Interações discursivas mediadas em movimento dialógico e dialético no ensino de Ciências

Abstract

Estudou-se a relação entre os movimentos de ensinar e de aprender ciências naturais no contexto da sala de aula de Ciências do Ensino Fundamental, com foco nas interações discursivas. Trata-se de pesquisa qualitativa, exploratória, do tipo pesquisa-ação segundo Carr e Kemmis (1988), desenvolvida em duas escolas municipais de Ensino Fundamental, partindo da premissa de que o trabalho pedagógico que fomenta a expressão dos estudantes é capaz de gerar movimentos de ensinar e aprender dialógicos e dialéticos, nos quais as interações verbais proporcionam formulações conceituais dos estudantes a partir das mediações da professora-pesquisadora. Tem-se por hipótese de pesquisa que através da escuta atenta das manifestações dos estudantes imersos em processos ativos de aprender é possível legitimar essas manifestações como potencializadoras de mediações operativas no processo pedagógico. Assim os movimentos que delineiam o caminho da pesquisa-ação são: partir de um fenômeno de interesse pedagógico-científico, acolher as ideias dos estudantes como ferramentas de cognição (palavras, conceitos e relações) e inserir mediações. Pretendeu-se demonstrar um modo de desenvolver o componente curricular de Ciências Naturais, superando o ensino instrucional, em favor de um ensino contextualizado, que considera as motivações dos estudantes na relação com as mediações docentes como possibilidades de aprender e ensinar. Move nossa práxis a questão de pesquisa: por que processos (como) as manifestações dos estudantes em sala de aula podem mobilizar mediações entre os movimentos de ensinar e aprender, para que a aprendizagem possa ocorrer dialógica e dialeticamente? O objetivo geral da pesquisa consistiu em reconhecer como ocorrem as relações de mediação em sala de aula e como se dá a construção conceitual dos estudantes imersos em processos ativos e mediados pelo ensinar e pelo aprender. A produção do material de análise (corpo empírico) deu-se através de filmagens e transcrição das aulas nas turmas em que a professora de Ciências constitui-se como professora-pesquisadora. A análise ocorreu segundo a teoria bakhtiniana das "interações discursivas", na qual a linguagem é fundamentalmente analisada como categoria fundante dos movimentos de ensinar e aprender, buscando responder à questão de pesquisa. Com esses movimentos, consideramos que estamos produzindo o currículo em ação, que resulta em elaboração conceitual, pelos estudantes, que ressignificam, dialogicamente, os fenômenos científicos em estudo, como apresentado nos capítulos IV e V. Estes trazem extensas discussões de resultados, que se evidenciam pelas "costuras teóricas" entre as construções conceituais discentes e os fundamentos teóricos do trabalho. Essas discussões apontam, demonstram e discutem as construções conceituais dos estudantes, na dialogia da aula, bem como suas ideias sobre ensinar e aprender e sobre a escola. As construções de conceitos científicos constituem-se analiticamente, na tessitura da pesquisa, mediante Temas de Enunciação, que prefiguram, conduzem e demonstram conceitos em relação, formados através das interações discursivas, pelas quais se exerce a mediação docente, utilizando conceitos e instrumentos, como meios mediacionais. A dialogia da aula é assim reproduzida/ refratada (BAKHTIN, 2003) analiticamente, pela interpretação da professora-pesquisadora, o que permite concluir, através da teorização da prática, em reciprocidade com a prática teorizada que a pesquisa-ação centrada na relação entre ensinar e aprender instaura o redirecionamento das ações curriculares, configurando a produção curricular guiada pelas manifestações dos estudantes imersos em processos interativos e mediados, e que esses processos, produzidos na ação, são potencialmente transformadores, tanto para o currículo, quanto para a aprendizagem discente e docente.

It is studied the relationship between the movements of teaching and learning natural sciences in the context of the classroom of Sciences of Elementary Education, focusing on discursive interactions. It is a qualitative, exploratory research of the type research-action according to Carr and Kemmis (1988), developed in two municipal schools of Basic Education, starting from the premise that the pedagogical work that foments the expression of the students is able to generate movements to teach and to learn dialogic and dialectic, in which the verbal interactions provide conceptual formulations of the students from the mediations of the teacher-researcher. It is a hypothesis of research that through attentive listening of the manifestations of the students immersed in active processes of learning, it is possible to legitimize these manifestations as potential of operative mediations in the pedagogical process. Thus, the movements that outline the path of action research are: starting from a phenomenon of pedagogical interest, welcoming students' ideas as tools of cognition (words, concepts and relations) and inserting teaching mediations. It is intended to demonstrate a way to develop the curricular component of Natural Sciences, surpassing instructional teaching, in favor of a contextualized teaching, which considers the motivations of students in relation to teacher mediations as possibilities of learning and teaching. It moves our praxis to the question: why processes (such as) the manifestations of students in the classroom can mobilize mediations between the movements of teaching and learning, so that learning can occur dialogically and dialectically? he general objective of the research is to recognize how mediation relations in the classroom occur and how the conceptual construction of students immersed in active and mediated processes through teaching and learning takes place. The production of the material of analysis (empirical body) occurred through filming and transcription of the classes in the classes in which the teacher of Sciences is constituted as professor-researcher. The analysis took place according to the Bakhtinian theory of "discursive interactions", in which language is fundamentally analyzed as a foundational category of the movements of teaching and learning, seeking to answer the main question of research. With these movements, we consider that we are producing the curriculum in action, which results in conceptual elaboration by the students, who reaffirm, dialogically, the scientific phenomena under study, as presented in Chapters IV and V. These bring extensive discussions of results, evidenced by the "theoretical seams" between the student conceptual constructs and the theoretical foundations of the work. These discussions point to, demonstrate and discuss the conceptual constructs of students in the classroom dialogue as well as their ideas about teaching and learning and about school. These constructions of scientific concepts constitute analytically, in the context of research, through Themes of Enunciation, which prefigure, lead and demonstrate concepts in relation, formed through the discursive interactions, through which teacher mediation is exercised, using concepts and instruments, as mediational means. The classroom dialogue is thus reproduced refracted (BAKHTIN, 2003) analytically, by the interpretation of the teacher-researcher, which allows to conclude, through the theorizing of practice, in reciprocity with the theorized practice that, point out that action research centered on the relationship between teaching and learning establishes the redirection of curricular actions, configuring curriculum production guided by the manifestations of students immersed in interactive and mediated processes, and that these processes, produced in action, are potentially transformative, both for the curriculum, and for student and teacher learning.