Abstract:
A partir deste trabalho o objetivo foi compreender como ocorrem os processos de transição para agricultura de base agroecológica entre agricultores (as) familiares da Organização de Controle Social Renascer de Morro Redondo (RS), considerando a rede de vivências, saberes, pessoas e instituições que compõem esse cenário em diálogo com a educação ambiental crítica em um espaço não formal. A pesquisa é qualitativa e a coleta de dados foi feita por meio de observação participante em nove reuniões da OCS, e entrevistas narrativas com cada família do grupo (FLICK, 2009). Os dados foram analisados através de análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Os resultados indicam a formação de uma rede comunitária constituída por pessoas, instituições e experiências, que contribuem para a permanência das famílias no processo de transição e pode ser compreendida como uma comunidade aprendente (BRANDÃO, 2005b). Quanto aos princípios, identificamos o compromisso social com a alimentação saudável e a relação ética de comercialização, além da busca por autonomia, emancipação social, conquistas coletivas e valorização. A relação das famílias com o ambiente indica um sentimento de pertencimento, responsabilidade e cuidado. Percebe-se que a construção de um saber ambiental (LEFF, 2015) é intrínseca ao processo de transição e envolve o exercício da práxis e a interrelação de saberes tradicionais, científicos e empíricos. Identificamos processos de aprendizagens coletivas nas dinâmicas da OCS, a exemplo da visita de pares, onde constroem um processo educativo e de valorização simbólica. A partir da leitura e preenchimento coletivo de documentos durante os encontros, o grupo exerceu a colaboração e autoavaliação de seus processos, assim como, a reflexão crítica sobre questões socioambientais locais. Dentre as questões socioambientais identificadas, as famílias apontam as dificuldades cotidianas relacionadas a baixa renda, assim como, o avanço da soja na região que, acompanhado de desmatamento e uso de agrotóxicos, constitui uma ameaça à integridade dos agroecossistemas de base agroecológica. Diante disso, as famílias buscam justiça ambiental, através de responsabilidade compartilhada sobre o ambiente e seus recursos (LOUREIRO; LAYRARGUES, 2013). Ademais, as famílias indicam a necessidade de uma política de subsídio para sua permanência no campo com qualidade de vida e percebem os impactos do desmantelamento de políticas públicas no seu cotidiano, como cortes orçamentários em mercados institucionais e na Emater. Compreendemos que os encontros da OCS Renascer constituem espaços não formais onde ocorrem discussões relacionadas com a educação ambiental crítica, através de um processo dialógico, que estimula o pensamento crítico e a criação coletiva de alternativas de enfrentamento das questões socioambientais (CARVALHO, 2012). A OCS em si também pode ser compreendida como uma comunidade aprendente (BRANDÃO, 2005b), na qual, através de um processo dialógico e reflexivo, aprendem e ensinam. Concluímos que a transição é um processo multidimensional de aprendizado contínuo, que dialoga com a educação ambiental crítica, no qual os sujeitos e os coletivos constroem compreensões sobre o socioambiente, criam princípios que orientam suas práticas cotidianas e buscam produzir um modo de viver que expresse suas crenças e valores, em busca de autonomia e transformação da própria realidade.
The objective of this work is to understand how the processes of transition to agroecological agriculture occur among family farmers of OCS Renascer in Morro Redondo (RS), considering the network of experiences, knowledge, people and institutions that make up this scenario in dialogue with critical environmental education in a non-formal space. The study is qualitative research and data were collected through participant observation at nine OCS meetings and narrative interviews with each family of the group (FLICK, 2009). Data were analyzed using content analysis (BARDIN, 2011). The results indicate the formation of a community network made up of people, institutions and experiences, which contribute to the permanence of families in the transition process and can be comprehended as a learning community (BRANDÃO, 2005b). Regarding the principles, we identified the social commitment to healthy food and the ethical relationship of commercialization, in addition to the search for autonomy, social emancipation, collective achievements, and appreciation. The relationship of the families with the environment indicates a feeling of belonging, responsibility and care. The construction of environmental knowledge (LEFF, 2015) is intrinsic to the transition process and involves the exercise of praxis and the interrelation of traditional, scientific and empirical knowledge. We identified collective learning processes in the OCS dynamics, such as the peer visit, where they build an educational process and symbolic appreciation. Through the collective reading and filling out of documents during the meetings, the group exercised collaboration and self-evaluation of their processes, as well as critical reflection on local socio environmental issues. Among the socio-environmental issues identified, the families point out the daily difficulties regarding low-income, as well as the advance of soy in the region, which, accompanied by deforestation and use of pesticides, constitutes a threat to the integrity of agroecological-based agroecosystems. In this context, families seek environmental justice, through shared responsibility over the environment and its resources (LOUREIRO; LAYRARGUES, 2013). Moreover, families indicate the need for a subsidy policy for their permanence in the countryside with quality of life, and also perceive the impacts of the dismantling of public policies in their daily lives, such as budget cuts in institutional markets and Emater. We understand that the meetings of the OCS Renascer constitute non-formal spaces where discussions related to critical environmental education occur, through a dialogical process, which stimulates critical thinking and the collective creation of alternatives to face socio-environmental issues (CARVALHO, 2012). The OCS itself can also be understood as a learning community (BRANDÃO, 2005b), in which, through a dialogical and reflective process, they learn and teach. We conclude that the transition is a multidimensional process of continuous learning, which dialogues with critical environmental education, in which subjects and collectives construct understandings about the socio-environment, create principles that guide their daily practices, and seek to produce a way of living that expresses their beliefs and values, in search of autonomy and transformation of their own reality.