Abstract:
A atual pesquisa apresenta um estudo de caso histórico referente ao movimento ambientalista denominado de “Celulose Não” ocorrido na cidade de Rio Grande - RS, no final dos anos 1980. Este fenômeno de insurgência foi responsável por impedir que uma fábrica de celulose fosse instalada no município, mesmo com todas as condições econômicas favoráveis à implementação do empreendimento. Tendo em vista esta aparente contradição, buscou-se compreender quais foram os elementos determinantes para que os ativistas do “Celulose Não” obtivessem sucesso em barrar a instauração da fábrica. Partindo da hipótese de pesquisa de que o sucesso do movimento residiu nas ações de educação ambiental promovidas pelo grupo, a pesquisa possui como objetivo principal entender quais os fundamentos e estratégias que fundamentaram as ações deste grupo. Para isso, foi necessário interrogar quem eram as diferentes organizações e sujeitos que estavam envolvidos neste conflito. Utilizou-se de uma extensa gama de fontes primárias para realizar esta pesquisa: periódicos jornalísticos; entrevistas com membros dos grupos pró e contra a instalação do complexo; documentos oficiais, como relatórios de impacto ambientais; e pareceres acadêmicos. Vistos os objetivos e o largo corpus de investigação, foi necessário um aprofundamento teórico dos conceitos da Ecologia Política, propostos pelo educador ambiental Enrique Leff e das perspectivas teórico metodológicas desenvolvidas pelo antropólogo Paul Little, principal expoente da etnografia dos conflitos ambientais, que estrutura esta pesquisa. A dissertação identifica que elementos do contexto histórico e geográfico foram fundamentais para o sucesso do movimento. Não obstante, o fator primordial para o êxito do “Celulose Não” consistiu na perícia dos ativistas na construção de estratégias de ação a partir das questões determinadas pela história e pelo lugar. Finalmente, a pesquisa apresenta sete estratégias e ações de resistência contra empreendimentos extrativistas e estabelece que a ocupação de espaços de poder e de diálogo são fundamentais para o campo da educação ambiental.
The current research presents an ethno-historical case study referring to the environmental movement called “Celulose Não” that occurred in the city of Rio Grande - RS, in the late 1980s. This insurgency phenomenon was responsible for preventing a cellulose factory from being installed in the municipality, even with all the economic conditions favorable to the implemen tation of the enterprise. In view of this apparent contradiction, we sought to understand what were the determining factors for the “Celulose Não” activists to succeed in blocking the estab lishment of the factory. Starting from the research hypothesis that the success of the movement resided in the environmental education actions promoted by the group, the research has as main objective to understand what are the foundations and strategies that founded the actions of this group. For that, it was necessary to ask who were the different organizations and subjects that were involved in this conflict. A wide range of primary sources was used to carry out this re search: journalistic journals; interviews with members of groups for and against the installation of the complex; official documents, such as environmental impact reports; and academic advice. In view of the objectives and the large research corpus, it was necessary to go deeper into the concepts of Political Ecology, proposed by environmental educator Enrique Leff and the theo retical and methodological perspectives developed by anthropologist Paul Little, the main ex ponent of the ethnography of environmental conflicts, which structures this search. The disser tation identifies which elements of the historical and geographical context were fundamental to the movement's success. Nevertheless, the main factor for the success of “Celulose Não” was the expertise of the activists in the construction of action strategies based on issues determined by history and place. Finally, the research presents seven strategies and actions of resistance against extractive enterprises and establishes that the occupation of spaces of power and dia logue are fundamental for the field of environmental education.