Lições do Rio Grande: “a boa pedagogia” nos discursos sobre a produção de um currículo para a educação física escolar

Silva, Bruno de Oliveira e

Abstract:

 
Este estudo se localiza na linha de Pesquisa Educação Científica: Implicações das Práticas Científicas na Constituição dos Sujeito. E teve como objetivo descrever, problematizar e investigar os artefatos pedagógicos colocados em operação na produção do documento conhecido como ‘Lições do Rio Grande’, referencial curricular para as escolas estaduais do Rio Grande do Sul, em especial o componente curricular da Educação Física. O material foi produzido no âmbito da Secretaria de Estado da Educação entre os anos de 2008 e 2009. A investigação realizada apoiou-se nas teorizações pós-estruturalistas, utilizando termos analíticos da análise cultural, com contribuições da história oral na construção de dados empíricos (entrevistas). Dessa maneira, considero os Referenciais Curriculares do RS um artefato pedagógico que emerge de objetos resultantes das relações de poder-saber-sujeito, de ordem política, epistemológica, científica e pedagógica, tornado visível no regime de verdade de uma determinada política curricular, que em sua discursividade determina o conhecimento a ser desenvolvido/trabalhado no ambiente escolar. As Lições do Rio Grande estimulam e pautam um conjunto de técnicas de si e de denominação que objetivam organizar e administram a condução de condutas do professorado e permite governar a conduta dos alunos. É possível afirmar que o currículo por competências se associa a uma perspectiva de educação sintonizada, sobretudo, com os processos de inserção social e de controle dos conteúdos a serem ensinados e, por conseguinte, de controle do trabalho docente. Ao produzir os referenciais, o Governo estadual busca educar e moralizar para o exercício de uma certa cidadania, articulada com a formação de trabalhador adaptado, conformado e flexível. Algumas críticas a esse material se apoiam nas noções mais contemporâneas, avaliando que os referenciais não deixam espaço e tempo pedagógico para aspectos sócio-históricos em termos de formação do professorado, como a história pessoal, o contexto cultural e político de cada escola, ou ainda as características, os anseios e os desejos dos alunos. O fascículo que versa sobre a Educação Física deste documento é organizado a partir de competências e habilidades, princípios e temas estruturadores, que perpassam o tratamento crítico da cultura corporal do movimento. Tendo como base o Movimento Renovador, a praxiologia motriz e a citada lógica por competências (também dominante nas outras áreas), produz saberes que entendem a Educação Física como a sistematização das práticas corporais, compreendendo-as como produções culturais dinâmicas, diversificadas e contraditórias. O documento permite problematizações que questionam a rigidez desses saberes, que dificulta a produção de outros sentidos, significados e significantes, nas relações com os sujeitos. Por fim, cabe sinalizar que a discursividade acerca dos saberes da Educação Física, privilegiados nos referenciais curriculares, não partiu dos interesses, da história, do ambiente ou da comunidade escolar em questão, mais, sim, da justificativa de que esses saberes são hegemônicos na área há várias décadas.
 
This thesis is located in the line Education Scientific Research: Implications of the Scientific Practices in the Construction of Subject. And it had the objective to describe, discuss and analyze the pedagogical artifacts set in operation in the production of the document known as ‘Lessons of Rio Grande’, the curricul ar reference for state schools of Rio Grande do Sul , especially the curricular component of Physical Education. The material was produced under the State Department of Education between 2008 and 2009. The research was based on post - structuralist theories, using analytical terms of cultural analysis, with contributions of oral history in the construction of empirical data (interviews). Thus, we consider the Curricular Reference of RS a pedagogical artifact that emerges from the resulting objects of relations of power - knowledge - subject , from political, epistemological, scientific and educational order, made visible in the regime of truth of the curriculum, which in its discourse det ermines the knowledge being developed/worked in the school environment. The Lessons of Rio Grande stimulate and guide a number of techniques of self and of denomination that aim to organize and manage the conduction of teacher’s conduct and allow governing students’ conduct. It is possible to argue that the competence - based curriculum is associated with a perspective of education particularly in tune with the processes of social integration and control of the content to be taught, and therefore control of t eachers’ work. To produce the reference, the state government seeks to educate and moralize for the exercise of a certain kind of citizenship, articulated to the training of a adapted, shaped and flexible worker. Some criticisms to this material are based in the most contemporary notions, assessing that the references leave no pedagogical space and time to social - historical aspects in terms of teacher training, such as personal history, cultural and political context of each school , or aspirations and desires of students. The issue that concerns the Physical Education in this document is organized based in competences and skills, principles and structuring themes that pervade the critical treatment of body movement culture. Based on the Renewal Movement , t he motor praxiology and the cited logic of competences (also dominant in other areas), produces knowledge that understands Physical Education as the systematization of bodily practices, considering them as dynamic, diverse and contradictory cultural pro ductions. The document allows discussions that question the rigidity of such knowledge, with make difficult the production of other senses, meanings and signifiers in the relationship with subjects. Finally, we point that the discourse over the knowledge o f Physical Education, privileged in the curricular references , did not started from the interests, history, environment or the school community in question, but rather from the justification that this knowledge is hegemonic in the area for several decades.
 

Show full item record

 

Files in this item