Abstract:
A presente tese constitui-se em um resgate das primeiras ações de práticas educativas e de
ativismo ambientalista no Rio Grande do Sul/Brasil, que vivencia, entre o final da década de
30 e o início dos anos 60 do século XX, o desenvolvimento de um pioneiro e persistente
movimento ambiental liderado por Henrique Luiz Roessler. Inicialmente a militância de
Roessler se dá como fiscal florestal voluntário do Serviço Florestal no RS e, a partir de 1955,
através da fundação da UPN, União Protetora da Natureza, com sede em São Leopoldo/RS.
Entre 1957 e 1963, Roessler escreve, semanalmente, no jornal Correio do Povo, crônicas
ambientalistas, abordando os mais diversos temas: poluição dos rios, pesca e caçadas
predatórias, matas ribeirinhas, derrubadas florestais, reflorestamento, terras indígenas,
poluição, urbanização desenfreada e áreas de conservação. As crônicas, fontes documentais
daquela época, constituem o objeto de investigação da presente tese, que as examina no
âmbito de um contexto histórico marcado por intensas transformações promovidas pelo
impulso do capitalismo industrial, iniciado na era Vargas na década de 30, e continuado, nos
anos 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek. Como objetivo central, a tese se propõe
a reconstruir a gênese das práticas educativas e da militância de cunho ambiental no Rio
Grande do Sul, com ênfase na fonte jornalística Correio do Povo, entre 1957 e 1963, e a partir
desta reconstituição histórica, sistematizar os diversos problemas ambientais recorrentes no
Rio Grande do Sul à época; detectar e analisar os primeiros indícios de educação ambiental no
RS presentes nas crônicas; investigar os possíveis conflitos entre o desenvolvimento
capitalista emergente dos anos 50 e início dos 60 e os formadores de opinião ambiental;
observar as alterações de paisagem à época provocadas pelo então modelo de
desenvolvimento em curso. Para chegar a tais objetivos, a tese apresenta a hipótese de que as
crônicas jornalísticas escritas por Henrique Luiz Roessler, bem como seu ativismo ambiental,
configuram-se como ações situadas no campo da educação ambiental informal, contemplando
fundamentos que estão na base da educação ambiental contemporânea. Amparada
teoricamente nos conceitos de representação de Roger Chartier, e de meio ambiente, de Paula
Brügger e Marcos Reigota, bem como na metodologia da escrita historiográfica e em
procedimentos da análise de conteúdo, a pesquisa conclui que a atuação de Henrique Roessler
situa-se no campo da educação ambiental, promovida tanto por suas crônicas semanais, como
por sua atuação militante na União Protetora da Natureza (UPN), em atividades de
fiscalização, elaboração de panfletos educativos, orientação em igrejas, escolas e junto às
comunidades. Nesse sentido, a tese, ao reconstruir um capítulo da história ambiental do Rio
Grande do Sul, busca configurar-se como um subsídio pedagógico que, no âmbito da
Educação Ambiental, possa auxiliar na atuação de educadores e educadoras ambientais
contemporâneos.
This dissertation reviews early actions of educational practices and environmentalist activism
in Rio Grande do Sul state/Brazil between the late 30’s and the early 60’s of the 20th century.
In that period the development of a pioneering and persistent environmental movement is led
by Henrique Luiz Roessler. Roessler’s militancy starts in the position of volunteer forest
guard for the state’s Forestry Service and, from 1955, as the founder of UPN (União Protetora
da Natureza), housed in São Leopoldo. Besides, between 1957 and 1963, the year of his
death, Roessler writes weekly environmentalist chronicles for the newspaper Correio do
Povo, approaching a great variety of subjects: river pollution, predatory fishing and hunting,
riverside forests, deforestation, reforestation, indigenous lands, pollution, disordered
urbanization, and protected areas. The object of examination in the present dissertation
includes these chronicles, as documental sources of that time as they are, within the scope of a
historical context marked by strong modifications promoted by the impulse of the industrial
capitalism, which began during the Vargas era in the 30’s and continued in the 50’s
throughout Juscelino Kubitschek’s government. As its central objective, the dissertation
proposes to rebuild the genesis of educational practices and the environmental-guided
militancy in Rio Grande do Sul, with an emphasis in the journalistic source Correio do Povo,
between 1957 and 1963. From such historical reconstitution, it attempts to systematize the
many environmental problems recurrent in the state at the time; to detect and analyze the first
indications of environmental education in the state found in his chronicles; to investigate
possible conflicts between the emerging capitalist development in the 50’s and early 60’s and
environmental opinion-makers; to examine landscape changes provoked by the development
model in course at the time. To arrive at such objectives, the dissertation presents the
hypothesis that the journalistic chronicles written by Henrique Luiz Roessler, as well as his
environmental activism, constitute actions situated within the field of informal environmental
education, contemplating principles that are at the very basis of contemporaneous
environmental education. The dissertation – based on Roger Chartier’s concept of
representation and Paula Brügger’s and Marcos Reigota’s concept of environment as well as
on the methodology of historiographic writing and content analysis procedures – locates
Henrique Roessler’s work in the field of environmental education promoted both by his
weekly chronicles and his militant action in the União Protetora da Natureza (UPN), in
activities of control and enforcement, writing of educational pamphlets, and guidance in
churches, schools and the community. In this perspective, the dissertation, by rebuilding a
chapter in the environmental history of Rio Grande do Sul, takes the form of a pedagogical
subsidy that within the scope of Environmental Education can help the performance of
contemporary environmental educators