidades y competencias, fortaleciendo su autonomía.
Descrição
Tese (doutorado)
Palavras-chave
Comportamento de Enfrentamento, Família, Pandemia por COVID-19, Enfermagem, Coping Behavior, Family, COVID-19 pandemic, Nursing, Conducta de Afrontamiento, Familia, Enfermería
Citação
DAL PAI, Sandra. As vivências das famílias durante a pandemia da COVID-19: estudo das perdas e dos processos. 2024. 139f. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2024.