Abstract:
Como consequência de suas experiências históricas, a educação brasileira apresenta-se como um espaço fecundo de (re)produção de valores culturais eurocêntricos. Essa situação, ao desconsiderar as experiências históricas, sociais, culturais, políticas e pedagógicas das diversas nações africanas trazidas para o Brasil, acaba por auxiliar a produção de racismos epistemológicos. Nesse sentido, é importante refletir e discutir pressupostos educativos que vão para além dos modelos eurocêntricos que hegemonicamente balizam a educação e os modos de produção de conhecimento no Brasil. A presente dissertação de mestrado, construída a partir de dados produzidos por meio de entrevistas em profundidade e observações participantes, trouxe como questão central interrogar os processos pedagógicos vividos no terreiro de umbanda, acreditando que eles apresentam campos híbridos de construção de identidades e perspectivas epistemológicas que consideram os saberes advindos das ancestralidades africanas. Para tanto, partiu da crítica ao processo histórico de constituição do modelo pedagógico hegemônico instituído no sistema de ensino brasileiro, que teve sua origem nos movimentos de invasão europeia, na ideia de raça e no uso da força de trabalho escravo de seres humanos originários do continente africano e ao fazer isso, apoiou-se em uma perspectiva não eurocêntrica de compreensão do homem/mulher, da história e da natureza. Com isso, buscou produzir linhas de rompimentos com as análises hegemônicas evolucionistas e com o historicismo linear que disputam o pensamento pedagógico gaúcho e mais amplamente o brasileiro. Assim, buscou-se um repertório pedagógico que caminhou na direção de um conceito de ser humano que produziu história (neste caso, a ancestralidade), a partir de suas memórias, de seus saberes, de suas práticas e processos educacionais específicos desenhados no terreiro de umbanda localizado na cidade de Cidreira, litoral norte do Rio Grande do Sul, especificamente a partir da leitura de um de seus inúmeros rituais, o lava-pés ou limpeza de final de ano.
As a result of its historical background, the Brazilian education landscape appears as a breeding ground for the (re)production of Eurocentric cultural values. In this regard, by ignoring historical, social, cultural, political and pedagogical experiences of the many different African nations which were brought to Brazil, it ends up rendering assistance to the production of epistemological racisms. Hence, it is important to reflect upon and discuss educational presuppositions that go beyond the Eurocentric models which have built the basis of education and the modes of production of knowledge in Brazil.The present master thesis, which was built upon data produced through in-depth interviews and observatory participation has as its core issue the interrogation of pedagogical processes experienced in a temple of umbanda, on the assumption that they present hybrid fields of construction of identities and epistemological perspectives which take knowledge from African ancestries into account.In order to accomplish this, it began with the historic process of formation of the hegemonic pedagogical model of the Brazilian education system, which took off with the European invasions, in the idea of race and in the use of the slave labour of human beings originating from the African continent.In doing so, it draws on a non-Eurocentric perspective on man/woman, on history and nature.Therewith, it sought to create a rupture with hegemonic evolutionist analyses and linear historicism that vie for hegemony in Rio Grande do Sul and, on a larger scale, Brazils pedagogical thinking.In this regard, we pursued a pedagogical repertoire geared towards a specific human beings concept: a human being that generates history (in this case, ancestrality) from his memories, his knowledges, his specific educational practices and processes designed in an umbanda temple in Cidreira City, on the north coast of the state of Rio Grande do Sul, specifically from the understanding of one of its many rituals, the lava-pés or year-end cleaning.